Álvaro de Moya sai de cena aos 87, com o eterno legado da TV Excelsior e uma vida dedicada às HQs
Tratado como o maior especialista em Histórias em Quadrinhos no Brasil, o professor Álvaro de Moya morreu nesta segunda-feira, 14 de agosto, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que o manteve internado desde o último dia 5. Nome que fez parte do time de pioneiros da televisão no Brasil, Moya esteve na equipe de inauguração da TV Bandeirantes e passou pela TV Cultura. Desenhou os letreiros de inauguração da TV Tupi, a primeira estação da América Latina. Mas vem da TV Excelsior, emissora que deixou o maior legado à televisão no Brasil, em boa parte por obra dele, o melhor saldo de sua biografia televisiva.
Perseguida pelo regime militar, a emissora dos Simonsens durou apenas dez anos (1960-1970), mas vem daquela gestão, com Moya na equipe de comando, os princípios que regeram os modelos profissionais criados para o veículo. Seus conceitos estruturais revolucionaram a maneira de se fazer TV e servem até hoje como referência artística e jurídica dessa indústria.
Foi na Excelsior que os profissionais da TV passaram a ter seu valor mensurado por contratos trabalhistas organizados, em substituição a cachês mal acordados e até a permutas que fugiam do controle do departamento comercial. Não era incomum que atores e escritores recebessem algum produto anunciado na tela, em vez de remuneração de fato. A organização promovida pela Excelsior, primeira emissora a promover um festival de música (1965), servindo de inspiração à Record, obrigou as concorrentes a se adequarem àqueles moldes, o que beneficiou a classe artística como um todo.
O histórico televisivo, no entanto, foi quase um coadjuvante na trajetória do Moya interessado em HQ. Foi ele um dos organizadores de uma das primeiras exposições internacionais já montadas sobre quadrinhos, em 1951, em São Paulo. A recepção da mostra na época ajudou a mudar a percepção das pessoas diante de HQs de Will Eisner, Milton Caniff, Hal Foster, Alex Raymond e Al Capp.
Lançou mais de uma dezena de títulos sobre HQ, como Shazam! (1970), História da História em Quadrinhos (1993), O Mundo de Walt Disney (1996), Anos 50 – 50 Anos (2001), Vapt Vupt (2002), Histórias em quadrinhos no Brasil (2003), Gloria in Excelsior (2004), O Tico-Tico 100 Anos – Centenário da Primeira Revista de Quadrinhos do Brasil (organizado por Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos (2006), A Reinvenção dos Quadrinhos (2012), Os Pioneiros no Estudo de Quadrinhos no Brasil, organizado por Waldomiro Vergueiro, Paulo Ramos e Nobu Chinen (2013) e Sketchbook Custom (2006).
Moya cerra cortinas no momento em que a editora Criativo lança Eisner / Moya – Memórias de Dois Grandes Nomes da Arte Sequencial, que celebra seus 70 anos de carreira. Seu acervo foi doado ao Centro Universitário Belas Artes, na Vila Mariana.
