Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Falas de Orgulho’ une grandes histórias de vida a prestação de serviço

Richard, homem trans, tomou coragem pela novela "A Força do Querer" / Divulgação

Tudo começou nas Falas Negras, especial produzido no ano passado para o Dia da Consciência Negra. Veio então Falas Femininas, para o Dia Internacional da Mulher, Falas da Terra, para o Dia do Indígena, e agora, Falas de Orgulho, para o Dia do Orgulho LGBTQIA+, que vai ao ar logo mais pela Globo, na noite desta segunda-feira (28), após a novela “Império”.

A edição, à qual tive acesso, reúne personagens que contemplam todas as letras da sigla que marca a data, em um elenco que celebra a diversidade da diversidade. Há homem trans, mulher trans, mulher bissexual, homem bissexual, gay que se apresenta como drag queen, lésbicas e gays. Ao final da edição, veremos também uma personagem assexuada, outra intersexo e uma queer.

Os entrevistados selecionados pela produção, também composta por pessoas LGBTQIA+,  apresentam lindas histórias de vida e biografias que fogem do lugar comum. Isso torna o especial um grande programa, capaz de provocar reflexão e entretenimento, mas, sobretudo, assim queremos, em condições de transformar a vida de quem tem orientações sexuais que não se enquadram no eixo heterossexual e também de quem resiste em respeitar o outro.

Há o delegado gay, apoiado por um amigo hétero na sua juventude.

Há um casal de lésbicas da terceira idade –uma delas só tornou sua orientação conhecida pela família ao dar uma entrevista sobre o par formado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela “Babilônia”, de Gilberto Braga, há apenas seis anos.

Outra história de novela vem do homem trans que contou ter revelado sua vontade à mãe enquanto os dois viam, com ele aos prantos, a cena em que Ivan (ex-Ivana, vivida por Carol Duarte) mostra o resultado de sua mastectomia em “A Força do Querer”, de Glória Perez. “Eu olhei pra minha mãe e disse: ‘mãe, eu sou assim'”. A mãe o apoiou e relata sua reação ao programa.

Falas de Orgulho ouve familiares e amigos dos personagens enfocados, revelando a importância de se valorizar e endossar o que cada um é.

Há depoimentos comoventes, como o da mulher trans que foi infectada pelo HIV após um estupro e teve de lutar contra o vírus, em plenos anos 1990, e contra o preconceito, até hoje vigente. Agora, Ariadne trabalha junto à UnAids, programa das Nações Unidas que trabalha no combate à doença

Ariadne trabalha para a Unaids / Divulgação

A trilha sonora é uma bênção na costura entre uma narrativa e outra, brindando a plateia com canções como “Freedom! ’90”, de George Michael, “I Want to be Free”, do Queen, “Masculino e Feminino”, de Pepeu Gomes, e “Paula e Bebeto” (mais conhecida como “Qualquer Maneira de Amor Vale a Pena”), de Milton Nascimento e Caetano Veloso, entre outras.

O encerramento triunfa com outra canção, em um clipe gravado por Pabllo Vittar, Johnny Hooker e Majur, um misto de delicadeza, emoção e conscientização, lembrando que o Brasil, país supostamente cordial, é a nação onde mais se matam gays, lésbicas e trans no mundo, uma vergonha planetária.

Daí a necessidade de reforçar o orgulho, em detrimento da vergonha assim chamada em outros tempos, de se ser quem se é.

Pabllo Vittar, Majur e Johnny Hooker / Divulgação

 

 

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