Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

“Dá mais trabalho do que imaginei”: Porchat, sobre talk show na Record

Não é qualquer entrevistador do sexo masculino que pode se dar ao luxo de explorar com Luana Piovani todos os detalhes sobre a turbinada de silicone que a atriz resolveu colocar nos peitos (leia aqui). Fábio Porchat tem, a favor de si, o humor que faz tudo parecer mais leve, mas também um tom de bom moço que o afasta por completo de qualquer conotação cafajeste: por mais sacana que tente parecer, como disse a própria Luana, ele não sabe ser malvado. Bom moço não significa “bonzinho”, termo que denota uma certa falta de respeito por quem é acusado como tal. Isso não. No Prêmio Multishow, por exemplo, Porchat não perdeu a chance de provocar a cantora Paula Fernandes sobre sua desastrosa apresentação com o italiano Andrea Bocelli.

Passados 40 dias de seu novo expediente, ele ainda se surpreende com o fato de estar nos jornais todos os dias, em notas que falam dele em seus mínimos passos, em função do novo programa, não importa se mal ou bem. É seu primeiro programa na TV aberta, o que explica a lente de aumento na exposição. Como bicho criado e crescido na internet, com serviços prestados à TV paga (Multishow, onde faz o “Tudo Pela Audiência” e FOX, que exibiu a primeira e única série para a TV do Porta dos Fundos, do qual é um dos sócios-fundadores), ele ainda se habitua à necessidade que a TV aberta tem de ser redundante, e até sofre um pouco pela incansável busca por originalidade.

“O Fábio é uma pessoa que realmente pensa e mantém a ideia de não se repetir, está sempre em busca da originalidade, que é uma necessidade que a internet tem, para captar cliques, mas a TV aberta trabalha com outra dinâmica”, conta-nos o diretor do programa, Diego Pignataro. “É um programa diário, se você não repete determinadas coisas, aquela criatividade, aquela usina de ideias, em algum momento, vai se esgotar, não pela falta de capacidade, mas é uma questão física”, continua. “Ele vem do mundo on demand, que tem outra dinâmica. Na TV, você não só pode repetir, como deve se repetir. Uma piada pode voltar e pode voltar melhor. Ele agora está aceitando essa possibilidade e convivendo com isso de uma forma muito melhor. Melhorar aquilo que já fizemos também é melhorar. Não significa que repetir o que funcionou é ser menos criativo, é oferecer oportunidade para as pessoas. Não pode virar um programa que descarta muita ideia, achando que todo mundo assistiu.”

O TelePadi visitou Porchat em seu camarim, na Record, onde grava de segunda a quinta. O programa inflou em quase 100% a audiência da Record e em mais de 100% o ibope do canal pago TBS, que exibe as edições com um dia de atraso em relação à exibição original. As entrevistas até são gravadas com alguma antecedência, coisa de um ou dois dias, para dar mais prazo ao trabalho de edição. Mas aquele texto de abertura que antecede as entrevistas é feito no mesmo dia em que vai ao ar pela Record, para manter a temperatura das piadas.

Eis aqui a nossa conversa, aberta com um aperitivo em vídeo:

Eu queria saber de você se fazer o programa está sendo mais difícil do que você pensou?

Já tem uns quarenta programas. É mais difícil, dá mais trabalho, é um volume muito grande. porque eu não consigo simplesmente chegar aqui e gravar. ‘Quem é hoje?’ ‘Ah, é a Luana Piovani e vamos lá. Eu vou na redação antes, a gente fica pensando em quadros, brincadeiras, a pesquisa de quem é ela, como é que vai acontecer, que dia vai entrar. eu participo das ações de merchan, eu participo de tudo o que está acontecendo. Eu só não vou na edição, senão eu não tenho vida de verdade.

E a elaboração dos convidados, é uma coisa mais complicada?

Não, isso não, é tranquilo, isso nunca me preocupou. O Danilo (Gentili) tá há cinco anos fazendo e tá tudo certo. Ele é um boi de piranha bom, a gente vê que funciona. O próprio Jô, na época do SBT, não tinha tanta gente assim em outras emissoras e nem era permitido ir a lugar nenhum. Com os convidados eu tô tranquilo. Acho que daqui a dois anos é que eu vou começar a me preocupar, quando eu começar a repetir pessoas. Aí é que eu vou dizer: ‘e agora?’ Mas dá muito trabalho. E TV aberta tem uma pressão que fala-se de você todo dia, ou alguma coisa verdadeira, ou mentirosa, ou aumentando alguma coisa ou diminuindo, ou dizendo que a audiência foi maravilhosa ou foi péssima, ou dizendo que o Fábio fez isso ou fez aquilo. Todo dia tem uma batalha a ser vencida, sempre alguém falando. Isso dá uma certa zonzeira. mas como a gente tá num trilho legal, estreou com audiência boa, o programa foi bem aceito pela crítica, bem aceito pelas pessoas, isso dá uma tranquilidade. E por ser um programa diário, facilita a vida. Errei hoje? Amanhã já corrijo, é de um dia para o outro. Imagina se fosse semanal, e eu vou aprendendo todo dia.

