Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Dani Calabresa quebra jejum de Xuxa na Globo e Adnet faz piada

Dani Calabresa cantou hit de Xuxa e Adnet interrompeu. Foto: Artur Meninea/Divulgação

Ao final do “A Gente Riu Assim”, Daniela Calabresa já se despedia cantando “Tudo o que eu quiser, o cara lá de cima vai me dar…”, quando Marcelo Adnet a interrompeu. Simulando ouvir um ponto eletrônico que lhe soprava alguma ordem no ouvido, ele informou: “Um comunicado da direção informa que não é permitido falar em funcionários que saíram…” Ao que Calabresa retrucou: “mas é a rainha!”

Desde que Xuxa trocou a Globo pela Record, em 2015, seu nome e sua obra não são mencionados nem na emissora nem nos canais pagos da Globo.

O texto de Calabresa nesta quinta foi mais uma “transgressão” do núcleo de humor da Globo, comandado por Marcius Melhem, no sentido de provar que nada é proibido na emissora – ao menos na seara do humor.

Ex-cônjujes, Calabresa e Adnet não se esquivaram de citar a própria separação, mas “a nossa foi no ano passado”, ela disse, para a confirmação dele.

Isso são só firulinhas divertidas da dupla de apresentadores para revisar o ano com viés bem-humorado.

O que interessa é olhar para a iniciativa do “A Gente Riu Assim” com uma sensação de alívio, na melhor convicção de que só o humor salva.

Uma compilação de piadas do  “Zorra”, da “Escolinha” e do “Tá no Ar” mostrou como o humor da Globo está conectado com os assuntos e personagens mais relevantes do noticiário nacional e internacional. Falou-se em Copa, eleições, intervenção federal no Rio, greve de caminhoneiros, escola sem partido, machismo, feminismo, judiciário, religião e conservadorismo de modo geral, sem perder a mão, sem perder a elegância e, principalmente, sem entregar tudo digerido ao público, que ganha então a chance de pensar – veja que bom!

Quase tudo o que se viu ali foi produzido ao longo do ano, apontando para um humor nada atemporal e tampouco perecível, ao contrário: tudo faz parte das reflexões em voga para 2019.

Um clipe inédito encerrou a edição, com letra pautada pela renovação de esperanças inspirada pelo Ano Novo. E a última frase da paródia foi “Ninguém solta a mão de ninguém”, hino compartilhado principalmente entre os derrotados nas eleições presidenciais, temerosos da pauta conservadora que se avizinha.

Há uma posição clara sobre a escolha de um tom progressista, mas sem opção partidária, o que só legitima a proposta. O deboche mira sobretudo intolerâncias de toda ordem.

Mas a emissora arca aí com um ônus e não só por tomar posições em determinados temas. Quanto mais bem informado estiver o espectador desses programas, melhor proveito ele fará da piada, e quando se exige mais do espectador, aumenta-se o risco de perdê-lo para outros canais, onde o riso é mais “fácil”, com aqueles bordões repetidos há décadas (e não por acaso, líderes em audiência nesses tempos da árdua tarefa de informar o público).

Diz o meu otimismo, no entanto, ou assim quero crer, que o alto nível de criação, em vez de afastar todo telespectador com preguiça de pensar, pode contribuir muito para instigar nessa plateia hoje pouco interessada em ler ou assistir jornal, um interesse por notícias pelo viés do humor.

Oxalá.

 

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Cristina Padiglione

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