Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Ao revelar o próprio câncer, Ana Maria Braga inibe indústria da fofoca

A apresentadora durante o anúncio da doença nesta segunda-feira (27), ao vivo/Reprodução

Ana Maria Braga anunciou nesta segunda-feira (27), ao vivo, no Mais Você, que enfrenta mais uma vez um câncer de pulmão, agora mais agressivo que os dois anteriores e não passível de cirurgia ou quimioterapia. No último dia 24, ela realizou o primeiro ciclo de tratamento, como ela mesmo disse, que constitui em imunoterapia e quimioterapia

“Descobri esse novo câncer no começo do ano, eu já estava sabendo disso há algum tempo”, disse ela, ao lado do parceiro Louro José. A apresentadora estava aguardando informações mais precisas sobre o tratamento para vir a público falar sobre o assunto, e contou, para tanto, com a discrição de médico e equipe de confiança, com absoluto controle sobre o momento de abordar o caso, sem que o fato vazasse por meios que não fossem os seus.

“Eu não sabia se eu ia conseguir chegar aqui hoje porque, normalmente, quando se faz quimioterapia com imunoterapia, o cabelo não vai cair porque a quimioterapia já evoluiu bastante, mas  tem sintomas. Quem já fez ou conviveu com alguém que fez imunoterapia sabe: tem dias que você fica mais sensível”. Até para justificar uma eventual ausência, nesse período, explicou, era preciso se abrir para o público.

Poucas celebridades de grande popularidade, caso de Ana Maria, conseguem ter controle sobre as informações a respeito de sua vida, e nesse ponto, além da própria performance dela diante das câmeras no dia a dia, é preciso reconhecer a grande comunicadora que é. Profissional que se criou no universo da comunicação bem antes de botar a face na tela, ela entende como poucos os efeitos e estratégias do ramo nos bastidores da fama.

Pode até contar com o auxílio de assessores, mas, a essa altura, sabe bem como lidar com temas delicados e, quando aconselhada por outros profissionais, consegue compreender o que funciona ou não.

Acima de tudo isso, está a premissa de ser verdadeira e transparente, como bem disse Fátima Bernardes na sequência. Sabemos quando ela está namorando e com quem porque ela mesma costuma avisar. Sabemos quando está doente e qual é o diagnóstico porque ouvimos da sua boca, e sabemos para onde e com quem viajou porque o Instagram vai registrando seus passos. Na era pré-redes sociais, a revista Caras e seus genéricos faziam esse papel, com o consentimento dela. Ao consentir e posar, freava o trabalho dos paparazzi e o valor de fotos de flagrantes.

Não é que Ana Maria, 70 anos feitos, quase 71, seja aquela figura discreta como Chico Buarque, ao contrário. Está tudo estampado em canais públicos para que o público saiba sobre ela, mas saiba apenas o que ela quer que saiba. O autocontrole sobre sua vida é um raro caso de sucesso nesse métier, mas, basicamente porque ela segue a premissa de ser verdadeira no que apresenta. Se há um território de sombra, necessário a quem deve se preservar de tantos olhares, ele ficará na gaveta dela, com improvável alcance da indústria da fofoca, justamente porque ela já alimentou essa faminta fábrica de produzir notícias íntimas de famosos.

Ana Maria se expõe como melhor forma de se preservar. E faz isso como poucos.

 

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Cristina Padiglione

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