Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Cultura e Futura exibem documentários sobre centenário de Paulo Freire

O educador Paulo Freire. Foto: Reprodução/Nova Escola

A TV Cultura exibe neste sábado (18), às 22h, um documentário em celebração ao centenário do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, nome celebrado no mundo todo e ultimamente apedrejado por aqueles que ostentam o orgulho da ignorância no Brasil –um grupo que é minoria, ainda bem, mas faz muito barulho e já é maior do que qualquer fatia aceitável de divergências.

Pior: a inexplicável ojeriza criada em torno do nome de Paulo Freire, coroada pela chegada de Jair Bolsonaro à presidência, não vem daqueles que não tiveram acesso a estudos, muito pelo contrário, o que choca ainda mais quem conhece os feitos e efeitos de sua obra.

No domingo (19), o canal Futura promove uma pré-estreia especial da série Entrevista, às 20h, comandada pelo ex-BBB e professor de Geografia João Luiz Pedrosa, mestrando em educação, sobre o educador. A produção foi gravada no Instituto Paulo Freire, em São Paulo, que é coproduor da série de cinco episódios em homenagem ao centenário, produção que o Futura exibirá de segunda a sexta, às 20h45.

TV CULTURA

Produzido em casa, o doc da Cultura terá apresentação de seu diretor de jornalismo, Leão Serva. E vale como grande oportunidade a quem repete mantras da extrema direita contra o educador, sem noção alguma sobre seu legado. Vamos a ele:

O livro Pedagogia do Oprimido é um marco na obra de Paulo Freire, que foi professor das universidades de Harvard, nos Estados Unidos, e Cambridge, na Inglaterra, e teve mais de 40 títulos de doutor honoris causa em universidades como Oxford, na Inglaterra, e Coimbra, em Portugal.

Paulo Freire, 100 Anos traz os principais estudiosos da obra do educador para explicar a sua importância e, ao mesmo tempo, os motivos de ele ser alvo de tantos ataques extremistas.

Mario Sergio Cortella comenta por que Paulo Freire é tão odiado pela direita e tão reconhecido por educadores do mundo todo. “Há duas questões. Paulo Freire jamais seria contra que alguém contra ele fosse. Ele era um democrata. Acho que em alguns momentos ele até riria, mas levava muito a sério quem tinha argumentos contra ele”, explica Cortella.

O professor, filósofo e pedagogo Dermeval Saviani e o diretor de Educação de Jovens e Adultos do Colégio Santa Cruz, Fernando Frochtengarten, também comentam a repulsão de membros do governo atual ao educador.

Sérgio Haddad, autor de biografia de Paulo Freire, conta a trajetória do patrono brasileiro que nasceu em Pernambuco e chegou a passar fome. “Ele se formou em direito, mas não gostou e acabou indo para a educação, área em que já atuava”, relata.

Sobre o projeto de alfabetização de Paulo Freire em Angicos, cidade do Rio Grande do Norte, Marcos Guerra, coordenador em Angicos, comenta: “Paulo dizia que estamos numa estrutura de dominação, numa pedagogia do silêncio. O aluno ouve o que o professor manda e ele pratica o que o professor disse. Mas Angico revirou a coisa de cabeça para baixo”, diz.

Considerado subversivo, perigoso, inimigo do povo e de Deus pela ditadura, Paulo Freire foi preso pelo regime militar. Seu exílio de 16 anos começou pela Bolívia em 1964, mesmo ano em que ele se mudaria para o Chile, onde ficou até 69, quando foi convidado a lecionar nos Estados Unidos e também para atuar no Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, na Suíça, onde ganhou projeção mundial e participou também da alfabetização de populações pobres no continente africano.

Com a anistia e o retorno ao Brasil, em 1979, Paulo Freire continuou a produzir obras importantes como a Pedagogia da Esperança. Voltou à universidade como professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) e foi secretário municipal de Educação de São Paulo.

O professor e ator Guilherme Terreri Lima Pereira, que interpreta a drag queen Rita Von Hunty, também participa da edição e comenta sobre o pensador: “A intervenção proposta por Paulo Freire é uma educação comprometida com a transformação do mundo”. Lima Pereira explica ainda que ao interpretar a drag queen Rita Von Hunty, ele faz com que a experiência lúdica da educação desperte afeto nas pessoas. “Eu acredito que novos afetos possam gerar novos efeitos e que com novos afetos e novos efeitos, a gente possa construir novos mundos”.

FUTURA

Na série “Entrevista: Educação no Centenário de Paulo Freire”, o legado do educador é debatido para além da educação. Os episódios vão mostrar como a obra de Paulo Freire influencia até hoje áreas tão diversas como saúde, tecnologia, políticas ambientais e até administração de empresas, no Brasil e no mundo.

Ao longo da temporada, o professor João Luiz Pedrosa conversa com convidados como o escritor Frei Betto; o professor e escritor Luiz Rufino; o educador e presidente de honra do Instituto Paulo Freire Moacir Gadotti; a professora e performer Dodi Leal; a arquiteta Beatriz Goulart; o empresário Jorge Hoelzel Neto; e o médico e professor Eymard Vasconcelos; entre outros especialistas. Serão abordados temas como Arquitetura e educação, Espiritualidade engajada, Educação e práticas empresariais, Educação feminista na América Latina, Tecnologia, Paulo Freire na África e muito mais.

Os episódios também estarão disponíveis no Globoplay.

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione