Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Aguinaldo Silva faz revelações inéditas sobre sua biografia e grandes marcos da TV no ‘Persona em Foco’: é hoje

Aguinaldo Silva: "O segredo do sucesso é você se matar"

Quando “Roque Santeiro”, um dos 5 maiores sucessos de toda a história da TV brasileira, entrou no ar, quem comandava o scritp baseado na peça “O Berço do Herói”, de Dias Gomes, era Aguinaldo Silva.

O autor do original foi passar uma longa temporada na Europa. Ao saber do grande sucesso que Porcina, Sinhozinho e Roque faziam por aqui, Dias voltou para o Brasil e pediu à direção da Globo para reassumir sua história, que, àquela altura, já nem era mais sua, dada a grande transformação que o número de capítulos de um folhetim opera em uma peça teatral. Para não dizer que a base era só a peça, havia alguns capítulos feitos por Dias dez anos antes, em 75, quando Porcina teria sido Betty Faria e Roque, Francisco Cuoco, caso a Censura Federal não tivesse vetado sua exibição, pela mesma Globo.

Consultado pelo comando da emissora sobre a vontade de Dias, Aguinaldo ouviu dos chefes a seguinte sugestão: “diga à imprensa que você convidou o Dias para fazer os últimos capítulos e ele aceitou”. “Nem morta”, respondeu o autor. “Eu achava que se eu aceitasse aquilo eu seria um eterno colaborador e jamais seria um autor do time dos titulares”, completou.

Essa é uma das grandes histórias que Aguinaldo, autor que mais acumula audiência em novelas no Brasil, conta no programa “Persona em Foco”, que a TV Cultura leva ao ar nesta quarta, às 23h, com apresentação de Atílio Bari. Os entrevistadores da vez são os jornalistas José Armando Vanucci e Cristina Padiglione, que aqui vos fala.

Aguinaldo passou anos sem falar com Dias e todos na Globo conheciam a rixa entre os dois. Em uma reunião de autores da casa, hora do intervalo, Aguinaldo foi pegar um café na mesa de coffe break, e viu que, ao seu lado, havia apenas Dias Gomes. Os colegas, todos, estavam enfileirados na parede ao fundo, atrás deles, impávidos e prontos para assistir àquela cena que avizinhava os dois inimigos  em tão curta distância. “Quando eu olhei pra trás tinha uma fileira de cadáveres. E então o Dias me pergunta: ‘açúcar ou adoçante?’ Eu respondi: ‘adoçante’. E assim foi que voltamos a nos olhar. Pouco tempo depois, ele morreu.”

O escritor revela ainda que quando escrevia “Pedra Sobre Pedra” (1992) e já se sabia do câncer de Armando Bogus, o diretor Paulo Ubiratan lhe pediu que poupasse o ator de árduos expedientes de gravação. Ao notar que o trabalho diminuíra, Bogus o procurou e pediu que não fosse poupado, pois sabia que aquele seria seu último papel e não queria fazer pouco. Veio daí a ideia de transformar o asqueroso Cândido Alegria em estátua, no último capítulo, já com alguns bons recursos de computação gráfica. “Ele foi eternizado numa escultura”, lembra Aguinaldo.

Bom contador de histórias, Aguinaldo se lembra de seu início, no Recife, e de seu primeiro encontro com Clarice Lispector, numa livraria, no Rio, ainda aos 16 anos, quando o mandaram buscar em Pernambuco para o lançamento de seu primeiro livro. “Menino, tem certeza que a sua alma não é de menina?”, ela lhe perguntou, apenas ao olhá-lo por um instante. Comenta sobre o legado que o trabalho de repórter policial lhe deixou para o repertório de novelas e fala sobre o desejo de escrever mais séries.

Aguinaldo evitou falar de “O Sétimo Guardião”, sua próxima novela na Globo, programada para o segundo semestre de 2018, na faixa das 21h, até porque a história já foi bastante comentada, em razão da ameaça judicial de um ex-aluno de seus cursos que reivindicava coautoria no projeto.

Entre os depoimentos gravados para homenageá-lo na ocasião, aliás, Lilia Cabral diz que está sempre pronta para suas novelas e que aguarda ansiosamente por “O Sétimo Guardião”. Ela está escalada para ser uma rica falida que verá em um possível casamento do filho sua tábua de salvação financeira.

No momento, o autor vê com satisfação a mais uma reprise de “Senhora do Destino”, no “Vale a Pena Ver de Novo”, de novo rendendo índices de audiência maiores que algumas das produções inéditas da Globo, e à gloriosa reprise de “Tieta”, maior sucesso da história da faixa horária em que vai ao ar, pelo Canal Viva. Celebra também a adaptação para o teatro, por Júlio Kadetti, discípulo e ex-aluno seu, do livro sobre Lili Carabina, personagem nascida nos idos do “Plantão de Polícia”, seu primeiro trabalho para a TV, o que agora lhe permite comemorar 40 anos como roteirista de televisão. A peça está em cartaz no Teatro Jaraguá, com Viviane Araújo no papel título.

“Persona em Foco” tem exibição nesta quarta, pela tela da Cultura, e reprise no domingo, às 23h.

Aqui, um teaser como chamada da Cultura:

 

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione