Executivo competente e sem filtro, Alberto Pecegueiro deixa comando da Globosat após 25 anos
Executivo que esteve desde sempre no comando da Globosat, há 25 anos, Alberto Pecegueiro está deixando o cargo, conforme anunciou o Grupo Globo nesta segunda-feira (18). Ele passa a integrar os conselhos administrativos das joint ventures da qual o Grupo Globo faz parte.
Pecegueiro representa hoje um recorde no meio televisivo. Não há chefão que tenha se mantido por tanto tempo no topo das decisões de um grupo ou mesmo de um único canal neste milênio, época de vaivém frenético nos postos de comando dos grandes grupos de mídia, excluindo, é claro, aqueles que são donos do negócio.
O executivo chegou à Globosat quando a programadora se resumia aos canais SporTV, GloboNews, GNT, Multishow e Canal Brasil, abriu portas para joint ventures de estúdios com o Universal e o Telecine, que se desdobrou em quatro, mais Megapix. Sob suas asas, nasceram o Viva, o Gloob, o Off, o Globosat+ e o Bizz, sem falar na multiplicação dos canais SporTV.
Todo ano, quando a Converge, empresa que edita a publicação Tela Viva, convida Pecegueiro a participar de painéis e fóruns sobre o setor, ele é uma das maiores alegrias dos repórteres. Alheio aos preceitos de media training que colocam um filtro no discurso dos executivos, Pecegueiro sempre primou pela sinceridade, muitas vezes arriscando até desafiar o politicamente correto. Sempre prevaleceram, no entanto, as boas informações e percepções trazidas por ele em cada debate, expondo anseios, aflições e méritos de um setor que cresceu até quatro anos atrás, quando a TV paga entrou em retração.
O tempo mostrou que ele estava certo na maioria das previsões que apresentava nessas ocasiões, e talvez a mais relevante delas seja a percepção de que a Turner não teria como bancar as altas apostas feitas pelo canal Esporte Interativo para arrancar do SporTV e da Globo a exclusividade sobre alguns dos times do Clube dos 13 nos campeonatos regionais e nacional. De fato, o EI sucumbiu, deixou de ser canal, e alguns dos clubes que fecharam com a Turner há alguns anos se viram num impasse de não terem seus jogos transmitidos por um canal de esportes.
Não é bola de cristal, mas a segurança de quem está no jogo faz tempo. Daí a importância que qualquer previsão sua tinha, mesmo em conversas reservadas, para outros profissionais do ramo. O que Pecegueiro dizia sempre era levado a sério e valia como prognóstico.
Num momento em que a Globo planeja promover uma troca de várias mãos entre suas plataformas e canais, faz sentido que ele tenha também uma atuação no time que discute os destinos do grupo.
Abaixo, o comunicado distribuído pela Globo:
“Após 25 anos à frente da Globosat, construindo a maior programadora de TV por assinatura da América Latina, o diretor-geral Alberto Pecegueiro decidiu encerrar suas atividades executivas na empresa, em janeiro de 2020.
A vida profissional de Alberto se confunde com a história da TV paga no Brasil. Todos os movimentos relevantes da indústria, desde o seu nascedouro, contaram com a sua participação e liderança. Pecegueiro implementou o nosso modelo de programação baseado em parcerias nacionais e internacionais. Além de estimular a entrada e o investimento de canais internacionais no país, teve uma atuação relevante no desenvolvimento dos produtores independentes brasileiros e em diversos outros elos da cadeia de geração de conteúdo: não é por acaso que a TV paga brasileira é a que possui mais conteúdo nacional na sua programação no mundo ocidental, fora os Estados Unidos.
A Globosat chegou a realizar parcerias com mais de 100 produtoras independentes. No esporte, os canais Globosat participam de forma significativa da cobertura esportiva dos mais importantes campeonatos nacionais e internacionais, criando também o formato pay-per-view a partir do Campeonato Brasileiro de 1998. Ao longo desses anos, os canais da Globosat e seus produtos originais receberam algumas das mais prestigiosas premiações da indústria. Tudo isso produziu a sólida liderança da Globosat, hoje com mais de 30 canais por assinatura, líder disparado de audiência no país. E conseguiu construir uma organização de 2.300 colaboradores engajados, competentes e que vibram pelo negócio. Uma equipe talentosa, que carrega a marca da informalidade e do bom humor do Alberto.
Em período mais recente, Alberto Pecegueiro participou, com sua energia e conhecimento, das reflexões e decisões sobre o futuro da Globo, tendo contribuição decisiva na formulação da nova estratégia de negócio e na discussão do nosso novo modelo organizacional, anunciado no último dia 8. Com inquestionável experiência acumulada no lançamento de canais próprios e na formação das quatro ‘joint ventures’ da qual fazemos parte – Telecine, com a Fox, MGM, Paramount e Universal; Canal Brasil, com alguns dos maiores produtores do cinema brasileiro; Universal, com o grupo Comcast/NBC Universal; além de uma empresa de conteúdos adultos com o grupo Claxson -, Alberto foi sempre o nosso olhar atento para os grandes movimentos da mídia do mundo, tendo tecido ao longo desses anos uma rica rede de relacionamentos e amizades na nossa indústria.
Será para nós uma perda não ter Alberto na equipe de liderança executiva da Globo de janeiro em diante. Mas ficamos felizes de continuar contando com sua colaboração em outro formato, como nosso representante nos conselhos de administração das quatro ‘joint ventures’ da qual fazemos parte, e no apoio às negociações com nossos parceiros de distribuição.
Para Alberto, nossos mais sinceros agradecimentos por todos os anos de dedicação e parceria. E que esta nova etapa, que se inicia a partir do próximo ano, seja tão prazerosa quanto a que nos trouxe até aqui.
Roberto Irineu Marinho – Presidente do Conselho de Administração
Jorge Nóbrega – Presidente-executivo”