Pesquisadora de ‘Mad Men’ conta como ajudou a reproduzir os anos 60 na série
Se você é um dos tantos espectadores que se deslumbrou e se comoveu com “Mad Men”, uma das séries mais icônicas da chamada Era de Ouro da TV americana, saiba que a irrepreensível reprodução de época e autenticidade histórica que promoveram um retrato fiel dos homens e mulheres frequentadores da Madison Avenue nos anos 1960 passam longe de serem obra de um simples trabalho de figurino e cenografia.
Na época da realização do programa, a diretora-chefe de pesquisa da série, Allison Mann, criou uma linha do tempo histórica detalhando eventos notáveis de cada período coberto por cada episódio, incluindo manifestações culturais, políticas, hábitos e notícias da época, relacionadas ou não ao mundo dos negócios. À medida que os scripts eram desenvolvidos, Allison trabalhava com os escritores para garantir exatidão nas histórias, consultando não apenas livros e publicações da época, mas também acadêmicos, historiadores e, claro, profissionais de publicidade, advogados e médicos com experiência vivenciada naqueles dias.
“Eu distribuía um calendário descrevendo o que estava acontecendo no mundo real no qual aquela agência de publicidade fictícia estava situada, ao mesmo tempo em que as cenas dos episódios estavam ocorrendo.”
Allison participou de dois encontros nesta terça-feira, em São Paulo, com o publicitário Jeffrey Sharlach, fundador do Jeffrey Group – um deles promovido pela Folha e pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), às 18h, com transmissão pelo site do jornal.
Ainda pela manhã, os dois estiveram presentes em seminário realizado para celebrar os 25 anos do Jeffrey Group, em um hotel nos Jardins. Para a plateia presente, ouvir a trilha de abertura de “Mad Men” enquanto os dois eram apresentados diante de pouco mais que 50 convidados foi uma viagem no tempo (para muitos, nostalgia de um tempo não vivido, o que é mais fantástico)
Sharlach é de uma geração posterior à da turma de Don Draper (Jon Hamm), protagonista do enredo de Matthew Weiner, mas, assim como o personagem e seus amigos fictícios, também trabalhou na Madison Avenue quando a publicidade emanava todo aquele glamour, devidamente regada a muito malte de uísque e fumaça de cigarro.
Sharlach lembrou que quando começou a trabalhar no ramo, as pessoas fumavam muito e saíam de vez em quando do escritório para respirar um pouco de ar na rua. “Hoje, as pessoas saem à rua para fumar”. O publicitário, no entanto, não acha que o mundo mudou tanto assim: “Para pessoas como eu, que cresceram nos anos 1950, a vida de então não era tão diferente da vida hoje. As casas são basicamente as mesmas, as famílias tinham carros e podiam voar em jatos comerciais. O que mudou mesmo foi a comunicação”, decreta.
“A comunicação era um mundo diferente. Sem TV a cabo, sem internet, sem e-mail. Sem telefones celulares. Então, onde vemos mudanças realmente transformadoras é no campo da comunicação”.
Allison cita o episódio de “Mad Men” em que a primeira máquina copiadora chegou ao escritório da agência da série, gigantesca, roubando a cena. “Antes disso, fazer várias cópias de qualquer coisa era uma tarefa muito demorada e cara”. Para a pesquisadora, “não apenas as comunicações das empresas eram organizadas, mas as pessoas tinham ideias bem definidas mesmo sobre a maneira correta de se viver bem, e quem não seguia esses ideais acabava relegado ao ostracismo”.
Com 92 episódios distribuídos por sete temporadas, “Mad Men” é produção que merece ser vista e revista. Realizada pelo canal AMC, a série foi exibida aqui pela HBO e hoje está disponível na Netflix.