Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Fafá de Belém é performance sensacional no ‘The Voice +’

Favá de Belém pronta para o 'The Voice +' Foto: João Miguel Jr./Divulgação

 

Por Sérgio Ribas

 

A cantora Fafá de Belém tem iluminado as tardes de domingo da Globo com sua participação como técnica-jurada da segunda temporada do “The Voice +”, o show de talentos que reúne cantores com mais de 60 anos.

Aos 65, vitalidade máxima, Fafá personifica, pela intensidade da presença, algumas questões relacionadas ao etarismo –o preconceito por causa da idade–, sobre as quais discorre com seriedade, leveza, alegria e prazer.

Ainda que o nome da cantora agora pareça uma escolha necessária ou estratégica –para legitimar o “lugar de fala” em sociedades mais longevas–, Fafá surge soberana como a única “sessentona” entre os técnicos. Carlinhos Brown e Tony Garrido, outras participações marcantes da atração, têm, respectivamente, 59 e 54 anos.

Para muito além da idade, Fafá desfila carisma e inteligência com disposição que dá nova dimensão ao slogan-clichê do programa, que insiste que “sonhos não envelhecem”.

Com a gargalhada mais conhecida e cativante do país, a cantora também não economiza em lágrimas. Assim, entregue às emoções, potencializa o vocabulário, o repertório e a expertise adquiridos em uma carreira de quase 50 anos na música.

Não há, na voz de Fafá, comentário que seja desprovido de pertinência e adequação. Ao viver cada instante do espetáculo, ela leva junto a audiência. É biscoito fino para as massas.

“Hoje vou salvar a Bossa Nova”, argumenta, ao escolher uma das candidatas. “Ele é aquele vitrolão de ficha, do Brasil mais profundo”, afirma, em outra avaliação. “Esse jazz ‘bluesziado’ é a resistência. Inacreditável”, defende mais adiante ao analisar outra performance e constatar,  aos risos, que a competição ali é “barra pesada”.

Técnica mais prestigiada inclusive pelos participantes do programa, o destaque individual de uma estrela do showbiz parece, pelo menos sob a perspectiva do telespectador, gerar mais contentamento e admiração do que ciúmes.

“Você foi um baita presente que a gente ganhou no programa. Você é sensacional”, disse o apresentador André Marques, dirigindo-se à cantora ao reproduzir o elogio que, ele diz, ouve nas ruas. Motivos para tanto não faltam (leia a seguir).

A VOZ FEMINISTA

Aos prantos, tendo que decidir entre três candidatas –definindo quem seguiria e quem deixaria a competição–, Fafá faz a seguinte avaliação: “São três mulheres que orgulham muito (…). Vocês, aqui, dão uma aula para todo um país. De dizer não à invisibilidade. De dizer: ‘existimos! Temos sonhos! Temos desejos! Não vamos ficar nas gavetas que querem nos colocar’. Então é muito emocionante ter três mulheres do quilate de vocês no meu time. Com vozes tão particulares e com esse feminino tão fabuloso, destemido e corajoso. É uma honra ter vocês. Muito obrigado, minhas meninas”, disse às três candidatas, uma de 89 anos e outras duas de 63.

A EMOÇÃO DO TEXTÃO

Com plena consciência do significado, na carreira e na vida, de sua presença regular, ao longo de meses, na programação semanal da emissora mais influente do país, Fafá comemorou o dia da estreia com a seguinte reflexão, publicada em uma rede social. “Tenho 65 anos, a música sempre me conduziu pela mão, mas sou muito inquieta, improvável e irregular. Acho que por isso me pareço tanto com o povo deste país. Eu não tenho método, não me rendo, não me submeto. E como grande aliada, Deus me deu essa gargalhada que me faz abrir caminhos e também segurar ou disfarçar algumas lágrimas. (…) Não sei o que é tempo e espaço, eu simplesmente vou. (…) E a mensagem do The Voice + para mim é: nós não temos limites e quanto mais vivemos, mais podemos aprender e ensinar. Todos os tombos são ensinamentos, todas as curvas são ensinamentos. E todas as alegrias são ensinamentos.”

RESPIRA, NÃO PIRA

Como artista brilhante, avó-coruja ou simples mortal – com comentários sobre a vida e o mundo ou eventuais receitas publicitárias–, Fafá segue a cartilha que faz usar as redes sociais como uma extensão, um complemento para manutenção de interesse contínuo da audiência. Prestes a chegar à marca de 1 milhão de seguidores, parece se divertir também como telespectadora do The Voice +, a que ela assiste largada na cama, fotografando a tela da TV e compartilhando, em tempo real, imagens de candidatos mais emojis animadíssimos para deixar claro que a participação e a entrega, bem ao estilo dela, são plenos, de domingo a domingo.

FOI ASSIM

Das artistas mais importantes e atuantes na história da redemocratização do Brasil nos anos de 1980, Fafá, insubstituível nas Diretas Já,  segue potente como voz de resistência, a exemplo do que fez em 2019 nos palcos, antes da pandemia, como o show Humana, em que refletia inclusive sobre “a vida fora das mídias sociais”. “Sou uma mulher que segura a onda enquanto o barco passa, jamais fiquei calada. Eu não vou deixar de me posicionar”, disse, na época do show. Na TV, opinião agora vira poesia. “Você tem o Nordeste na fala, na atitude. É uma voz dura, mas é uma voz doce. Fiquei encantada porque você trouxe o chão desse país. Quando a gente olha para o interior do Brasil, a gente se reconhece porque nada é mais mundial do que o nosso quintal”, disse no The Voice +, cujo formato original vem da Holanda, onde a expectativa de vida é de 82 anos.

A DONA DO LOOK TODO

Depois de se libertar das tinturas de cabelo e adotar o visual com fios completamente brancos, Fafá, que trabalha em parceria com o stylist Daniel Ueda, parece ter o domínio absoluto sobre a própria imagem e sobre a linguagem do figurino para TV, inclusive porque, como tem diferentes etapas  gravadas em único dia, o programa faz com os técnicos-jurados acabem passando vários domingos com a mesma roupa. Na tela, esse é um “detalhe” que faz toda diferença. Fafá já usou, nos programas exibidos, um vestido branco do estilista André Lima, que consolidou a aura fabulosa – para usar adjetivo que ela adora – da cantora, outro da marca Apartamento 03 e jóias sempre superpoderosas, da Brennheisein e de Ara Vartanian, com todo o requinte de quem sabe o poder e o alcance das conexões, da imagem e das próprias escolhas.

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione