Atenta à diversidade, TV Cultura lança programa feito por mulheres negras
Com apresentação da jornalista e empreendedora Cris Guterres, a TV Cultura põe no ar nesta sexta-feira (9), às 22h, o programa “Estação Livre”. Guterres foi considerada pela revista Forbes uma das criadoras de conteúdo mais inovadoras de 2020.
Feito por uma maioria de mulheres pretas, o jornalístico pretende valorizar a cultura negra, a rica diversidade do Brasil e convidar a sociedade a repensar e ajudar a reconstruir um país que reduza as grandes distâncias entre cores e condições de vida.
“Num momento como esse vivido pelo Brasil, em que os extremos ser acirram e acabam se sobrepondo ao bom senso, a TV Cultura, como uma emissora pública, tem a obrigação de propor programas como o ‘Estação Livre’: um espaço de conteúdo onde a diversidade, a inclusão e as ações da sociedade civil se encontram e se fazem representar por quem realmente importa, o povo brasileiro”, afirma Eneas Carlos Pereira, diretor de Programação da emissora.
Ali estarão histórias, lutas e conquistas de pessoas que encontraram seus espaços e se tornaram referência no Brasil e no mundo, e também de quem apoia a diversidade em um país plural como o Brasil.
O programa mira pessoas de cores, gêneros, áreas de atuação e profissões distintos que fazem a diferença e valorizam a cultura black.
O “Estação Livre” fecha a faixa das 22h proposta pela Cultura em sua nova grade, de terça a sexta-feira, onde já estavam o “#Provoca”, o “Manhattan Connection” e o “Linhas Cruzadas”. Na segunda, o “Roda Viva” toma o espaço das 22h até as 23h30.
A televisão, em especial a Globo e a Cultura, têm se esforçado para preencher uma lacuna que grita da tela por não refletir a sociedade brasileira, composta por 54% de pessoas pretas e pardas. No caso da faixa dos jornalísticos da Cultura às 22h, teremos quatro de cinco dias úteis de um mesmo horário ocupados por apresentadores brancos para um único dia tomado por negros.
Mas isso, é preciso admitir, é um avanço –ou um resgate, podemos dizer, com outro enfoque, da proposta do programa “Manos e Minas”, na mesma Cultura, cujo encerramento foi bastante apedrejado por ter calado uma voz de periferia sem espaço nos grandes veículos. De toda forma, haveria espaço para os dois títulos na grade da TV pública.
O mercado publicitário também tem dado impulso a este movimento que busca maior representatividade na tela e tem sido impulsionado por ele.
Com pouco mais de um ano no ar pela RedeTV!, o programa “Trace Trends” e o canal da franquia, Trace Brazuca, há menos de um ano no Brasil pela TV paga, já mostraram que a ausência de pretos nos comerciais, num passado muito recente, inibia o consumo de uma parcela muito significativa da população porque ela não se via representada por seus anúncios e produtos.
O novo programa contempla dois focos de militâncias que representam boa parcela do consumo e mesmo assim carecem de reconhecimento nos papéis que exercem social e economicamente: o gênero feminino e a cor preta, estendendo essas representatividades aos seus bastidores. Seria hipocrisia colocar na direção da atração, por trás das câmeras, um homem branco, figura ainda majoritária, de longe, nos postos de comando da TV.
“Quanto mais tivermos um país rico em diversidade, como é o Brasil, mais ganharemos em intelectualidade, formação e cultura. Elementos que contribuem para o crescimento e não para segregar”, diz Kelly Castilho, diretora do programa, dona de um currículo de mais de 25 anos no mercado de filmes publicitários e cinematográficos.
Com uma hora de duração e edições temáticas, o Estação Livre tem quatro blocos, receberá convidados e contará com matérias feitas pelos jovens videorrepórteres Lucas Veloso e Rodney Suguita. Falarão ali de empreendedorismo, comunidades, literatura, dança, gastronomia e artes plásticas.
Não se trata, no entanto, de um programa para negros, ao contrário. A ideia é que todos se sintam contemplados pela proposta de união, na contramão da segregação: “É um programa para todos, afinal a sociedade brasileira é muito diversa, composta por pessoas brancas, negras, indígenas, pessoas de descendência asiática, libanesa”, diz Cris Guterres.
O programa, assim como “Roda Viva”, “#Provoca”, “Manhattan Connection” e “Linhas Cruzadas”, está sob os demais da faixa noturna da emissora no restante da semana, está sob o chapéu do departamento de jornalismo, dirigido por Leão Serva, para quem “a preocupação com a diversidade de olhares e de pontos de vista está no DNA da TV Cultura”.
“O ‘Estação Livre’ cumprirá um papel crucial, de trazer para a grade da emissora uma visão jornalística sobre a cultura afro contemporânea, do empreendedorismo à música, da dança à cozinha, dos problemas e das soluções”, completa Serva.
No programa de estreia, já na próxima sexta, o “Estação Livre” aborda o empreendedorismo e conta com a participação de Adriana Barbosa, CEO da Casa Preta Hub – centro de capacitação digital para empreendedores -, e de Vras77, diretor de audiovisual que abriu uma produtora de vídeo, onde ele mesmo construiu seus próprios equipamentos por falta de dinheiro para investir.
SOBRE A APRESENTADORA
É co-fundadora e Diretora Criativa da agência Meteora, onde ao lado da publicitária Renata Hilario, apresenta o podcast Meteora, reconhecido como um dos mais inovadores do país em 2019 pelo Youpix Builders. Em 2018, venceu o primeiro reality show brasileiro a premiar equipes empreendedoras ao criar um produto para a Cacau Show. A jornalista é ainda colunista do Universa do UOL.