Lima Duarte está de volta: ‘A internet, Netflix, Globo Play acabaram com a televisão’
Batizado como Josafá em “O Outro Lado do Paraíso”, próxima novela das 9 da Globo, Lima Duarte volta a contracenar com a amiga Fernanda Montenegro, dita Mercedes na história de Walcyr Carrasco. Os dois são grandes amigos e viveram um belo romance no passado. E como estará também ao lado de Laura Cardoso e Juca de Oliveira na trama que estreia segunda, dia 23, o ator sugere que o enredo deveria se chamar “300 anos de amor”.
Veterano que presenciou a inauguração da primeira TV da América Latina, a Tupi, do amigo Assis Chateaubriand, Lima não se acanha em dizer que o rádio que ele conheceu “acabou”, assim como a TV, dizimada pela “internet, Netflix e Globo Play”, plataforma de streaming da Globo, com conteúdo exclusivo para assinantes.
O jornalista André Romano relata ao TelePadi a conversa que teve com Lima durante o lançamento da novela para a imprensa, no Rio. Aí vão dois dedos de (boa) prosa:
O que o senhor pode adiantar do personagem?
Lima Duarte – “Ele aprendeu a amar com as montanhas, lagos e rios. Dizem que onde ele pisa está cheio de diamantes e ouro, mas ele não procura isso. Ele viveu a vida dele longe, e nesse longe está o primeiro amor, que é a Mercedes (Fernanda Montenegro). Os dois procuram no longe encontrar um ao outro, e amarem-se ainda, sem a manifestação imediata do amor, que é transar. Se eles não têm isso, ficou o quê? O amor.”
Como o senhor trata isso na vida pessoal?
LD – “Na vida pessoal eu sou um solitário, vivo sozinho e só penso nos personagens. Tenho um porção de filhos e netos na Austrália, e agora que descobri o celular, fico vendo as fotos deles.”
E como o senhor lida com as redes sociais?
LD – “Eu não tenho nada disso. Só recebo fotos, um monte de besteira, a respeito de mim, a respeito do mundo, a respeito de tudo. Só essas fotos aqui me bastam. Eu assisti ao início do rádio e ao fim do rádio.
O senhor acha que o rádio acabou?
LD – Virou outra coisa. O horário nobre agora é às 9 da manhã. O meu rádio acabou, do Ary Barroso, Almirante, esse acabou. A televisão como era antes também acabou. A internet, Netflix, Globo Play acabaram com a televisão. Agora sobre o começo da internet que estou assistindo agora, não contem comigo (risos). É isso!
O seu passado é uma referência muito forte, não?
LD – Outro dia eu estava gravando, e chegaram para mim dizendo: ‘Grava aí porque depois temos que derrubar esse cenário’. Era o cenário do meu personagem. Gravei várias cenas, tinha uma televisão entre os objetos, era dia 18 de setembro, e me lembrei que nesse mesmo dia, em 1950, foi ao ar a primeira transmissão de televisão da América Latina, a TV Tupi de São Paulo, e eu estava lá. Quando contei isso, ninguém falou um ‘A’. Todos morreram, Hebe Camargo, Vida Alves, Walter Foster, só eu estou vivo e estou aqui ainda enfrentando mais um personagem. O espectador me tem como um velho amigo que vem contar piada. Num momento tão difícil como vive o país, o telespectador vai olhar para mim e dizer: ‘Olha esse aí, lá vem falar aquelas besteiras dele’. Eu gosto.
O público lembra muito dos seus personagens antigos?
LD – Lembra demais. Eles lembram muito do Sinhozinho Malta, do Afonso Lambertini, de ‘Da Cor do Pecado’. Eu continuo querendo melão (risos). (A lembrança é uma referência a ”
O Senhor continua morando em São Paulo?
LD – “Agora eu moro num sítio no interior de São Paulo. Eu tinha um apartamento no Vidigal, vendi, comprei uma casa na Urca, e trabalho aqui há 46 anos. Fico me dividindo entre os lugares. Gravei ontem o dia inteiro, e vou embora daqui a pouco para o interior de São Paulo.”
Como foram as gravações no Jalapão?
LD – Lá é bonito demais, mas faz 49 graus (risos). Você já viu as chamadas? Isso vai ser bem interessante, porque a novela que está no ar já é um sucesso, escrita pela Glória Perez. Da Glória Perez, eu fiz ‘Caminho das Índias’, junto com a Laura Cardoso, que inclusive está aqui em ‘O Outro Lado do Paraíso’ também. Com Laura Cardoso, Fernanda Montenegro e eu, em vez de chamar ‘O Outro Lado do Paraíso’, deveria se chamar ‘300 anos de amor’.