Benício diz que é parecido com Raul e admite: ‘Não gosto de me assistir’
Raul, personagem de Murilo Benício na novela “Amor de Mãe”, representa para o ator, antes de mais nada, a chance de poder contracenar com o filho primogênito da vida real, Antonio Benício, fruto de seu casamento com Alessandra Negrini. Mas é também o papel mais próximo de si que o ator já encontrou na TV, como relatou em entrevista testemunhada pelo Telepadi. Normalmente sarcástico e dono de um humor ácido, Benício estava bastante tranquilo, apesar de cercado por meia-dúzia de jornalistas ávidos por saber como seria a experiência de contracenar com o herdeiro.
Após estrear como diretor com uma elogiada adaptação de “O Beijo no Asfalto”, peça de Nelson Rodrigues, para o cinema, o ator já filmou seu segundo longa, uma versão de “Pérola”, peça de Mauro Rasi”, com Drica Moraes, e está satisfeito com os resultados que obteve das duas experiências no novo ofício, que já motiva novos projetos.
Aos 48 anos, o ator e diretor não busca meias palavras para admitir que não gosta de se assistir em cena e isso vem desde criança. “A gente espera atingir uma idade pra parar de mentir. Agora, já posso dizer que eu penso assim. Eu sinto muito prazer fazendo, mas não sinto nenhum prazer assistindo”, diz.
Nos próximos capítulos da novela das nove, criada e escrita por Manuela Dias, namorada do ator e diretor, o público poderá enfim conferir o resultado de pai e filho contracenando nos mesmos papéis, lembrando que Vinicius, o personagem de Antonio, é um ativista ambiental que acabará prejudicando os negócios de Raul, que há três ou quatro capítulos se descobriu também pai de Sandro (Humberto Carrão), com quem brigou no trânsito.
Confira a seguir o que Benício diz sobre Raul, sobre Antonio, sobre Pietro, o outro filho real (com Giovanna Antonelli) e sobre a arte de atuar e dirigir.
CRÍTICO
“Não gosto de me assistir, desde criança, mais do que a maioria das pessoas. A gente espera atingir uma idade pra parar de mentir. Agora, com 48 anos de idade, já posso dizer que eu penso assim. Eu sinto muito prazer fazendo, mas não sinto nenhum prazer assistindo. Eu acho que sou muito crítico, acho que a minha expectativa é tão alta que eu jamais vou alcançar a minha expectativa. Mas isso me faz também buscar fazer melhor, tentar fazer diferente, eu sou tentado a superar a minha expectativa, sempre sabendo que eu não vou ver.”
AFINIDADES COM PERSONAGEM
“Raul é um dos caras mais próximos a mim que eu já fiz, de conteúdo, por dentro, ele é muito próximo a mim, acho que no caráter, o que ele pensa, na vontade e na inocência em querer o bem das pessoas e achar que tudo vai ficar bem. Resolvi então não me distanciar muito do personagem, me emprestar mais a ele, sem me tapar tanto quanto tantas vezes eu faço. Como aconteceu em ‘Amores Roubados”, que eu fiz com o Zé [Luiz Villamarim, diretor daquela série e da novela atual], de deixar uma barba gigantesca: a gente se afasta da gente. Nesse não, eu estou fazendo questão de ser o mais simples e verdadeiro possível.O estilo da atuação muda com o tempo. Agora, a verdade é uma coisa que jamais vai mudar na atuação, então, estou tentando fazer de outra forma.”
CONTRACENAR COM O FILHO
“Antes de mais nada já é o momento mais importante da minha vida, depois de tantos anos na Globo poder receber o meu filho. Eu nem imaginei que ele seria ator, ele nunca deu muita bandeira. De cinco anos pra cá que ele começou a estudar muito. Não tem nada a ver comigo, não tem nada a ver com a Alessandra e eu estou ansioso por isso. Eu fui o último a saber que ele estava na novela. Ainda falei pro Zé (Villamarim): ‘Zé, como é que você chana o meu filho e não me conta?’ Ele falou primerio com a mãe e depois perguntou o que eu achava. Ele se formou no [escola de teatro] Célia Helena. Então, é um tipo de ator que a gente não vê muito por aí, é aquele que estuda. Ele queria fazer mais teatro, ter mais experiencia, o que eu já acho muito bom. Aí eu disse: ‘Antonio, o ator não tem que pensar em ter uma carreira cinematográfica, teatral ou televisiva, ele tem que pensar em fazer bons projetos com pessoas interessantes, que possam dar alguma coisa pra ele. Você está entrando pra fazer a coisa mais importante da Rede Globo, que é a novela das nove, e você tá entrando com a seleção brasileira, tá entrando com o José Luiz Villamarim, um diretor maravilhoso, com a Manu Dias, que tem um texto maravilhoso. Então, não tem o que pensar, tem que fazer.”
PIETRO
“Pietro mora na brisa, bota aquele sorrisão lindo que ele puxou da mãe dele, e cada semana é uma possibilidade [de profissão]. Ele está com 14 anos. Outro dia fui comprar uma sandália pra ele, até eu aceitar que ele calçava 43, voltei três vezes na loja, comecei com 40. Ele está lindo de morrer. Outro dia ele estava trabalhando em [seguir carreira] no jiu-jitsu.
O DIRETOR: no cinema
“Recebi mais de sete vídeos de pessoas, de lugares diferentes do Brasil em que as pessoas aplaudiam no final [‘O Beijo no Asfalto’]. Isso foi muito impactante pra mim, mas muito menos para um lugar de vaidade e muito mais para poder falar: ‘bom, eu estou certo no que eu penso’. ou ‘eu posso fazer isso’, ‘posso dirigir de novo’. E eu tenho certeza de que eu sei muito menos do que os diretores que filmam, mas eu entendo muito do ator. Então, isso é uma ferramenta que eu acho que eu trouxe pra direção, a minha proximidade com os atores, eu entender a dificuldade de uma cena, entender por que não está orgânico. A minha ligação com os atores fez com que eu ficasse muito a fim de ter essa carreira,também, de dirigir.”
O DIRETOR: na TV
“Televisão é uma direção mais veloz, eu tenho, por não saber ou estar começando uma carreira nova, todas as minhas cenas, nos dois filmes que eu dirigi, tenho um story-board que desenhei pra não chegar ao set e não saber o que fazer. A televisão corre muito mais rápido do que o cinema. Então, dirigir uma novelas, com certeza eu não estou pronto pra isso. Mas dirigir uma série, de repente sim. Eu preciso ir devagar, tendo mais experiencia. Acho que falta experiencia ainda.”
ACEITAM-SE PITACOS
“Os atores podem dar pitaco à vontade no meu set. Na primeira reunião que a gente teve antes de começar a filmar ‘O Beijo no Asfalto’ eu falei: ‘quero que todo mundo fale a ideia que passar pela cabeça. Se eu achar ruim eu não vou botar, agora, a melhor ideia sempre vai levar, não importa’. Se você tem uma ideia, me fala. Se for boa eu vou usar, ou vou argumentar por que não é tão bom como do jeito que eu estou fazendo. Eu tenho certeza inclusive que os méritos são de todos porque todo mundo deu palpite. Eu não tenho vergonha de falar do filme porque ele é de todos. Eu tenho vergonha de falar de uma atuação minha. O filme é um trabalho intuitivo, agora que eu fiz a ‘Pérola’ com a Drica Moraes, a Drica Moraes me ajudou numa imensidão que eu acho que nem ela sabe, com os atores. Ajudou com as ideias que ela dava, ajudou os atores, com certeza é outro filme que não foi feito só por mim, eu acho que tá lindo.”