Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Sem empatia com público, Waack já inspirava piadas na tela da Globo

Leandro Hassum é desafiado a fazer Waack rir, no 'Adnight': 'mas ele estava disposto, né, no dia em que tiraram essa foto, né?', pergunta o humorista

A gente já deveria ter desconfiado que a imagem do William Waack na Globo não ia bem desde que o Marcelo Adnet começou a desafiar os convidados de seu ‘‘Adnight”, ainda no ano passado, a fazer o William Waack rir, em um dos games do programa.

Mas o currículo, estofado, e o repertório, preparadíssimo para abordar questões políticas de cunho nacional e internacional, justificavam sua presença à frente do noticiário. Quando chegou àquela bancada, 12 anos atrás, a direção da Globo lhe deu a companhia de Christiane Pelajo, na tentativa de equilibrar o retrato. Em 2015, no entanto, a relação entre os dois ruiu e a chefia a tirou da bancada, oferecendo a ela, em troca, uma faixa de noticiário na GloboNews.

Mas quem substituiria a Pelajo? Waack resistia em dividir o vídeo com uma nova parceria.

Durante a Olimpíada, irritou-se com a abordagem da repórter Cris Dias, que disse, no ar: “agora finalmente ele vai me deixar falar. Vamos falar sobre o vôlei?” “Você quer falar sobre o vôlei? Vamos, vamos falar sobre o vôlei”, ele respondeu. “Você quer continuar?”, ela interveio.

Um vídeo ainda mais antigo mostra Waack chamando a repórter Zelda Mello de “Zelda Merda”, no que seria, aparentemente, só um acidente.

De trato difícil, áspero e apontado como arrogante, ele não despertava simpatia entre seus pares, e menos ainda  entre os subalternos – muito ao contrário. Por isso, causou mais estranheza aos colegas o vazamento tardio do vídeo em que ele é acusado de racista, do que o conteúdo do vídeo em si. A pergunta é: por que só agora essa imagem vem à tona? Quem teria interesse em veicular essa cena, a essa altura?

O caso se torna público em um momento em que muitos já defendiam sua saída do noticiário, sem mais esperança de reverter a grande rejeição de que desfruta junto à audiência.

A atitude de Waack de fato não encontra eco numa chefia personificada na figura de Ali Kamel, autor do livro “Não somos racistas”. Mais que isso, a falta de empatia com o público vai na linha contrária às novas políticas da Globo, não só preocupada com um mundo que precisa parecer bem no HD (e certamente nos bastidores ainda finge desconhecer muitos tropeços), mas protagonizadas por uma nova geração de Marinhos.

Na novela das 9, “O Outro lado do Paraíso”, é a jovem garota (Laura/Luísa Bastos) quem repreende o discurso racista da mãe, Lorena, personagem de Sandra Corveloni. Na vida real do império Globo, também são os mais novos que têm brecado qualquer tolerância a maus comportamentos – e se forem maus comportamentos desfilados em público, com flagrante, tanto mais fácil de silenciá-los.

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Cristina Padiglione

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