Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Em contexto político tenso, SBT muda chefia de jornalismo em Brasília

O repórter Galton Sé faz reportagem em Brasília sobre o vazamento de dados do presidente e de seus filhos / Reprodução YouTube

Enquanto o Brasil atravessa crises na política e na econômica, precedidas pela maior crise sanitária que aqui já existiu, o SBT está trocando sua chefia de jornalismo em Brasília: dispensou Ederson Granetto, que ocupava o posto desde março de 2017, e contratou Luiz Weber, ex-secretário de redação da sucursal da Folha de S.Paulo em Brasília e ex-colunista de judiciário na versão online. Weber também passou pelo comando das redações da revista Época e do jornal O Estado de S.Paulo na capital federal.

Consultada pelo blog, a assessoria de comunicação do SBT atribuiu o fato a “troca rotineira de redação”. A emissora nega que o caso tenha sido uma consequência de pressões políticas na capital do país, foco do poder executivo de Jair Bolsonaro. O presidente tem cobrado dos veículos de comunicação aliados, caso do SBT, posições editoriais que não o desagrade.

No último dia 23, por ordem de Silvio Santos, a edição do SBT Brasil foi suspensa para não ter de repercutir o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, divulgado na véspera, onde Bolsonaro reclamava sobre a falta de informações relacionadas à segurança de sua família e amigos, pedindo uma troca de comando no Rio de Janeiro. Na mesma ocasião, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sugeriu prender os juízes do STF e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que seria conveniente aproveitar a pandemia, atual foco da imprensa, para aprovar leis ambientais que permitam “passar a boiada”.

No domingo (24), Silvio reprisou antes e depois de seu programa uma edição de sete minutos do vídeo, bem parecida com a que o próprio Bolsonaro compartilhou em suas redes. Naquela noite, pelo menos dois anúncios do governo ocuparam a programação: um do Ministério da Educação e outro, do Banco do Brasil.

Um mês antes, o patrão se manifestou oficialmente com uma nota oficial, algo raríssimo no seu histórico, para garantir que não havia dado pitaco na troca do ministério da Saúde, já que trata o presidente com um “patrão”, em razão de a televisão ser uma concessão do estado.

Silvio nunca ousou desafiar a distinção entre o Estado e a pessoa física que o governa.

A edição do SBT Brasil de 22 de maio, que teria desagradado o governo a ponto de a edição de sábado ter sido suspensa, foi de todo modo finalizada pelo comando do jornalismo do SBT em São Paulo. É dali que partem as ordens de pauta para Brasília. A equipe da sucursal, no entanto, viu a saída de Granetto como resultado de uma pressão política, conforme o blog ouviu de ex-subordinados dele.

Eis o comunicado distribuído pelo SBT aos jornalistas da casa:

“Ederson Granetto deixa o SBT na data de hoje. No período de pouco mais de três anos em que esteve na Gerência de Jornalismo de Brasília, pudemos sempre contar com sua vasta experiência e integral dedicação na intrincada cobertura dos assuntos da Capital Federal e no acompanhamento do cotidiano da cidade.

Em seu lugar, assumirá Luiz Weber, ex-secretário de Redação da sucursal da Folha de S. Paulo em Brasília e ex-colunista de Judiciário no site do jornal. Sempre em Brasília, Weber dirigiu e chefiou redações importantes como a da Época e do Estadão.

Ao Ederson, o agradecimento pela inestimável contribuição. Ao Weber, as boas-vindas à guerreira equipe do Jornalismo do SBT.”

 

Weber ainda não estreou no cargo.

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