Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel vê como ‘injusta’ crítica ao JN

O diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel / Divulgação

Diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel reagiu ao texto “Poupado pelo Jornal Nacional, Moro vira paródia no Zorra”. O artigo em questão analisa as diferenças de abordagem entre o humorístico e o noticiário no caso do vazamento dos diálogos entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, durante o processo que resultou na condenação do ex-presidente Lula no caso do triplex do Guarujá.

Leia o texto aqui.

Em resposta assinada por ele, Kamel rechaça a comparação de tempo feita entre os ministros do Supremo Tribunal Federal, STF, na edição de terça, quando o parecer de Luiz Roberto Barroso minimizando o impacto dos grampos sobre as sentenças resultadas da Operação Lava-Jato toma bem mais tempo que a soma do tempo consumido pelas declarações de Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, igualmente membros do Supremo, no sentido contrário. Para Kamel, o texto comete uma injustiça ao não considerar a fala do advogado de Lula, Cristiano Zanin, na mesma reportagem.

A autora do texto, no caso, apenas argumenta que a fala de Zanin deve ser comparada às falas de defesa consumidas pelo próprio Moro e por Dallagnol, o que não foi considerado na conta que trata dos ministros do Supremo. Mesmo assim, o diretor discorda e acredita que o JN não poupou Moro, pois, se somadas as defesas de associações de juízes, OAB e procuradores, mais ministros do STF, “o contra daria de cem a zero no a favor”.

De todo modo, como cabe a um espaço democrático, fica aqui o seu registro:

“O texto ‘Poupado pelo Jornal Nacional, Moro vira paródia no Zorra’ é, ao mesmo tempo, contraditório, injusto e faz confusão com regras básicas do jornalismo e do humor. Se, como admite o texto, ‘A Globo deu amplo espaço ao assunto desde domingo, no ‘Fantástico’, quando o vazamento começou a ser divulgado pelo site The Intercept Brasil”, como pode ter poupado Moro? Os diálogos publicados pelo Intercept foram exibidos em longas reportagens no Jornal Nacional (elas estão à disposição de todos no Globoplay para comprovação). A colunista alega, então, que o JN deu ênfase ao noticiário sobre as investigações da PF sobre o hackeamento de autoridades. Não é verdade, o JN noticiou a apuração da PF como era o seu dever. A Folha de S.Paulo, em cujo site a autora publica o seu artigo, fez o mesmo. No dia 11, o jornal deu meia página ao assunto, no dia 12, também, e, no dia 13, dedicou 2/3 de página. Cumpriu com a sua obrigação como o JN. A coluna é injusta com o Jornal Nacional porque compara os tempos dedicados, na edição de terça-feira, aos ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio, do STF, contrários a Moro (ao todo 51 segundos), com os 100 segundos que o JN dedicou ao ministro Luiz Roberto Barroso com uma declaração mais positiva ao então juiz. Mas a autora omite que, na mesma reportagem, o JN trouxe uma declaração de 54 segundos do advogado de Lula, contra Moro. Ora, somada essa fala de Cristiano Zanin às dos ministros Gilmar e Marco Aurelio, temos 105 segundos de declarações negativas a Moro e 100 segundos de positivas. Onde está o desequilíbrio? No JN de sábado, dia do esquete do Zorra mostrado na coluna, o JN dedicou três minutos e quarenta e cinco segundo a novos diálogos divulgados pelo Intercept e mais quarenta e cinco segundos de uma nota da defesa de Lula contra o ministro Moro. Sem nada esconder, sem poupar ninguém. Por fim, espanta que a autora compare humor e jornalismo, como que a sugerir que fosse possível o humor tratar os fatos com a responsabilidade e acuidade do jornalismo e o jornalismo tratar os fatos com a leveza e ironia do humor. O JN não é imune a críticas, mas não pode deixar sem resposta tentativa de estabelecer narrativas tão injustas.”

Assina: Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.

Leia também:

Poupado pelo Jornal Nacional, Moro vira paródia no Zorra

Ao sugerir contradição de Moro, quado de humor da Globo faz jornalismo

 

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione