Lima Duarte: “A Globo não poderia contar a história da TV porque não começou com ela”
Orgulhoso por estar prestes a completar 70 anos de sua primeira carteira profissional assinada, Lima Duarte disse que assistiu apenas a um capítulo de “Nada Será Como Antes”, minissérie de Guel Arraes, João Falcão e Jorge Furtado, que narra um fictício enredo sobre o início da televisão no Brasil. Fazendo a ressalva de que o trio de criadores é da maior competência, todos fantásticos, o ator, que testemunhou a primeira transmissão da TV em São Paulo, pela TV Tupi, entende que “a Globo não pode contar a história da televisão porque a televisão não começou com ela, ela (Globo) começou só 15 anos depois.” “É uma ficção, mas começar a televisão com uma televisão chamada Guanabara é brincadeira. Pelo menos eles tiveram a confiança de não se meter com (Assis) Chateaubriand e com a primeira emissora de televisão da América do Sul, porque não dá mesmo.”
De hábitos muito simples, Lima, 86 anos, foi tomar um café na padaria da esquina de casa antes de receber o TelePadi em seu apartamento, em São Paulo, numa manhã de chuvinha fina, para falar da carteira de trabalho assinada há 7 décadas. A data acusa sua condição, à época, de menor de idade (16 anos) e ele logo faz um apanhado de sua história toda. A carteira foi engavetada pouco antes de 1990, conta-nos, quando o então chefe, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o convenceu a não deixar a Globo. Ele estava tentado a fazer “Pantanal”, na TV Manchete. Lima encerrou ali sua temporada como funcionário de quase 20 anos da Globo pelo regime da CLT (Contrato de Leis Trabalhistas), dando baixa na carteira profissional da época, “já aquela azulzinha”, lembra. Boni lhe propôs um aumento de salário, em troca de um contrato como Pessoa Jurídica (PJ), e Lima então confiou. Sacou seu Fundo de Garantia e, pouco tempo depois, teria sua aposentadoria no papel, assunto tão em voga nos dias de hoje, dadas as discussões sobre a Reforma da Previdência.
Agora, Lima planeja celebrar a efeméride da Carteira de Trabalho em sua casa de Indaiatuba, interior de São Paulo, onde passa boa parte de seus dias, quando não está em São Paulo ou no Rio. No momento, prepara-se para voltar ao set em “13 Dias longe do Sol”, minissérie da Globo com Selton Mello, sob direção de Elena Soárez e Luciano Moura. E logo volta a filmar para o cinema, sob a regência da família de Fernando Torres (que “foi muuuuuito, muuuuuito amigo meu”, lembra), com texto de Fernanda Torres – “a mulher que hoje melhor escreve no Brasil” – ao lado da mãe dela, Fernanda Montenegro, e do marido de Fernandinha, Andrucha Waddington, diretor da produção.
Nossa conversa em seu modestíssimo apartamento, de paredes forradas de recordações de toda uma vida dedicada às artes, foi marcada por meio de um amigo em comum, Francesco Calvano, diretor de TV também formado no assunto pela “faculdade” do doutor Assis, lá no Sumaré da TV Tupi, onde os profissionais aprenderam a fazer televisão errando muito, mas acertando ainda mais.
A seguir, histórias de um de nossos melhores contadores de história, Sr. Ariclenes Venâncio Martins, o Lima Duarte.
REINVENTAVA OS RUMOS DA GUERRA PARA AGRADAR O AVÔ.
E ASSIM VIROU ATOR
“Eu nasci em Minas Gerais, Desemboque, em 1930. Em 1939 começou a guerra, 50 milhões de mortos, e eu fui irremediavelmente tocado por isso. Em 1939 eu tinha 9 anos eu eu já sabia ler, male e male. Mas eu tinha um avô, coitado, que além de ser português era analfabeto, tinha muito na época, e ele queria saber como é que estava a guerra lá na Europa. Então, ele comprava o jornal e me levava pra trás do mato, pra que ninguém visse o opróbrio. Ele tinha os heróis dele e os heróis eram os cabos de guerra. O dele era o general Montgomery, que era o comandante dos blindados ingleses na campanha da África. Daí eu lia ‘Em tal lugar, o General Montgomery bate em retirada’, e ele dizia, bravo, ‘Montgomerry não se retira!’. Ele, pá, me dava uma pancada na cabeça: ‘Não se retira!’
Com o tempo, eu fui mudando a guerra. ‘Montgomery avança!’ Com o tempo, ele percebeu, e o que foi muito lindo, ele estimulou: ‘Montgomery avança!’ Muito nobre, da parte dele. E ele me ensinou a ser ator, a imaginar, a criar, e a saber que todos nós temos um Montgomery, que não recua nunca. Acabada a guerra, em 1945, meu pai, que não era uma pessoa má, mas era sensível e sabia que eu não podia ficar naquele fim de mundo, me botou num caminhão de manga e me mandou pra São Paulo. Foi uma longa viagem. Eu trabalhei no mercado, fiquei ajudando a descarregar caminhão, ganhava um dinheirinho e tal. Mas um dia, fazendo trabalhos marginais, de menino perdido na capital, um dia uma amiga minha que eu tinha, uma polaca, virou e disse pra mim: ‘você precisa fazer alguma coisa, senão você enlouquece’.”
A primeira tentativa de trabalhar no rádio foi recusada. A voz, fininha, ainda pouco empostada, não ajudava. Mas antes que ele se retirasse do local, foi chamado de volta para prestar outros serviços. E foi assim que virou sonoplasta.
A PRIMEIRA TRANSMISSÃO
“Ficou pronta, a TV, e era aquele negócio: ‘Bote no ar, bote no ar!’ (imita Chatô). Aí, os engenheiros falavam: ‘Mas não tem receptor, vai botar no ar pra quem?’ (risos) Ele voltou dos Estados Unidos, comprou 20 aparelhos, botou um no no Viaduto do Chá, um no Pacaembu, um na 7 de Abril, no Cine Metro, que tinha acabado de exibir ‘…E O Vento Levou’ e mandou um aparelho pro doutor Roberto Marinho, (risos).
Francesco Calvano, presente na conversa, intervém: “Muita gente trabalhava em televisão e não tinha televisão em casa”.
Lima: “Sabe qual foi a primeira música cantada na televisão? Teve o ‘Hino da TV’, quem fez a letra foi o Guilherme de Almeida e a Lolita (Rodrigues) cantou, porque a Hebe (Camargo), que deveria cantar, não apareceu. E o primeiro número musical da TV foi um padre, pedindo beijos até a loucura.”
Fracesco: “É. ‘Jura-me, Jura-me'”.
Lima: “Frei José Mujica era um latin lover, uma espécie de Julio Iglesias. De repente, no auge da carreira, ele virou padre. Largou tudo e assumiu a batina. E veio o Chatô e trouxe pra inauguração, ele era mexicano, e ele cantou, cantou o seu sucesso, ‘Beija-me, beija-me até a loucura’, mas televisão começar com padre pedindo beijos até a loucura não tem nada a ver com essa televisão que eles falam (na série ‘Nada Será Como Antes’), mas é uma ficção, entendo, mesmo porque os caras que escreveram são ótimos, o (Jorge) Furtado, o Guel (Arraes), o (João) Falcão. Pois eu diria pra eles: a televisão lá no Rio Grande do Sul eu fui inaugurar também; em Pernambuco, eu fui também. Inaugurei a TV Itacolomi, em Belo Horizonte e fiz ‘TV de Vanguarda’ do Rio também.
