Globo mostra coragem ao tomar posição em programas como ‘Amor & Sexo’
Neste momento em que o comportamento e questões de gênero, família, religião e raça ganham tamanho peso no embate da campanha eleitoral para presidência da República, é de se destacar, com holofotes e muita purpurina, a coragem da Globo com o seu sempre progressista “Amor & Sexo”. O programa voltou ao ar nesta terça, em nova temporada.
Mas, antes de abordar a atração, convém fazer um prefácio.
Nunca foi tão oneroso, ou não num período democrático, tomar posição, e não só neste país. Artistas que têm se posicionado politicamente têm encontrado hostilidade em redes sociais, voz do público, mas, sobretudo, de militâncias de toda ordem. Nos casos mais contundentes, quem se posiciona chega a sofrer xingamentos em locais públicos.
A Globo não se posiciona na questão partidária, mas tem marcado território claro na defesa de ideias progressistas de comportamento. Vestir uma camisa, atualmente, custa mais caro do que na era pré-internet, ao menos em curto prazo. Em longo prazo, quero crer, essa postura há de agregar valor à marca e credibilidade à imagem de quem se posiciona, desde que o posicionamento preze por valores humanitários, claro.
Além dos ecos negativos que um time em campo pode enfrentar, a fragmentação da audiência entre tantas telas não incentiva veículos de comunicação ou personalidades a escolherem um dos lados de qualquer muro – o ideal, mercadologicamente, é tentar agradar a gregos e troianos, sem se anunciar de lado algum.
Dito isso, é digna de aplausos a postura da Globo ao marcar posições tão claras no “Amor & Sexo”, mais até do que tem feito em outros programas igualmente bem posicionados. “Hoje em dia, pior do que tomar posição é ficar em cima do muro”, disseram, com propriedade, Marcelo Adnet e Marcius Melhem, ao apresentarem a temporada 2018 do “Tá no Ar”.
A frase me vem à tona novamente agora, ao ver “Amor & Sexo” reafirmar, ainda com mais ênfase, sua vocação para instigar o debate e a reflexão civilizada sobre todo e qualquer assunto de comportamento, para muito além de um terreno restrito a sexo e afeto. Na verdade, discutir opressão, e foi esse o mote da noite, é um exercício que fatalmente atinge o espaço da libido e do amor.
Fernanda Lima chamou o programa para o foco do respeito às diferenças, do âmbito econômico ao sexual, da esfera racial à política, sem perder de vista minúcias de toda ordem.
A banda Islã das Minas e Bia Ferreira abriram a cena com uma letra que bate com propriedade no preconceito racial e social.
“Nem venha me dizer que isso é vitimismo / Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo / Cota não é esmola / Mesmo lá no inconsciente, alguma coisa está clamando por mudança”, diz a letra.
“Nesse jovem mundo, o racismo, o machismo, o preconceito e qualquer outra forma de opressão devem que ser banidos de uma vez por todas. Eles querem, e a gente também, um mundo onde o afeto, o acolhimento e a colaboração sejam lemas dessa nova bandeira e o respeito seja hino”, endossou Fernanda Lima.
A apresentadora e todo o variado time de jurados/comentaristas retornaram mais azeitados ainda para falar de amor, sexo, opressão e preconceito com profundidade, sem perder a capacidade de brincar. O formato e todo o roteiro conspiram a favor de um bom verniz que embala com leveza e entretenimento assuntos muito sérios, com argumentação.
Vida longa a “Amor & Sexo”.