O traço e a grafia que fazem “Vivi Viravento”, animação nacional que estreia neste sábado, às 8h15, no Discovery Kids, são qualquer coisa de encantar pais e filhos, como manda a praxe do canal. Mas a narração de Alice Crisci para a protagonista é capaz de fazer até os mais desavisados voltarem a atenção para a tela. Com ritmo e entonação próprias de alguém muito curioso, a interpretação da voz original da personagem (*) traduz na medida certa a ingenuidade da menina que vê em cada aventura conquistada uma possibilidade de chegar a um lugar mágico que ela chama de “Viravento”.
Vivi é acompanhada por dois amigos: Mochilão, a mochila que se transforma em um bicho-preguiça amarelo e que tem vasto conhecimento sobre qualquer assunto, e Lanterninha, uma lanterna comum que vira um esquilo cheio de energia.
A cada episódio, a menina conhece um novo lugar, faz amigos, aprende sobre o mundo e sobre si – vencer o medo de altura e lidar com a bagunça que ela mesma fez. No primeiro episódio, em excursão pelo Quênia, ela fica amiga de um rinoceronte.
Planejada há pelo menos oito anos, a animação tem criação e supervisão artística de Alê Abreu, diretor do belo “O Menino e o Mundo”, filme indicado ao Oscar de Animação em 2016. A produção é da Mixer, com apoio de leis de incentivo, em parceria com a Discovery Kids e a TV Cultura, onde estreará só em 2018. Na direção está Priscilla Kellen, mulher de Alê, e a direção artística é assinada por João Daniel Tikohmiroff, da Mixer.
Vivi, conta Alê ao TelePadi, era originalmente menino, “mas a irmã pequena de minha mulher viu o projeto e disse: ‘tem que ser uma menina’. Achei que ela tinha razão e mudei na hora”, fala.
“Logo em seguida”, continua, “a TV Cultura lançou o edital do AnimaTV e, já com a Mixer como parceira e produtora, inscrevemos o projeto. Estamos falando de 2009. Ganhamos o edital e fizemos o piloto. Então o projeto entrou em captação de recursos entre 2010 e 2015 quando começamos a produção, já com direção da Priscilla Kellen e toda a equipe da Mixer. Trabalhei como supervisor artístico. Refiz o design dos personagens e repensamos o conceito da série.”
Ao longo da produção do piloto, Alê carregava um diário da Vivi, fazendo anotações de suas viagens a partir do olhar dela. “Este exercício me ajudou muito a pensar a personagem.”
Diferente de muitas das animações que povoam os canais infantis, “Vivi” não tem dublagem carioca. Fui obrigada a reparar nisso, dada minha experiência no ramo – meu filho mesmo tinha um leve acento carioca, na primeira infância, o que foi diagnosticado como influência da TV. Segundo o diretor João Daniel Tikohmiroff, o acento é casual. “Testamos várias dubladoras em São Paulo porque toda a logística da produção estava aqui, não foi uma busca por um sotaque específico, mas a Mixer já produziu outras animações e elas normalmente são feitas em São Paulo”, justifica o sócio da produtora.
Tikohmiroff faz questão de ressaltar o protagonismo feminino da série, sob direção também de uma mulher. “Tenho orgulho de termos tantas produções com mulheres à frente e por trás das câmeras, e a Mixer faz isso há tempos, bem antes de ‘virar moda’, digamos assim.”
De 2009, quando Vivi começou a ser pensada, para cá, poucas áreas tiveram uma evolução tão consistente no Brasil como a produção audiovisual de animação, uma conquista que se escancarou de modo triunfal para o público justamente diante da indicação de “O Menino e O Mundo” para o Oscar de Melhor Filme de Animação em 2016. O título foi ainda vencedor do prêmio máximo de júri oficial e júri popular do Festival de Annecy, na França, tratado como “Cannes da Animação”, em 2014.
“De fato a animação brasileira vive um momento muito especial. São dezenas de projetos em produção, longas e séries, e exportados para o mundo todo. Tanto que Annecy, o maior festival de animação do mundo, já reconhece o feito e vai homenagear o país no próximo ano. Pra mim tudo isso é claramente o resultado das políticas públicas dos últimos 20 anos”, acredita Alê.
Por enquanto, “Vivi Viravento” vai ao ar apenas aos fins de semana, no Discovery Kids, às 8h15. Esta primeira temporada é feita de 26 episódios de 11 minutos cada.
(*) Eu havia chamado de “dublagem”, em meu primeiro texto, o belo trabalho da menina Alice Crisci, no que fui corrigida, com razão, pela diretora de voz da série, Melissa Garcia, para o equívoco do termo: “Ela não é a DUBLADORA da Vivi. A dublagem é o processo de troca de idioma de um produto, uma dubladora imita o trabalho da artista de voz original. A Alice é a VOZ ORIGINAL da Vivi, não imitou o jeito de nenhuma outra atriz falar. Ela criou a performance do zero. Por isso é tão verdadeira na sua atuação, por poder ser ela mesma enquanto gravava”.
Tem razão, a Melissa, e me desculpo pelo erro, fazendo aqui a devida correção, o que faço questão de expor, até para evitar o uso indevido do termo em outras ocasiões.
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