Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Fim de ‘Vídeo Show’ foi digno de Record, SBT e Band – menos de Globo

Sophia Abrahão e Joaquim Lopes, que seguram o rojão até esta sexta

Como programa de variedades mais longevo da grade de programação da Globo, o “Vídeo Show” merecia um final mais digno.

Tirar uma atração do ar para entregar  sua vaga a reprises, como se não houvesse mais um minuto de sobrevida que pudesse aguardar por um projeto substituto, é atitude que combina mais com a Record, o SBT, ou a Band.

Há mais de 35 anos em cena, a revista diária de bastidores da rede mais vista do país teve o anúncio e a solução sobre seu fim equiparada ao desfecho do “Agora é Domingo”, que a Band encerrou na última semana, após menos de um ano no ar: equipe pega de surpresa e nada muito animador para colocar no lugar.

“Vídeo Show” e “Agora é Domingo” em nenhuma condição se equivalem, a começar pela distância histórica que os separa na importância de cada um para a memória da TV.

Alvo de incontáveis reformas, da apresentação e time de repórteres ao conteúdo, o “Vídeo Show” – ou qualquer outro programa da Globo – não poderia lutar contra a força da Record no horário, com as mesmas armas usadas pela concorrência.

“A Hora da Venenosa”, afinal, se abastece justamente das fofocas em torno das maiores celebridades nacionais, quase todas contratadas da Globo. A Globo não poderia tentar fazer um programa para explorar o lado B de seus artistas, e quanto mais famoso for o personagem, mais interesse o público terá na sua face menos celebrada.

Escândalos sempre venderam revistas, jornais e agora, cliques.

Para muito além da discussão sobre a força de Otaviano Costa e Monica Iozzi na apresentação, dupla de maior êxito nesse período de tantas mudanças, o fator conteúdo merece muito respeito. O programa não acompanhou a evolução dos tempos no que diz respeito à pulverização da atenção do público. Houve um tempo em que a Globo concentrava mais de 60% da plateia, mas isso mudou e continua mudando.

O “Vídeo Show” se manteve restrito aos bastidores da Globo. Não saiu à rua para avaliar os bastidores de outro canal – não precisaria ser Record ou SBT, mas um programa bacana da TV Cultura ou de outros canais públicos, quem sabe? Não visitou sequer o set de seus canais pagos, nem com um Prêmio Multishow, que reúne tantas celebridades. Não foi ao cinema, ou foi muito pouco, mesmo quando o filme era da Globo Filmes, não foi ao set de séries de seus canais pagos, não se aliou a YouTubers, enfim, não saiu da toca que já não é o único foco do público – muito pelo contrário.

Vista pelo lado oposto, a extinção do programa também vale para mensurar o quanto se reduziu o interesse da massa pelas atrações da Globo. Embora ainda seja a maior indústria de entretenimento do país, a emissora tem cada vez mais concorrentes dispostos a roubar a atenção da plateia, inclusive por meio de outras telas.

Não tá fácil pra ninguém. Reinventar-se é preciso, mas não é possível fazer isso sem o mínimo de dignidade.

 

 

 

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Cristina Padiglione

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