Apoiada em bons índices, Globo lança campanha para valorizar o jornalismo
Saber que a hidroxicloroquina apresenta efeitos colaterais que podem até matar o paciente é diferente de ouvir alguém dizer que se tratou de Covid-19 com o remédio e sobreviveu. Sim. Muita gente, milhões, sobreviveram a acidentes de trânsito sem cinto de segurança, mas milhões morreram, em vão, antes do uso obrigatório de cinto.
A distância entre ciência/estatísticas e experiências pessoais é um dos pontos que diferencia o diz-que-me-diz das redes sociais daquilo que o leitor ou espectador encontra no jornalismo profissional que se pretende minimamente isento em relação à ciência.(*)
A Globo lançou no Fantástico deste domingo (9) uma campanha que ressalta a valorização do jornalismo nesses tempos em que notícia falsa pode custar vidas. Em meio a uma pandemia, quem vende placebo como milagre não pode ser confundido com quem segue orientações científicas, principalmente em um país onde o presidente da República, a quem caberia orientar seu povo, trata um vírus letal como “gripezinha” e se exime de responsabilidade por não ser coveiro.
Entre as redes de televisão brasileiras, infelizmente, a Globo tem sido voz quase solitária no alerta necessário à contaminação da Covid-19.
A campanha da Globo ressalta que em tempos de extrema incerteza, o jornalismo profissional tem sido a arma mais eficaz no combate ao vírus e às desinformações alimentadas em torno da pandemia.
Na contramão da gritaria alimentada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, a Globo ganhou mais audiência que qualquer outro canal e a certeza de que o jornalismo conduz esse crescimento é endossada pela liderança inédita da GloboNews na TV paga. O canal se manteve em 1º lugar em alguns desses meses e subiu para a vice-liderança no PNT (Painel Nacional de TV) na média de 2020 -no ano passado, a GloboNews ficou em 7º lugar, empatada com a Discovery.
Os filmes institucionais da Globo ressaltam que o jornalista do grupo Globo sai de casa, durante a pandemia, para buscar informações, balizando um noticiário que conta com as parcerias dos jornais O Globo e Valor, da rádio CBN e do portal G1.
Ao todo, serão quatro filmes, vinhetas e peças digitais espalhados pelos intervalos da Globo e de seus canais por assinatura, redes sociais, portal, jornais e rádio.
(*) Alguns leitores manifestaram revolta em comentários para este post em redes sociais (no caso do Twitter, rede antissocial) por eu supostamente atribuir isenção ao jornalismo da Globo. Então acrescentei ali o termo “ciência”, especificamente, doze horas após o texto original. Não o faço para alimentar os adversários do jornalismo profissional, apenas, mas em benefício de todo o esforço que milhões de brasileiros têm feito neste momento pela retomada de suas vidas.
Todo editor e jornalista, por mais correto que seja, tem de se policiar permanentemente e se perguntar se a sua abordagem sobre determinado assunto contempla o interesse público. Nem sempre os melhores profissionais acertam, e os melhores mesmo sabem fazer essa autoavaliação permanentemente e reconhecer exageros ou omissões.
Não disse que a Globo seja isenta o tempo todo, suas escolhas editoriais podem tropeçar em preferências ou repulsas a determinados pontos de vista. Mas escolha editorial e opinião é uma coisa, negacionismo é bem outra. Fake news não é aquilo com que não se concorda, é o que simplesmente não é verdade.
Contra a ciência, não há o que tergiversar, e a Globo não tem ignorado isso, como tem ocorrido em outros canais. O negacionismo vigente em redes sociais, alimentado inclusive por aliados do presidente, tem sido assimilado e nulamente combatido por outras emissoras de TV, não pela Globo, não pelos maiores jornais e revistas do país, onde a responsabilidade sobre números e cenários é levada à risca.
Quando se tem um presidente minimizando a tragédia, é preciso que essa reação seja ainda mais forte, para que não tenhamos uma pandemia biológico e outra de desinformação, soma que tem feito boa parte do estrago que se tornou nossa malsucedida quarentena.
Quanto aos que reclamam que a Globo mal dá atenção às vítimas que se recuperam, é preciso lembrar que uma guerra sempre terá seu prejuízo medido pelo número de vidas perdidas. Ninguém pergunta, ao fim de um conflito ou de um atentado, quantas pessoas sobreviveram, mas quantos morreram, e é pelos mortos que choramos e pelas famílias enlutadas que nos solidarizamos.
O resto é só falta de empatia.