Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Estreia ‘Perrengue’, 1ª série de ficção da MTV desde que virou canal pago

Cadu (Vinicius Redd), Pérola (Mariana Molina) e Miguel (Guilherme Dellorto)_: 'Perrengue', série da MTV

Há quase quatro anos funcionando sob administração do grupo ao qual de fato pertence no mundo todo, a Viacom, a MTV no Brasil (*) lança agora sua primeira série de ficção: “Perrengue”, evidentemente voltada ao público jovem, estreia nesta segunda, às 22h, com dois de seus 13 episódios em sequência. O título irá ao ar semanalmente, todas as segundas, nesse mesmo horário, mas terá sempre um episódio antecipado pela MTV Play, plataforma de vídeo sob demanda do canal na internet.

A MTV sob as asas da Viacom já exibiu uma outra série de ficção nacional, “Copa do Caos”, mas nem tanto. Quer dizer, não era tão ficcional assim, visto que pegava carona na Copa do Mundo realizada no Brasil.

“Perrengue”, de Renata Fraga e Tatiana de Lamare, em coprodução da MTV com a produtora República Pureza Filmes, é a primeira série de dramaturgia ficcional criada a partir do nada. Encontrará uma audiência vidrada em realities como “Are You The One” e “Adotada”, mas também interessada em produtos semelhantes da Netflix e outros canais. Uma eventual segunda temporada depende basicamente de como a audiência da casa vai receber a historinha que vem aí, mas o enredo abarca temas de absoluto interesse à faixa etária principal do canal (18-24, com extensão em segundo plano para até 34 anos).

Família, profissão, drogas, aborto, sexo, relações livres e experiências homoafetivas aparecem em um enredo que se desenvolve a partir da casa que Pérola (Mariana Molina) herda de sua avó. O cenário é o Rio de Janeiro.  Para dividir contas e a tensão de administrar uma casa sozinha, Pérola convida dois grandes amigos a morarem com ela – Miguel (Guilherme Dellorto) e Cadu (Vinicius Redd). O elenco conta ainda Com João Vitti, Ingra Lyberato, Christina Ubah (protagonista do seriado “A Garota da Moto”, exibida por SBT e FOX), Bruno Ferrari e Rafael Sieg, com participação de Bel Kutner.

Foi Tatiana quem procurou o big boss da MTV, Thiago Worcman, com o argumento em mãos, propondo uma série. Isso tem mais de dois anos. De lá para cá, além do desenvolvimento de roteiro, gravações e finalização, o título teve de aguardar aval para verba de incentivo recebida da Ancine (Agência Nacional de Cinema).

Pai de Rafael Vitti, ator que ganhou fama há pouco mais de três anos, por “Malhação” e já vem enfileirando papéis na TV, João se apresenta na MTV mais ou menos nos mesmos moldes do que é na vida real: pai de adolescente (Cadu), mente aberta e surfista “coroa”, como ele mesmo define.  Um diálogo sobre os anseios do filho e a necessidade de “virar a chavinha do amadurecimento”, conta João, traz boas reflexões à tona.

A proximidade entre pais e filhos na questão de liberdade e mente aberta estará também estampada na mãe que Ingra Lyberato encarna com a filha Perla. Afastada da TV há cinco anos, desde “Balacobaco”, na Record, a atriz tem se dedicado também a escrever, e já prepara seu segundo livro, uma série ficcional e uma série documental sobre mulheres amazonas – vamos lembrar que ela foi Ana Raio, na novela “Ana Raio e Zé Trovão”, da extinta (que pena) TV Manchete. Mãe de um filho de 14 anos, a atriz defende sua personagem como uma “mãe que sabe que a filha tem que seguir o caminho dela”.

O perrengue também estará presente nas condições financeiras enxutinhas de Miguel, filho de taxista, que traz para o enredo uma série de dificuldades que os demais personagens, mais abastados, não conhecem.

Encontrei João, Ingra e os três protagonistas jovens, mais as duas criadoras da série, na nova sede da Viacom, em São Paulo. Questionado sobre os perrengues vividos por cada um, o elenco contou suas histórias. E Guilherme Dellorto mencionou um perrengue em comum de toda a classe artística atualmente, em especial no Rio, onde verbas e projetos para a cultura têm sido sistematicamente cortados pelas atuais administrações de prefeitura e governo do Estado.

(*) Para quem não sabe ou não se lembra, a MTV Brasil nasceu aqui como um canal do grupo Abril, em 1990. Funcionou assim até setembro de 2013, cumprindo um período de grandes criações, revelação de vários talentos (Fernanda Lima, Zeca Camargo, Marcelo Adnet, Tatá Werneck, Dani Calabrasa, Márcio Garcia), quebras de tabus (como beijo gay e debates sobre drogas) e as melhores produções musicais feitas no país, contabilizando videoclipes e suas premiações nas inesquecíveis cerimônias do VMB (Video Music Brasil).

Desde que voltou para as mãos da Viacom, como canal pago, a MTV Brasil nunca mais foi a mesma. Nunca mais os VMBs, nunca mais os Acústicos, nunca mais “Comédia MTV”, “Beija Sapo” e afins.

Ainda que seus executivos atuais tentem dar ao canal um perfil minimamente brasileiro, mas dentro do contexto da chamada geração millenium, seguindo uma formatação pasteurizada para atender ao padrão mundial da emissora. É difícil alcançar a agilidade de um canal aberto, como era o caso da antiga MTV, sendo subordinado às ordens vindas da matriz americana, o que não acontecia nos tempos em que o comando, até por direitos pagos à marca, cabia à família Civita.

Até por isso tudo, é bom que esta MTV entre no universo das séries de ficção produzidas aqui. Nada será como antes, mas sempre pode ser menos ruim.

 

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Cristina Padiglione

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