Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

A tragédia da Chape: Esporte Interativo traz documentário da CNN com detalhes inéditos

O canal Esporte Interativo exibe nesta sexta, às 20h, o documentário “Chapecoense: o lado obscuro da tragédia”, uma produção exclusiva da DocuFilms da CNN en Español, que será exibida em vários países da América Latina.

O programa promete detalhes inéditos do episódio, ao resgatar o que motivou a queda do avião da companhia boliviana LaMia que levava o time catarinense e uma equipe de jornalistas a Medelín, na Colômbia, no dia 28 de novembro de 2016. A aeronave se chocou contra uma montanha no município de La Unión (departamento de Antioquia). O episódio, que incluiu tantas irregularidades que talvez nem possa ser chamado de “acidente”, deixou 71 mortos e 6 feridos.

Uma equipe de jornalistas – liderada pelo correspondente Barão Francho – realizou uma longa investigação por mais de um ano em seis países. O documentário vai ao ar também na CNN Españul (pena que a maioria das operadoras tenha aberto mão desse canal no Brasil) no domingo, às 20h.

A investigação oficial, liderada pela Colômbia, concluiu em abril que a LaMia era uma empresa com múltiplas deficiências organizacionais, econômicas e operacionais que comprometiam a segurança de seus voos. Também chegou à conclusão de que a tripulação decidiu continuar com um voo que comprovadamente não tinha combustível suficiente para chegar ao seu destino com segurança.

A questão é: por que essa situação não ficou clara para as autoridades colombianas, bolivianas e brasileiras? Mais de 60 fontes, em dez países, foram ouvidas, e centenas de documentos amparam a reconstituição dessa história.

 “Chapecoense: o lado obscuro da tragédia” tenta responder a estas perguntas:

  • Qual foi a verdadeira causa do acidente?
  • O piloto realmente era culpado, ou as autoridades de três países poderiam evitar essa tragédia?
  • Houve corrupção ou tráfico de influência para a companhia aérea iniciar as operações?
  • Quem são os personagens até agora escondidos desta história?
  • Quem deve responder às famílias das vítimas?

 Nesta investigação rigorosa, a CNNE reconstruiu aspectos até então inéditos da tragédia da Chapecoense e documenta algumas informações anteriormente tratadas como boatos.

Saberemos que o empresário Ricardo Albacete é um dos responsáveis pela Lamia e pode ser cobrado por isso. Até então, sabíamos de dois donos, um que morreu e outro que fugiu. O doc explica quem é ele e qual o seu envolvimento no episódio. O programa ponta ainda que há um investidor chinês por trás da companhia aérea, um sujeito com conexões impressionantes, que trabalhou no serviço de inteligência chinesa.

Há ainda o confronto de uma informação relevante e pouco explorada até aqui: a Chape fez um voo anterior com a LaMia, que já havia sido cheio de problemas e fez com que o time tivesse chegado cansado ao seu destino. Um dos dirigentes do time chega a comparar a insistência em voltar a voar com a LaMia ao fato de ela ter levado o time a um jogo que o classificou para a final, o que justifica a repetição de todos os passos que até ali “deram certo” (ou deram sorte, como os boleiros místicos costumam dizer). O repórter então lembra que no dia seguinte à tragédia, ninguém mencionou os problemas do voo anterior, levantando aí uma suspeita de que a opção pela LaMia foi de fato uma escolha por custos mais baixos.

Embora Evo Morales, presidente da Bolívia, tenha dito que não tinha a menor ideia do que era a LaMia, o doc mostra que o presidente boliviano viajou pela companhia, que só tinha aquele avião, dez dias antes do acidente, endossando o fato com fotos dele ao lado do piloto que veio a morrer na queda da aeronave.

Reproduzo abaixo, uma entrevista que o correspondente Francho Barón, baseado no Rio de Janeiro, respondeu à CNN sobre a produção:

O que se pode esperar deste documentário?
Francho Barón:
Você pode esperar duas coisas: Confirmação através de dados, documentos e depoimentos de várias informações que em grande parte ainda eram tratados como rumores ou dados imprecisos e que agora são informações confiáveis. E também outras informações não publicadas que provavelmente irão surpreender nosso público.

Qual foi o maior obstáculo que você encontrou nesta investigação?
FB: 
Trabalhamos com fontes, informações e documentos de 10 países, 6 deles sul-americanos. Processos judiciais em andamento no Brasil e na Bolívia, uma investigação na Colômbia, etc … Colocar ordem em todos esses elementos e dar forma editorial foi, possivelmente, o maior desafio da minha carreira jornalística. Mas não foi meu só mérito. Felizmente, uma equipe extraordinária de profissionais da CNN me acompanhou ao longo do caminho.

Você acha que este documentário terá algum impacto no setor aéreo latino-americano?
FB: 
Isso terá que ser decidido pelo próprio setor. O que eu considero é que, à luz da vasta informação coletada, havia uma aparente falta de controle de uma companhia aérea que trabalhava num terreno irregular, e que talvez isso pudesse ter sido evitado se houvesse um rigor maior na aplicação dos regulamentos vigentes. O setor deve tirar suas próprias conclusões.

Conte-nos algo sobre o que podemos ver neste trabalho…
FB – 
No documentário nos aprofundamos em três aspectos:
1. A radiografia de uma companhia aérea sem recursos que foi fundada e operada com grandes irregularidades com uma aparente falta de supervisão de organismos e instituições.
2. Levantamos uma questão: quem deve responder financeiramente aos familiares das vítimas?
3. Nós fornecemos detalhes inéditos que acabaram determinando um cenário perfeito para culminar em um acidente.

Muito tem sido dito sobre o acidente … uma questão importante é se o piloto foi realmente responsável pelo que aconteceu, ou se outras responsabilidades poderiam ser estabelecidas?
FB – 
Isso deve ser determinado pela justiça, mas é claro que neste documentário há várias evidências de que essa companhia aérea deveria ter um controle maior. Com base nisso, outras responsabilidades podem ser estabelecidas. Mas, por outro lado, também está claro que a tripulação tinha parte da responsabilidade de ter voado sem combustível necessário para chegar ao seu destino.

Conte-nos, em linhas gerais, como foi o processo de produção deste documentário e que recursos utilizaram?
FB – 
Foi mais de um ano de pesquisas, várias viagens a 6 países, mais de 60 fontes consultadas em 10 países, 4 meses de discussões editoriais e mais 3 meses de edição e pós-produção. No total, um trabalho conjunto de mais de 30 excelentes profissionais.

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Cristina Padiglione

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