TODOS OS PAPÉIS, TODAS AS FUNÇÕES
“Eu fiz tudo. Quando foi pra decidir quem seria o primeiro diretor da primeira televisão, fizeram uma reunião na Tupi. Tinham 3 candidatos: o Túlio de Lemos, o Walter George Durst e o Cassiano (Gabus Mendes). O Cassiano tinha feito um filminho curta-metragem chamado ‘A Gata’ que era uma mulher que traía o marido e tal. A causa da traição era eu. Traía comigo, o marido, que era o Dionízio (Azevedo). E fez esse filme. Pouco antes de escolherem, ele exibiu o filme para o Edmundo Monteiro, o Calmon, os donos. ‘Que maravilha! Esse vai ser o diretor!’ Eu fico imaginando às vezes o que seria a televisão se fosse o Túlio. E o Túlio também era maravilhoso (‘maravilhoso’, endossa Calvano) , o Durst também. E a sorte do Chateaubriand era que essa gente que fazia rádio era da maior categoria. Otávio Mendes, o pai do Cassiano, ele compôs uma música, que era um grande sucesso na voz do Orlando Silva, chama-se ‘Súplica’, de versos brancos, não tem uma rima, sob a evidente influência da Semana de 22. A Bethania gravou. (Recita a letra). Esse era um diretor de rádio e teatro, então, era pra essa gente que chegou a televisão. A Globo não pode contar porque a televisão não começou com ela, ela começou só 15 anos depois.”
PATÉTICOS, NUNCA RIDÍCULOS
Quando ficou pronto o prédio, falaram, ‘doutor Assis Chateubriand, tá pronta!’, ele disse: ‘bote no ar, bote no ar!’. Aliás, nos dois últimos anos na vida do doutor Assis, eu falava por ele, porque ele teve um acidente vascular cerebral e eu falava por ele. Nossa relação era feita de olhar e entendimento, porque eu sabia o que ele queria dizer e não conseguia dizer, e eu me condoía daquela cabeça cheia de ideias, poderosa, sem conseguir externá-las.
Em 1951, dirigi muitas novelas, fiz a primeira telenovela. Em 1952, a novela chamava ‘Sua Vida me Pertence’. Fui o primeiro bandido e o primeiro Shakespeare na televisão, o Hamlet. Ninguém falou isso no aniversário do Shakespeare. Isso conta. Vida Alves fez o primeiro beijo e eu fiz o primeiro Hamlet. Desse Hamlet saiu a primeira crítica de TV, feita pelo Guilherme de Almeida no ‘Estadão’: ‘Foi ao ar, na televisão do Chateubriand, o Hamlet do Shakespeare. Esteve patético, mas não esteve ridículo’, ele escreveu. É isso que nós, pioneiros, temos tentado ser até hoje: patéticos, embora ridículos, nunca.
NA GLOBO, DA CENSURA À NOVA REPÚBLICA DE SINHOZINHO MALTA
“Em 1971, fui contratado pela Rede Globo de Televisão, com 45 anos já. Na Globo eu fiz a primeira em cores, ‘O Bem Amado’ (como o inesquecível matador Zeca Diabo), fiz a primeira novela gravada em videoteipe e fiz a primeira da Nova República, ‘Roque Santeiro’ – tô certo ou tô errado? (bordão do personagem), aquelas coisas. ‘Roque Santeiro’ (1985: a novela de Dias Gomes fora censurada em sua primeira versão, dez anos antes). Não tenho dúvidas em afirmar que fiz a sonoplastia no rádio e fiz na TV, escalei Albertinho Limonta, o Luís Gustavo, a Nathalia Timberg e dirigi principalmente uma telenovela que contradizia ‘O direito de nascer’, porque eram novos tempos, exigia-se um novo tom, uma nova maneira de ver as coisas, e veio ‘Beto Rockfeller’. E eu tenho certeza que foi o Beto Rockfeller que me trouxe pra Rede Globo de Televisão, onde eu cheguei em 1971. Em 71, era uma emissora que trazia ainda no seu âmago, no seu comportamento, o espírito nobilíssimo do doutor Roberto Marinho e a execução desse espírito comandada pelo Boni, José Bonifácio de Oliveira.
Mas o mais importante disso tudo e que eu quero que fique claro é o fato de que, na elite de atores brasileiros, eu sou o único de formação rural, sou o único caboclo que ficou ator. E eu tento, durante toda a minha vida é procurar servir à minha gente, não envergonhar a minha gente e dizer a cada personagem: ‘olha, eu sou como vocês’. Eu não tenho feito feio, acho que não, mesmo tendo sido Hamlet, Padre Antonio Vieira, Otelo, Macbeth, Sinhozinho Malta, tudo caboclo, feito eu.”
“Um pequeno apanhado, do João Guimarães Rosa, sobre contar coisas, dizer: ‘Contar, contar é muito dificultoso, não pelos anos que já se passaram, mas pela astúcia que tem certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem nos lugares, a lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. (…) Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. Toda a saudade é uma espécie de velhice. Talvez então a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que cada coisa acontece, na ordem certa, sendo que essa conexão é que dá sentido, começo, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um contendo o sentido inteiro, talvez seja esse o jeito de escrever a alma, coisas eternas.”
A CARTEIRA ASSINADA
“Como é que funcionava, a previdência? Era uma carteira vermelha, depois passei pra uma marrom e depois passei pra uma azul. Aí, um dia, o Boni, que era esse amigo, me chamou, eu falei que ia embora fazer ‘Pantanal’. E ele: ‘vai embora nada, seu fdp, vai fazer Pantanal coisa nenhuma’. Eu falei: ‘tô com vontade, eu acho que vai dar certo’. O Boni me chamou e disse: ‘não vai dar certo. Você vai ficar 3 meses no Pantanal?’ Eu disse: ‘eu não posso, eu tenho que pagar o colégio. Eu vou e volto’. E ele: ‘não, não vai e volta, vai ter que ficar lá.’ Eu disse: ‘por que você não faz o Pantanal? Vai dar certo’. A Globo teve o Pantanal nas mãos, né? Ele disse assim: ‘Lima, você não vai pro Pantanal, o Fagundes não vai, o Tarcísio não vai, ninguém vai. O Pantanal vai terminar em São Conrado’. Eu falei: ‘pô, vai fazer o Pantanal em São Conrado?’. ‘É o que vai acontecer’, ele disse. ‘Nós não podemos fazer porque nosso elenco não se submete a esse tipo de coisa’. De fato era coisa de moleque. Ficou no Pantanal quem? O (Marcos) Winter, a Juma (Cristiana Oliveira)…”
Mas o Cláudio Marzo ficou (interrompo eu)
“Ficou nada, ele foi pra lá no começo e no fim. Foi nada, grande amigo meu, o Cláudio Marzo. Aí falei pro Boni: ‘então não vou’. Aí ele me falou uma coisa que a Globo faz. Ele falou: ‘quanto você quer?’ ‘Eu quero 1.200’. Aí ele diz ‘eu te dou 1.500. Aí você sai, levanta seu Fundo de Garantia, eu te contrato como firma no dia seguinte.’ Tem que confiar muito, né? Eu tinha 20 anos de casa. Aí, saí, e no dia seguinte eles contrataram a minha firma. Todo mundo na Globo é assim. Grava aí: ‘a Globo é espetacular pra isso. Eles me pagam tudo (mostra a carteirinha do convênio médico): é internacional. Eles são formidáveis, me dão o que eu quiser.”
LIMA DUARTE E CLÁUDIO MARZO: O PRIMEIRO BEIJO NA BOCA ENTRE DOIS HOMENS, NA TV
“O primeiro beijo entre dois homens, na boca, foi eu e o Cláudio Marzo, na peça ‘O Panorama visto da ponte’, no Grande Teatro Tupi, um sucesso do TBC, do Arthur Miller, a história de um estivador ítalo-americano, no porto de Nova York, que tem uma enteada, que era a Rita Cléos que fazia, bonitinha. E a minha mulher era a Wanda Kosmo, que dirigiu, e eu fazia o marinheiro estivador, evidentemente apaixonado pela enteada. E um dia ela foi apresentar o namorado, era o Cláudio Marzo. E ele fala: ‘pô, esse aí? Você não vê que ele não é homem?’ E beijei ele na boca. E fizemos esse texto. Era uma adaptação disso. Então, essa primazia eu quero também. O primeiro beijo na boca foi entre Cláudio Marco e Lima Duarte.
GREVE E REPRESSÃO
“Nós fazíamos greve. Eu era do comitê de alimentação da greve. Eu tinha um Fusquinha e levava sanduíches pra alimentar o pessoal. O Tatá (Luiz Gustavo) estava lá em Santo Amaro, onde era o transmissor. Era uma viaaaagem. Tinha a ameaça de desligar o transmissor. Cheguei lá no piquete, era o Luiz Gustavo e o Hamilton Fernandes, eles estavam jogando futebol com a PM (risos), que estava tomando conta do transmissor. Não podia ficar 24 horas fora do ar, senão perdia a concessão. Eu era operador de som. Um dia chegou o Plínio Marcos pra mim e disse: ‘é uma ordem de um grupo de sargentos da Marinha de Santos, Lima, mandaram dizer pra você tirar a Tupi do ar agora. Você sabe, né? Tira a Tupi do ar!’ ‘O que é que vai adiantar?’, perguntei. ‘É uma ordem, um sinal’, ele falou (cochichando, em voz conspiratória). ‘Vou tirar o cacete’. E nós ficávamos na porta da Tupi esperando uma Veraneio que vinha do Dops. A gente falava, todo dia: ‘sua veraneio veio hoje?’ ‘Não, não veio’ (ele e Francesco lembram de como o caso era tratado como piada na porta da emissora). Até que um dia, virou a esquina e era a minha. Fui preso, não fui nenhuma Dilma, também. Falei: ‘gente, avisa a Marisa, minha mulher e as crianças que eu não vou poder fazer a novela hoje, que eu tô indo preso’. Entrei, numa sala sombria, estavam sentados o (Sérgio Paranhos) Fleury e o (Romeu) Tuma. Passei, falei ‘boa tarde, boa tarde’. Entrei noutra sala, tomaram meu depoimento, meu nome estava nas cadernetas do (Luís Carlos) Prestes. Eu ganhei o Saci, prêmio do ‘Estadão’, em 1962, como melhor ator. Foi minha primeira peça no Arena, prêmio lindo, troféu do Brecheret. E ganhou o Flávio Império, eu ganhei por ‘Testamento do Cangaceiro’, melhor ator, e ele, melhor diretor. E nós combinamos que quem nos entregaria seria o Prestes, e quem dava era o ‘Estadão’, reacionário… O prêmio era de 62, mas a entrega foi em 64, o Mesquita ia lá, tinha uma festa no Municipal. O Prestes agendou de ir, mas veio 1964 e tudo virou. Meu nome estava na caderneta dele por causa do prêmio.
O escrivão que tomou meu depoimento foi lindo, falou que me conhecia da novela, e eles não perguntavam, eles afirmavam: ‘você é comunista’. Aí diziam: ‘mas por que você lê esses livros de comunista?’ E eu me defendia: ‘eu sou ator, tenho que conhecer, se eu for interpretar os personagens desses livros’.
Lima Duarte guarda a dedicatória de João Ubaldo Ribeiro como troféu
Nessa de ter que esconder tudo, peguei um monte de livro que eu tinha, peguei meu Gordini, desci a Rebouças e ia jogar tudo no rio. Cheguei lá, não tive coragem. A minha mãe tomava conta de um museu em Arthur Alvim, um museu de velho, coitada da minha mãe, dava carne de porco pros velhinhos, as enfermeiras casavam com eles pra requerer a aposentadoria deles… Cheguei lá, tinha um amigo dela, sentado na cama, pijama, calção. Perguntei: ‘você gosta de ler?’ Ele disse que lia muito. Botei tudo embaixo da cama dele. Queimar eu não ia, né? ‘Deixa aí.’ Se ele leu, virou um Guevara (risos).
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Por Cristina Padiglione