Coach da novela enfim indica psicólogo a vítima de pedofilia
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Um dia volta pra você.
Os versos do tema de abertura da novela “O Outro Lado do Paraíso” nunca se encaixaram tão bem no processo criativo da história, como aconteceu no capítulo desta quinta-feira. Dando sequência a todos os acontecimentos que trouxeram à tona o trauma da pedofilia sofrido por Laura, personagem de Bella Piero, a coach e advogada Adriana (Julia Dalavia), que a auxiliou na questão, finalmente sugeriu que a moça procure um psicólogo e faça uma terapia.
Depois de mostrar que a vítima resgatou a memória dos abusos sofridos na infância pelo padrasto com a ajuda de técnicas de coaching, transformando a cena num grande merchandising do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), como exibiu a Globo nos créditos finais de um capítulo, o autor Walcyr Carrasco foi alvo da fúria do Conselho Federal de Psicologia e dos próprios coaches, todos contestando a ausência de um psicólogo ou psiquiatra para auxiliar a moça.
O caso foi até parar no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o Conar, que recebeu denúncias de propaganda irregular. Não vai dar em nada, é claro, porque a ação publicitária já foi ao ar e, dado o estrago da coisa, não voltará a surgir em cena, mas arranhou a imagem de um anunciante que pagou para o efeito contrário.
Carrasco agora afaga a fúria dos coaches e psicólogos inconformados com a condução do caso. Ok, isso é novela, é ficção, coisa e tal, mas a questão ganhou contornos mais graves por ter sido uma ação paga. O ápice do estrago foi ao ar no dia 6 passado, mas a conversa sobre os efeitos milagrosos do coaching já vinha se arrastando fazia alguns capítulos.
O reparo demorou a vir, mas veio. Melhor assim. E veio pela voz da coach, o que foi um acerto para colocar os pingos nos is, embora a personagem seja casada com médico, que em nenhum momento alertou a mulher sobre um tratamento adequado.
Observação: Não tem nada a ver com a história, mas, sobre pessoas que indicam terapia a outras, equivocadas sobre a forma de tratar algum mal mental, lembrei-me da saudosa Myriam Muniz, que foi minha professora na Funarte, aqui no bairro paulistano de Campos Elíseos, nos idos de 1993 a 96. Quando lhe aparecia algum aluno dizendo que foi fazer teatro para entender a si mesmo, ela rebatia, sem piedade: “Procura um psiquiatra, nego. Teatro não é terapia”.
Divertida, a Myriam. Morreu em 2004, rindo de todos nós.