Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Depoimentos sobre dramas reais de alunos e professores comovem elenco da nova ‘Malhação’

Camila Morgado em encontro promovido pela área de Responsabilidade Social da Globo para 'Malhação: Vidas pelo Mundo'. Crédito: João Miguel Jr./Divulgação

De tanto chorar, Camila Morgado saiu de rosto vermelho, quase roxo, de uma apresentação promovida pela área de Responsabilidade Social da Globo. Era um encontro entre personagens reais do universo escolar e toda a equipe da próxima temporada de “Malhação”, agora com subtítulo batizado como “Vidas Brasileiras”. Na história de Patrícia Moretszohn, prevista para estrear em março, ela será a professora Gabriela, protagonista do enredo que ocupará a vaga da ótima “Malhação: Viva a Diferença”, de Cao Hamburger.

Personagens reais, como Eliane Ferreira, diretora de uma escola na Penha que era conhecida como Carandiru, trouxeram ao encontro relatos que motivaram todo o elenco, além da autora e da diretora Natália Grinberg, responsável pela nova temporada. Para Beatriz Azeredo, que comanda a área de Responsabilidade Social da emissora, a ocasião consagrou um trabalho “de formiguinha” que vem sendo desenvolvido há anos pela casa e vem ganhando adesão cada vez maior de todos os envolvidos em um processo de produção.

“Foi mágico, a Camila chorou o tempo todo, foi nesse nível de emoção”, contou Beatriz ao TelePadi. “Tinham três professores, hoje diretores: um de Minas, que é o Tião Rocha, já foi professor e secretário de educação no interior de Minas, a Janaína, coordenadora pedagógica que se tornou diretora de uma escola da Chapada, na Bahia, numa escola super bem avaliada, e a Eliane Ferreira, que virou o jogo de uma escola na Penha que era conhecida como Carandiru. São histórias do que é lidar com lideranças jovens, como é a relação com os grêmios estudantis, como é abrir a escuta para jovens no dia a dia, a delicadeza do diálogo com a família, histórias muito tocantes.”

Janaína contou que tem duas pistas importantes para tomar conhecimento dos dramas que podem afligir os alunos: banheiro da escola, onde as portas “falam” por meio de desenhos e recados rabiscados, e agendas, onde os jovens anotam tudo. Até casos de abuso sexual de padrasto foram detectados por esses professores, profissionais antenados para muito além do conteúdo didático.

Houve também depoimentos de jovens convidados para a ocasião. Um deles, do Rio, comentou sobre colegas que se cortam, a chamada automutilação. Ao ouvir as histórias dos outros, uma jovem do elenco se levantou e pediu a palavra, para contar que sofria muito bullying na escola, sempre acusada de ser gorda e burra. “Depois das apresentações, a gente fez rodas de conversas entre atores e convidados, e houve um momento em que eu olhava e não sabia quem era do elenco e quem era convidado”, relata Beatriz.

“A Camila anotou tudo em um caderninho e disse: ‘isso mudou totalmente a maneira como eu vou fazer a personagem’. E ela foi atrás das professoras para saber mais.”

Carmo Dalla Vecchia no encontro social promovido para ‘Malhação’. Crédito: Gabi Carrera/Divulgação

Esse trabalho desenvolvido especialmente por uma área na Globo não é exatamente uma novidade na emissora. Mas o departamento, que realiza curadoria para encontrar personagens reais, especialistas e histórias que possem ser úteis a outros setores (inclusive no Jornalismo),  tem conseguido encontrar identidade e interesse cada vez maiores em outros núcleos da casa.

A relação com “Malhação”, por exemplo, sempre foi profícua, dada a oportunidade de explorar assuntos que venham justamente ao encontro do que se entende por responsabilidade social. Foi o time de Beatriz que procurou a Unaids, na penúltima temporada (de Emanuel Jacobina), para sustentar de informações a bela história de um casal sorodivergente, que rendeu uma websérie para a GloboPlay – o spin-off rendeu uma indicação ao Emmy Internacional, na categoria Kids, cujo vencedor será anunciado em abril próximo.

Com Cao Hamburger, Beatriz também promoveu reuniões, pelo menos três, apresentando personagens e histórias que pudessem ser úteis para a temporada atualmente no ar. Mas, na ocasião, os encontros aconteceram em uma sala, com poucos espectadores. Dessa vez, Beatriz abrigou a conversa em um grande galpão e contabilizou pelo menos 50 pessoas na plateia.

“Por conta dessa trajetória, a gente vai ganhando corpo, vai ganhando musculatura, como uma área de referência que pode ajudar. O elenco jovem ficou muito tocado. Sabe quando dá uma catarse? Agora, depois dessa experiência, só quero fazer coisas no galpão, e tem o mérito da  Patricia (autora) e da Natália (diretora), de parar um dia para trazer todo mundo. Elas falaram que não têm palavra para dizer o que ‘vocês fizeram com a equipe’. O que eu falei pra elas foi: ‘espalhem isso’. A gente está a disposição, e às vezes é um desperdício promover esses encontros, que poderiam ser vistos por tanta gente, só para poucos. Então, acho que vale a pena parar um dia todo para ouvir o que essas pessoas têm a dizer.”

A trama

A próxima “Malhação” volta a ter o Rio como cenário, mas as histórias mantêm um pé dentro da sala de aula. Baseada na produção canadense “30 Vies”, “Malhação – Vidas pelo Mundo” vai levantar questões sobre machismo, desemprego, dramas familiares, preconceitos, idealização do corpo e outros temas. Isso passa pela busca de identidade, a aceitação pelo outro, a necessidade de mascarar comportamentos e emoções e criar uma outra realidade para ser aceito na sociedade.

Camila Morgado é a professora Gabriela Fortes, que leciona no Ensino Médio da escola Sapiência. Funcionária do colégio localizado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, Gabriela vai além da sala de aula, para se envolver com problemas dos alunos, o que gera conflitos com sua família, embates com os estudantes, dúvidas sobre seu futuro na escola e, finalmente, o reencontro com seu antigo amor, Rafael (Carmo Dalla Vechia).

Gabriela é casada com Paulo (Felipe Rocha) e mãe de três filhos, Mel (Maria Rita) e os gêmeos, Flora (Jeniffer Oliveira) e Alex (Daniel Rangel), mas na adolescência viveu um romance com Rafael que terminou mal resolvido. Apesar de terem a mesma ideologia e preocupações na vida, as escolhas feitas por ambos no passado foram determinantes para a separação. Mas um novo projeto do colégio com a ONG Percurso vai unir o casal novamente e desestabilizar Gabriela.

O texto de Patrícia Moretzsohn tem supervisão de Daniel Ortiz. O elenco conta ainda com Guta Stresser, Ana Beatriz Nogueira, Luis Gustavo, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes, Mariana Armellini, Andre Luiz Miranda, além dos alunos da escola Sapiência: Alice Milagres, André Luiz Frambach, Daniel Rangel, Dhonata Augusto, Gabriel Contente, Gabriel Fuentes, Guilhermina Libanio, Jeniffer Oliveira, Joana Borges, Leonardo Bittencourt, Luellem de Castro, Pally Siqueira, Pedro Maya, Pedro Vinicius, Rayssa Bratillieri, Tom Karabachian e Yara Charry.

Interessada em mesclar sotaques e rostos que representem melhor o Brasil, a Globo selecionou os jovens que farão 17 alunos a partir de 600 entrevistas distribuídas por São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco e Paraíba.

 

 

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