Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Coach da novela enfim indica psicólogo a vítima de pedofilia

Adriana (Julia Dalavia), a coach que ajudou a revelar o trauma alheio, agora indica psicóloga. E esse curativo? Não tem esparadrapo micropore no Tocantins?

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Os versos do tema de abertura da novela “O Outro Lado do Paraíso” nunca se encaixaram tão bem no processo criativo da história, como aconteceu no capítulo desta quinta-feira. Dando sequência a todos os acontecimentos que trouxeram à tona o trauma da pedofilia sofrido por Laura, personagem de Bella Piero, a coach e advogada Adriana (Julia Dalavia), que a auxiliou na questão, finalmente sugeriu que a moça procure um psicólogo e faça uma terapia.

Depois de mostrar que a vítima resgatou a memória dos abusos sofridos na infância pelo padrasto com a ajuda de técnicas de coaching, transformando a cena num grande merchandising do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), como exibiu a Globo nos créditos finais de um capítulo, o autor Walcyr Carrasco foi alvo da fúria do Conselho Federal de Psicologia e dos próprios coaches, todos contestando a ausência de um psicólogo ou psiquiatra para auxiliar a moça.

O caso foi até parar no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o Conar, que recebeu denúncias de propaganda irregular. Não vai dar em nada, é claro, porque a ação publicitária já foi ao ar e, dado o estrago da coisa, não voltará a surgir em cena, mas arranhou a imagem de um anunciante que pagou para o efeito contrário.

Carrasco agora afaga a fúria dos coaches e psicólogos inconformados com a condução do caso. Ok, isso é novela, é ficção, coisa e tal, mas a questão ganhou contornos mais graves por ter sido uma ação paga. O ápice do estrago foi ao ar no dia 6 passado, mas a conversa sobre os efeitos milagrosos do coaching já vinha se arrastando fazia alguns capítulos.

O reparo demorou a vir, mas veio. Melhor assim. E veio pela voz da coach, o que foi um acerto para colocar os pingos nos is, embora a personagem seja casada com médico, que em nenhum momento alertou a mulher sobre um tratamento adequado.

 

Observação: Não tem nada a ver com a história, mas, sobre pessoas que indicam terapia a outras, equivocadas sobre a forma de tratar algum mal mental, lembrei-me da saudosa Myriam Muniz, que foi minha professora na Funarte, aqui no bairro paulistano de Campos Elíseos, nos idos de 1993 a 96. Quando lhe aparecia algum aluno dizendo que foi fazer teatro para entender a si mesmo, ela rebatia, sem piedade: “Procura um psiquiatra, nego. Teatro não é terapia”.
Divertida, a Myriam. Morreu em  2004, rindo de todos nós. 

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Cristina Padiglione

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