Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Com texto sobre morte, Fagundes endossa livro de autora que inspirou ‘Bom Sucesso’

Antonio Fagundes como Alberto em "Bom Sucesso/Victor Pollak Divulgação

Saudade de “Bom Sucesso”, a ótima novela das sete que se despediu da Globo no início do ano?

Autora de “A morte é um Dia que Vale a Pena Viver”, que serviu como referência para a produção da novela “Bom Sucesso”, Ana Claudia Quintana Arantes, teve sua obra entre as três mais vendidas da editora Sextante em 2019, com  mais de 85 mil exemplares.

Agora, ela lança uma nova publicação, “Histórias Lindas de Morrer”, com a mesma proposta de falar sobre a morte. Sócia-fundadora da Casa Cuidar, onde forma profissionais dessa especialidade, Claudia se tornou uma querida do elenco e dos autores, Rosane Svartman e Paulo Halm, tendo livro foi citado diversas vezes na trama.

A própria Rosane me falou sobre o livro de Claudia com grande entusiasmo por ocasião do lançamento da novela, que foi um gratificante sucesso na faixa das 19h da Globo. A produção tinha repertório, inspirava e pautava o espectador para ótimas reflexões, com um elenco afiado e afinado, tendo tido a ousadia, muito bem-sucedida, de introduzir trechos, títulos e todo tipo de referência literária em meio às cenas.

Dito isso, é compreensível que a orelha do novo livro tenha um belo texto assinado pelo leitor mais voraz do elenco do folhetim, o próprio protagonista, Antonio Fagundes, que publicamos a seguir. Na trama, Fagundes era Alberto, dono de uma grande editora, que recebia o diagnóstico de uma doença em fase terminal, tendo de lidar com o fim próximo e o conflito de um mercado editorial em crise, o que lhe gerava a insegurança sobre o destino de uma paixão da vida toda, os livros.

O novo livro de Claudia tem tiragem inicial de 20 mil exemplares. Preservando o nome de seus pacientes, ela narra histórias reais em que a proximidade do fim da vida revela os momentos de maior vulnerabilidade do ser humano.

“Se conversar sobre a morte fosse um tratamento médico, já seria o mais indicado para a maioria das doenças. Neste livro, eu conto como terminou a vida de pessoas extraordinárias, cheias de coragem, memórias inesquecíveis e amor. O tempo final da vida guarda segredos sobre como viver e faz a gente ser capaz de escolher melhor o que vai acontecer enquanto estamos vivos e bem”, diz a autora.

No texto, Fagundes fala sobre o contato com a obra da autora, que deu uma palestra ao elenco, e de que forma o livro foi útil ao processo de aprendizagem para a realização de “Bom Sucesso”.

Na trama, ele é um doente em fase terminal, dono de uma e

Eis o que o ator nos conta:

Epa. Envelheci. Os fios brancos refletidos no espelho me fizeram lembrar que a velhice nos pega de surpresa. Foi o velho Goethe quem disse isso? Olha só, não lembro. Mas eu ainda tinha tempo. Meus primeiros cabelos brancos surgiram aos 30 anos, e de lá pra cá caíram um pouco e foram ficando cada vez mais brancos, para que eu nunca, nunca mesmo, fosse pego de surpresa. Porque não pensamos nela, na velhice. Temos medo. Bobagem. A alternativa é muito pior. Mas também não pensamos nela, na morte.

 

Quarenta anos depois: “O oposto da morte não é a vida, é o nascimento. Vida é o que acontece entre os dois.” Pronto. Eu estava definitivamente preso ao que aquela moça de fala suave poderia dizer dali para a frente. Estávamos num grande galpão. Elenco, direção, autores, equipe técnica e artística de Bom Sucesso, novela que começaria a ser gravada em menos de um mês e que tinha como um de seus temas centrais a morte iminente de meu personagem, Seu Alberto, doente terminal.

 

Essas grandes reuniões antes de começar um trabalho são comuns entre nós. São muito divertidas e talvez a única oportunidade que temos de estar assim, todos juntos, até o último dia de gravação.

 

Ana Claudia Quintana Arantes tinha sido convidada a dar uma pequena palestra, e fiquei, ficamos todos siderados. Durante vinte minutinhos, de forma simples, sensível, carinhosa e cheia de compaixão, ela nos abriu os olhos e o coração. Pra sempre.

 

A forma clara, aberta, direta com que ela falava sobre a morte, um tema sempre tão delicado para todos nós, enfeitiçou aquela plateia como fez com os leitores de A morte é um dia que vale a pena viver , livro de Ana Claudia que lemos todos apaixonadamente depois desse primeiro encontro. O resto é história. Comprei e distribuí para mais de quarenta amigos essa obra admirável. Quem não leu ainda, por favor, não se prejudique.

 

Ah! E agora temos Histórias lindas de morrer. Não, não vou tomar o seu tempo. Livro na mão, uma caixinha de lenços de papel ao seu alcance, embarque logo nesta nova lição de amor que nossa querida autora sabe de cor. Antes, porém, um último conselho de Ana Claudia: “Não se acanhe. Se aquelas lágrimas rolarem suaves pelo seu rosto, recolha num vidrinho e guarde. Serão lágrimas de vida.”

 

Antonio Fagundes

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