Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Núcleo de Eriberto Leão é um dos pontos altos de ‘O Outro Lado do Paraíso’

Eriberto Leão, Ana Lúcia Torre e Ellen Rocche: trio afinado e humor quase britânico em 'O Outro lado do Paraíso'

Enquanto Sofia (Marieta Severo) vai ensaiando lições de Nazaré Tedesco (Renata Sorrah em “Senhora do Destino”), para matar pessoas a tesouradas, enquanto Clara (Bianca Bin) busca sua vingança ao modo “O Conde de Monte Cristo” e Duda (Glória Pires) honra o enredo do filme “Madame X” (1966), personagens paralelos de “O Outro Lado Paraíso” vêm dando boas cores ao folhetim assinado por Walcyr Carrasco. Particularmente, tenho adorado as cenas com Fábio Lago como o cabeleireiro Nick, as loucuras da segregadora Nádia (Eliane Giardini) e o tom do homofóbico gay Samuel, personagem de Eriberto Leão.

Não remete à comédia, muito pelo contrário, a situação de alguém que quer se relacionar com homem, mas acaba casando com mulher, sem coragem de assumir sua orientação sexual. É triste. Cada vez menos, ainda bem, vemos no dia a dia da vida real gente que é infeliz por ser mal resolvida sexualmente, atazanando a vida de todos a sua volta.

Mas, fugindo da condição dramática implicada por situação como essa, a novela conseguiu encontrar um tom bastante leve para expressar a história do médico psiquiatra Samuel. Os diálogos que envolvem Eriberto, Ana Lúcia Torre (a mãe do gay) e Ellen Rocche (Suzy, a mulher com quem ele se casou) têm superado o restante do script da novela.

Sobra sintonia entre os três e, fora o fetiche tolinho das lingeries que ele veste, o tom cômico é alcançado sem gestos histriônicos, sem pastelão, beirando o humor britânico, que dispensa gritaria e tortas na cara para fazer rir só pelo texto e a sutileza de sua interpretação.

No início deste 2018, Samuel será brindado com o flagrante da mãe, que verá o filho trajando lingeries na cama com Cido (Rafael Zulu). Será libertador para o personagem. A mãe, seu maior motivo de receio, evidentemente vai apoiar o novo par, e mesmo assim terá o neto que tanto queria: Suzy, recém-trocada por Zulu, se descobrirá finalmente grávida.

Oxalá essa situação não resvale para a comédia histérica. Não há necessidade de claque para fazer o público se divertir com o que poderia ser trágico e tem sido bem dosado, o que só conspira a favor da boa compreensão sobre os males causados por alguém sexualmente enrustido. Com a comédia leve e algum sarcasmo, a plateia assimila tudo de modo mais fácil. Apelar para a caricatura seria um risco ao debate sobre a sexualidade reprimida.

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Cristina Padiglione

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