Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Com diálogos afinados, ‘O Negócio’ termina melhor do que começou

Rafaela Mandelli e Du Moscovis, que participa desta última temporada

Agora que estava ficando muito bom, vai acabar: “O Negócio”, série mais longeva da HBO no Brasil, encerra carreira com a quarta temporada, que estreia neste domingo, 18, com 12 episódios, um a menos do que as demais temporadas.

Um recurso muito utilizado na série e que sempre me incomodou bastante é a narrativa em primeira pessoa de uma das personagens explicando tudo o que está acontecendo. Simplista, a estratégia denota a pobreza do script e alguma incompetência de roteirista e direção em traduzir em ação o que a narradora tenta compensar com palavras. Desse modo, poderia ser um livro e não uma obra de audiovisual.

Na quarta e última temporada, esse recurso ganha doses bem mais aceitáveis e até cabíveis para alinhavar a ação. Os diálogos estão mais afiados e afinados que nunca, os conflitos estão mais fortes, o que certamente tem a ver com o foco que dá a partida da vez: a família.

Depois de ficarem ricas-muito-ricas, de conseguirem bancar uma super empresa e pisarem no preconceito alheio com o poder financeiro adquirido, as quatro garotas de programa de luxo investem no sucesso de um hotel de luxo cuja especialidade é o negócio delas: prostituição de luxo. Mas, no momento em que Karin (Rafaela Mandelli) vai lançar sua autobiografia, contando toda a sua trajetória e as dos sócios, é o hora de todo mundo preparar uma DR (= Discussão da Relação) com a própria família e contar o que realmente faz da vida.

A revelação da verdade a cada família evidencia a diferença que o assunto merece para cada pai e mãe, e certamente o caso de Magaly (Michelle Batista), que tem um pai vivido pelo ótimo Marcelo Mansfield, é o mais divertido. Ariel (Guilherme Weber) leva um tapa na cara de “mamy”, mas a cena, a princípio engraçada, guarda uma ocasião triste para a visita seguinte do filho ao sanatório onde a mãe vive, quando ela mostrará não se lembrar da revelação que antes motivou sua fúria.

Guilherme Weber, como o cafetão Ariel, falso judeu, é a melhor performance da série

Além do elenco já conhecido, a safra derradeira conta com participações de relevância de um time que inclui Eduardo Moscovis, Rodrigo Pandolfo, Dalton Vigh, Erom Cordeiro, Leo Moreira Sá, Rodrigo Pavon e Carolina Borelli. A modelo Thalytha Pugliesi também faz uma participação especial na produção.

Glamurizada ao extremo na série, a prostituição de luxo ganha, na ficção, tons certamente muito mais leves do que o ofício exibe na vida real. Faz parte do show. Quem não gosta da sensação de ver um espumante espoucando todo episódio, com lindas moças bem remuneradas por vender prazer? Talvez tivesse faltado mais contraste entre elas, não na maneira de lidarem com seus dramas, mas no temperamento da cada personagem, tão igualmente blasé em todas.

Luna (Juliana Schalch) e Magali (Michelle Batista) em cena: profissão antiga com estratégias de marketing, um bom negócio

Por fim, é inevitável notar e reforçar, em todas as temporadas, inclusive nesta (a julgar pelo primeiro episódio, único a que assisti), que em uma série protagonizada por mulheres, o melhor desempenho é de um ator: Weber, com seu Ariel, falso judeu que criou até sotaque conveniente ao negócio de cafetão. Toda vez em que o enredo e a visceralidade faltaram em cena, uma aparição qualquer de Ariel era, e continua sendo, essencial para salvar o encanto do telespectador.

Como estamos falando de um negócio de interesse universal, e que interesse, a série fez boa carreira internacional para a HBO, e não só entre América Latina e Estados Unidos, onde os produtos realizados pela grife aqui têm mais entrada. Reino Unido e outros países da Europa estão familiarizados com as moças, que são até solicitadas para autógrafos em visitas por lá.

Criada por Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho, e escrita por Fabio Danesi, Camila Raffanti e Alexandre Soares Silva, “O Negócio” tem direção-geral de Michel Tikhomiroff, com realização da produtora Mixer.

 

Abaixo, um trailer da temporada que estreia neste domingo, às 21h. Todas as temporadas anteriores estão disponíveis para assinantes na HBO GO.

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Cristina Padiglione

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