Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Dan Stulbach e Lilia Schwarcz passeiam pela História do Brasil

Lilia Schwarcz e Dan Stulbach contracenam com o passado histórico e seus personagens na série 'Era Uma Vez na História'

Lá vai alguém vir dizer que “Era Uma Vez Uma História”, produção da Cinegroup com a Eyeworks, que estreia hoje, na Band, é muito didática. Sim, é didática, como tem de ser didática toda narrativa histórica dirigida à massa da TV aberta. Mas é de um didatismo que contempla também muitos buracos ignorados pela maioria do público. E, importante dizer, é de um didatismo bem inserido no entretenimento, de modo que você não se sentirá diante do Telecurso 2º Grau.

Não basta dizer que D. João, ainda como príncipe regente, fugiu das tropas de Napoleão quando decidiu, em menos de três dias, mudar-se com toda a família e algo em torno de 15 mil portugueses para o Brasil. É preciso contar que o exército de Napoleão já nem estava com aquela bola toda. É preciso contar que como a viagem não foi planejada com qualquer prazo, várias famílias foram desalojadas, de um dia para o outro, a fim de dar moradia aos 15 mil portugueses que estavam então chegando a um Rio de Janeiro com apenas 60 mil habitantes (dos quais 20 mil eram escravos).

Lenine aparece em cena na chegada de D. João a Salvador, antes de aportar no Rio.

Se no primeiro episódio você der de cara com um quase figurante com a cara do cantor Lenine, não se engane: é ele mesmo. O programa traz ainda atuações especiais de gente como Luíza Possi, Thaíde, Oscar Filho, Carles Paraventi, Cris Lago e Magdale Alves. Jornalistas da Band, Ricardo Boechat e Paolma Tocci também emprestam participações breves á série.

Oscar Filho faz o ‘portuga’ do boteco onde Dan Stulbach e Lilia Schwarcz param para uma prosa sobre imprensa.

Uma série de detalhes vem à tona pelo olhar da antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, autora de “Brasil: Uma Biografia” (com Heloísa Murgel Starling), publicado pela Cia. das Letras,  editora da qual é cofundadora.  Ao lado de Stulbach, ela passeia por cenários emblemáticos de Portugal e Brasil, revisitados em forma real ou por meio de reconstituição realizada com computação gráfica, arte e outros recursos. Juntos, os dois servem como testemunhas da História do Brasil, desde a chegada da comitiva de D. João até a proclamação da Repúlica. Figurantes trajando fardas da época esbarram no par, que vai relembrando cada passo de cada episódio, humanizando figuras que, para muitos, só são conhecidas dos sisudos livros de História ou de caricaturas distorcidas pelo tempo. Ficamos sabendo, por exemplo, que D. João era, sim, aquele bonachão que sempre nos apresentam, mas não era o bobão que muitas reproduções fazem crer.

Dan e Lilia se mostram tão à vontade nos papéis que lhes cabem, e Dan muitas vezes faz as vezes do leigo absoluto, provocando todo o conhecimento de Lilia, que soa ligeiramente estranho, eu diria desnecessária, a locução pomposa e over adotada pela produção para completar as narrativas. Sinto que a qualquer momento o tom grave do locutor anunciará algo como “editorial da Band” ou “essa é a opinião do grupo Bandeirantes”. Sua verve oficial põe a perder a viagem coloquial alcançada pelos apresentadores.

De toda forma, vale a pena ser visto, se possível, com crianças e adolescentes na sala.

Toda quinta, 22h50, em quatro episódios, a partir de hoje. Divirta-se aprendendo.

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Cristina Padiglione

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