Com gato digitalizado, Aguinaldo Silva retoma realismo fantástico em sua próxima novela
Autor de personagens e situações adoráveis na seara do realismo fantástico, Aguinaldo Silva passeou por uma linha mais realista em suas últimas novelas – “Senhora do Destino”, “Fina Estampa” e “Império”. Agora, em “O Sétimo Guardião”, prevista para maio de 2018, o homem que levava Jorge Tadeu (Fábio Jr. em “Pedra Sobre Pedra”) a ressuscitar cada vez que suas viúvas ingeriam um antúrio, que transformou Cândido Alegria (Armando Bogus, também em “Pedra Sobre Pedra”) em pedra, além de fazer Osmar Prado ser engolido pela lua, como lobisomem (idem), sem falar no souvenir guardado a sete chaves na caixa da Perpétua (Joana Fomm) em “Tieta”, voltará a brincar com o universo mágico.
Basta dizer que um gato, sim, o animal, não a alusão a homem bonito, será o protagonista do folhetim que vem aí. Aguinaldo já tem mais de 12 capítulos escritos e a Globo quer que ele tenha 80, quando a novela estrear. Fato é que o gato, peça-chave da história, terá de ser digitalizado, pois o bichano opera ações que um gato de verdade não faz. “E é claro que em um dado momento, ele vai se transformar em uma pessoa”, ri Aguinaldo, ao conversar com o TelePadi sobre a trama. A novela substituirá O Outro Lado do Paraíso”, de Walcyr Carrasco, e já tem no elenco Lilia Cabral, Cauã Reymond, Renata Sorrah, Joana Fomm, Marina Ruy Barbosa, Chay Suede, Elizabeth Savalla, Luana Piovani, Viviane Araújo e Carolina Dieckmann. A direção artística caberá a Rogério Gomes, o Papinha, que fez “Império”, sua última novela. Aguinaldo ainda não consegue imaginar um substituto para José Mayer. Pensou em Humberto Martins, mas, de certa forma, ele voltaria a contracenar com Lilia Cabral num intervalo muito curto (os dois são marido e mulher na novela das 9 atual, “A Força do Querer”)
Eis aqui o que Aguinaldo nos adianta sobre “O Sétimo Guardião”, fruto de uma longa conversa que tivemos em seu mais novo imóvel, um belo apartamento em São Paulo, cidade pela qual está encantado. Aliás, nossa prosa aconteceu há alguns dias, por ocasião da leitura do texto que lançará Lili Carabina, antiga personagem sua, no teatro, com adaptação de Júlio Kadetti, e isso foi bem antes das postagens feitas nesta terça, quando o autor admitiu que seu interesse agora é fazer seriados, nem que, para isso, tenha de abrir sua própria produtora.
Vamos falar de “O Sétimo Guardião”?
Aguinaldo Silva: A novela é uma situação muito complicada, porque só estreia em maio de 2018. E eu já estou escrevendo. Tenho 12 capítulos e o Silvio (de Abreu, responsável pelo comando do departamento de novelas) quer que eu tenha 80 quando estrear.
E a Nazaré vai mesmo voltar?
A.G. Nazaré vai voltar. Como, em que circunstâncias, e se é realmente a Nazaré, esse é que é o grande suspense. Ela volta como outra pessoa e essa pessoa disse que fez uma série de intervenções cirúrgicas pra ficar com a cara da Nazaré, mas se é ela ou não, ninguém sabe. (risos). Mas eu estou achando que as novelas, elas estão já passando por uma sobrevida. Acho que a gente ficou um pouquinho atrasado no que realmente interessa ao público atualmente, que são os seriados. Eu acho que a gente perdeu o bonde dos seriados, a gente ainda não aprendeu a fazer. Nós perdemos feio pra essas séries estrangeiras e perdemos mais na edição e no som, não conseguimos chegar naquele nível.
Eu não quero mais escrever novelas, não me interessa mais, eu quero escrever seriados.
Mas as novelas têm uma audiência ainda muito forte, quase que automáticas, você não acha?
A.G. É, a Glória (Perez) agora está indo bem. A audiência das novelas é como o eleitorado do PT, né? É um eleitorado fiel, o candidato já sai com 30 e poucos por cento de intenção de voto.
E o Chay Suede finalmente fica agora a novela toda? Em Império, ele bombou em quatro capítulos, mas mereceu flashbacks durante toda a trama.
A.G. Ah, sim, o Chay vai ser o bad boy, que não dá pra ficar fazendo só o bonitinho, né? Agora, o grande personagem da novela é o gato. O gato da minha novela abre as portas com extrema violência. Esse gato vai ter que ser todo digitalizado. O gato começa numa cidade a 400 km de São Paulo, foge dessa cidade, e, no mesmo dia, o protagonista da novela, o Cauã, pronto para atravessar a rua, no meio da Avenida Paulista, vê esse gato passando. Esse gato é o principal personagem da novela, é claro que em algum momento ele vai se transformar numa pessoa.
Mas o que temos aí, uma volta sua ao realismo fantástico?
A.G. Ah, sim, eu vou voltar. As novelas, de uns tempos para cá, têm sido muito realistas e não pode ser tanto. A Glória até que não está apegada a isso, novela é folhetim, tem que sair um pouco dessa realidade mesmo. Em 1992, eu viajava muito de carro com um amigo meu e uma vez, viajando por Minas, descendo pela fronteira de Minas com São Paulo, dormimos em Itajubá, e saíamos muito cedo do hotel. E vimos, no alto de um vale, uma cidadezinha mínima, com uma rua, uma praça, uma igreja, não muito mais que isso. Perguntei e soube que era Delfim Moreira. E fiquei com aquilo na cabeça. Quando eu resolvi voltar à minha ideia de cidade mágica, agora, a primeira coisa que eu pensei foi Delfim Moreira, mas aí fui no Google e fui ver, provavelmente não teria mais nada a ver com aquela imagem. Digitei ‘Delfim Moreira, fotos atuais’. Estava exatamente igual! Então, nossa cidade, não é que seja Delfim Moreira, mas é inspirada em.
Você mencionou o Cauã atravessando a Paulista. A novela terá um foco em São Paulo também?
A.G. O Cauã mora em São Paulo, ele é filho da Lília Cabral, que mora em São Paulo, mas a Lília é dessa cidadezinha e fugiu de lá porque foi abandonada pelo noivo no altar, sem nenhuma explicação. A novela começa no dia do casamento do filho dela com uma moça que é filha de um banqueiro riquíssimo, que vai dar um aporte financeiro pra ela, a empresa dela, a Valentina Vassalo Cosméticos, não vai bem e esse casamento será a salvação para ela. E na hora do casamento do rapaz, ele faz a mesma coisa que o noivo da mãe dele. E as pessoas vão saber que essa história se repetiu por uma razão muito forte.
A partir daí a novela vai embora. E quem provoca muita coisa é o gato, ele faz coisas que são impossíveis a um gato, vai ter que ser digitalizado.
Quem ficará no lugar do Zé Mayer (afastado em razão da acusação de assédio feita pela figurinisa Su Tonani)?
A.G. Não temos. Sugeriram (Edson) Celulari, que eu acho muito novo, e o (Antonio) Fagundes. Eu queria Humberto Martins, só que ele já está fazendo par com a Lília agora. Na minha novela eles seriam inimigos, mas tem uma quedinha entre eles. Tem o Paulo Betti, mas eu gosto do Paulo Betti fazendo tipos. Com Téo Pereira, ele arrasou. E as pessoas adoravam.
Agora você está com duas novelas no ar: “Tieta”, pelo Canal Viva, que acaba de estrear, e “Senhora do Destino”, reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo”, e o Zé Mayer está em ambas.
A.G. Pois é, e em “Tieta” tem uma coisa, que é a fama de bem dotado do Osnar. E o Paulo Ubiratan (diretor responsável pela novela, em 1989), botou um tique nele: ele vivia ajeitando a calça, assim, como se o tamanho o incomodasse. Eu tô muito triste com essa história. E fiquei mais triste ainda porque a moça jogou a bomba e sumiu. (Su desistiu de dar queixa formal na Defensoria Pública do Rio. Segundo o jornalista Léo Dias, do jornal “O Dia” e do SBT, Su e Mayer tiveram um romance no início da novela “A Lei do Amor”, o que ela não revelou na carta onde o acusou de assédio, nem ele, casado com a produtora Vera Fajardo, mencionou em seu pedido público de desculpas).
P.S. Aguinaldo fez questão de acrescentar, após a publicação desta entrevista, que se diverte “muito enquanto escreve novela”, e a gente acredita e atualiza aqui o texto.