Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Apocalipse’ tem valor, mas TV sob demanda da Record inibe audiência

Família feliz, no melhor estilo de comercial de margarina, tem férias interrompidas por tsunami de bons efeitos especiais no 1º capítulo. foto de Munir Chatack/Divulgação

A Record TV vive ainda na era da televisão linear. Perdeu o primeiro capítulo da superprodução da vez? Que pena, já era. Com sorte, algum link pirata poderá satisfazer sua curiosidade. A Globo abre capítulo inicial para todos os mortais. A HBO abre “Game of Thrones” para todos, a Netflix compra horário em TV aberta para promover a degustação de uma nova série ou temporada. Mas novela da Record não tem disso, não, é produto muito exclusivo.

“Apocalipse” parece interessante, sim, e tem lá o seu valor. Contrariando as piadinhas das redes sociais, os efeitos especiais foram realizados com competência e, ao que tudo indica, Vivian Oliveira de novo mostrará que sabe conduzir um enredo para cativar a massa.

Como primeiro capítulo que visa capturar a plateia, tudo é uma sucessão de clichês: a família feliz que antecede a tragédia do tsunami, o rapaz estudioso que se preocupa com as desigualdades sociais, a menina criada sob as fortes tradições judaicas que quer se libertar daquele rigor, e mais não consegui ver, porque o vídeo pirata que consegui acessar, no YouTube, foi imediatamente suspenso pela Record TV.

Não consegui assistir à estreia em tempo real. Imaginei que poderia acessar o capítulo no serviço de vídeo sob demanda da Record. Não sou assinante, mas, em geral, capítulo de estreia sempre está disponível para todos os mortais, dada a sua relevância na estratégia de cativar o público que se pretende arrebatar para os episódios a seguir.

A Record, que tanto brada pelo caminho da liderança, está bem atrasada no que diz respeito a estratégias para agarrar a audiência. Isso põe a perder um público que perdeu a estreia e que talvez, vendo os episódios iniciais, pudesse se interessar pelo que virá a seguir.

Resumo da ópera, e resumo este que a Globo demorou a compreender e tem se esforçado em recuperar: a ausência de um capítulo de estreia aberto na internet só traz prejuízos ao próprio canal e não garante, em hipótese alguma, que a gente desmarque todos os compromissos ou salte os acidentes de agenda para não mais perder os lançamentos na Record. A Globo acreditou nisso por anos a fio, até que alguém despertou a direção para os novos tempos.

No mais, é bom lembrar que a Record está numa boa brecha para emplacar sua nova produção. O público da novela das nove da Globo anda ainda na ressaca do grande sucesso que foi “A Força do Querer” e não simpatizou tanto assim com a atual, “O Outro Lado do Paraíso”. A hora de seduzir o espectador é essa. Mas não custa, pelo amor ao fim dos tempos, disponibilizar alguma coisa na internet, nem que seja só a título de degustação.

Em São Paulo, a média de audiência foi de 13 pontos, segundo dados da Kantar IBOPE Media (cada ponto equivale a 70,5 mil domicílios na região)

 

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Cristina Padiglione

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