Você acha que essa exposição toda é um efeito da TV aberta?

é. Sempre tem alguém falando alguma coisa. Engraçado, eu vejo agora menos comentários de haters e mais comentários de imprensa. Agora, todo dia tem uma nota do (Maurício) Stycer (do UOL), tem uma nota da Veja, às vezes até falando bem, as tem. A gente fica mais exposto.

E essa possibilidade de você se corrigir no dia seguinte sobre eventuais coisas que não deram certo deve ser um alívio, pra quem grava no ritmo do “Tudo Pela Audiência”, por exemplo, em que você só tem a possibilidade de ajustar na gravação da temporada seguinte, no outro ano.

Isso que é bom de o programa ser quente. De pegar o que tá acontecendo hoje, o Eduardo Cunha foi preso, pá.

Você consegue gravar todos os dias?

Os monólogos eu gravo no dia, mas as entrevistas, até por uma questão de edição, a gente sacou que era melhor gravar pelo menos um dia antes. O João Kléber eu gravei na véspera. Mas Simone e Silmara eu gravei dez dias antes. E me dá uma tranquilidade de gravar, não precisa gravar só 30 minutos certinhos pra editar pouquinho. O Jô, por exemplo, grava tudo de uma vez. O Jô é o Jô e ele tem só 30 anos de experiência. Eu tenho só 30 dias. Mas eu vou entrevistando e tem assunto que rende mais, tem assunto que rende menos. Então, é bom poder editar com calma.

Você está conseguindo levar o Porta dos Fundos no ritmo de antes, ou não?

Agosto e setembro eu não fui. Fico em São Paulo de segunda a sexta. Vou fazer peça de sexta, sábado e domingo no Rio, e aí gravo Porta dos Fundos. Tem reunião de roteiro na sexta, fim da tarde, e gravo o Porta dos Fundos de 15 em 15 dias, gravo uns três esquetes de uma vez, no sábado ou no domingo.

E escreve roteiros ainda?

Sim.

Você dorme quantas horas por dia?

Seis tá bom, mas eu diminuí todo o resto. O “Tudo Pela Audiência”, a próxima temporada, não vai gravar agora, é bem lá pra frente, que é justamente para o programa (da Record ) se estabelecer. Afinal de contas, a gente está em outubro, é muito pouco, estreou em agosto. Por isso é que eu estou tão feliz de já ter acertado em algumas coisas e de o programa ter entrado num trilho. As pessoas precisam saber que eu tenho um programa nesse horário.

É, porque a Record nunca teve um talk show.

A Record nunca teve um programa de humor, e geralmente, nesse horário, à 1h da manhã, na Record, passa programa religioso. As pessoas precisam saber que tem muitas coisas diferentes acontecendo. Ontem, por exemplo, a gente já foi vice-líder e em alguns momentos, fomos líderes. Na segunda-feira, já estamos conseguindo reverter e entregar o horário com mais ibope do que a gente recebe. Nesse horário, reverter, é muito difícil, porque a tendência é que as pessoas vão desligando a TV.

Nesses 40 programas, já enfrentou alguma restrição sobre o que pode ou não ser dito?

Tá muito livre, a gente já fez piada do Edir Macedo.

Mas não com o (Marcelo) Crivella?

Mas aí não pode por causa da legislação eleitoral, não pode com ninguém que é candidato. Mas tem piada do Cunha, do Lula. O resto não pode. Alguém já falou que foi devoto de Nossa Senhora. A da Ana Hickmann, na segunda-feira, foi bem legal, ela falou de detalhes do sequestro. O meu medo, e é o que eu tento fazer, é não ficar um programa só de brincadeira, é equilibrar a conversa e a brincadeira.

Mas tem uma atração por personalidades lado B, alguma bizarrice?

Como assim? Aqui?

Aqui e também no Danilo. No Jô, menos, claro, ele tem mais elenco à disposição.

Mas quem, por exemplo? Você vai dizer que o Justus é bizarro?

Não, que o Justus é da casa, mas qual a relevância de entrevistar a Gretchen, por exemplo?

Ah, mas a gente traz a Gretchen porque não pode trazer a Glória Pires. E a gente tem bons da casa: (Roberto) Justus, Ana Hickmann, Marcelo Rezende, Sabrina, Mion, mas no fundo tem gente de fora também, tem  sertanejo pra caramba.

 

 

 

 

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Cristina Padiglione

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