Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Há um ano na Cultura, ‘Papo de Mãe’ entra para o Top3 adulto da emissora

O psicanalista Reinaldo Lobo e Marcelo Tas, convidados do 'Papo', que também é de pais, com Mariana Kotscho e Roberta Manreza / Foto: Yutha Matsuda/Divulgação

Quando você dá de cara com o “Momento Papo de Mãe”, na TV Cultura, dono de uma audiência ascendente e engajada que o coloca hoje entre as três maiores médias da programação para adultos da emissora, cabe perguntar: como é que ninguém pensou em fazer antes um programa do gênero? Mais: como é que nenhum canal tem uma proposta similar? Com apresentação de Roberta Manreza e Mariana Kotscho, o título oferece um repertório inesgotável para um assunto de sumo interesse para milhões de criadores e criaturas, assunto este que só os progenitores sabem, não vem com manual pronto: filhos.

Com 19% de crescimento na audiência, em relação a 2017, o programa é, atualmente, o mais assistido entre as produções de arte, cultura e entretenimento, e o terceiro entre a programação adulta da emissora. A atração tem alcançado picos de audiência que chegam até 4,6 pontos, uma façanha para a TV Cultura. A média de audiência do mês de julho foi de 2 pontos, com participação de 3,3% no universo de TVs ligadas.

Nascido na TV Brasil (quando ainda se chamava apenas “Papo de Mãe”), onde foi exibido por sete anos, em edições semanais de uma hora, o programa ganhou mais destaque ao chegar à grade da emissora da Fundação Padre Anchieta, em maio do ano passado, com edições diárias, duas vezes ao dia, com duração de 15 minutos.

O foco, antes mais voltado para crianças pequenas e maternidade, estendeu-se a idades mais avançadas e também aos pais. Afinal, não faltam obras – de livros a programas de TV e filmes – sobre bebês e primeira infância, mas a adolescência, muito mais conturbada pela explosão de hormônios, é um segmento ligeiramente desprezado por todas as mídias.

Um dos temas discutidos recentemente, por exemplo, foi suicídio, assunto que tem merecido palestras em várias escolas, em razão do crescimento no índice de episódios no mundo todo, em especial entre adolescentes.

Outro ponto relevante foi estender o assunto aos pais, hoje muito mais interessados e participantes da vida dos filhos do que as gerações passadas, amém. “É ‘Papo de Mãe’, mas é pra família toda”, defende Mariana.

No dia em que o TelePadi visitou o set do programa, aliás, lá estava um pai, e não uma mãe, para falar sobre como lidar com filhos transexuais. Marcelo Tas falou sobre seu Luc, nascido Luíza, que se tornou advogado e atualmente trabalha para a Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, dedicando-se a questões relacionadas a Direitos Humanos.

A seu lado, está o psicanalista Reinaldo Lobo, endossando que a transexualidade não é uma questão sexual, mas sim identitária, visto que estamos falando sobre a identificação de cada um com o gênero que lhe convém melhor e o faz se sentir confortável.

O papo poderia se estender por uma hora, mas, jogo rápido, acaba em 15 minutos, reverberando depois na página do programa no Facebook, onde Mariana e Roberta são muito paparicadas. Repleto de elogios, o programa se tornou um caso absolutamente excepcional nesse universo polarizado que rege as redes sociais. Só um garoto, até hoje, manifestou contrariedade com o “Momento Papo de Mãe”.

“Ele disse que o programa era muito chato”, diverte-se Mariana. “Então eu perguntei: ‘por que você acha chato?’ E ele: ‘porque entra no lugar dos meus desenhos'”.

Esse é outro mérito da proposta. Por um bom tempo, a Cultura testou ideias que pudessem fazer a ponte entre a programação infantil e a adulta, na faixa matutina e ao fim da faixa vespertina, missão que o “Momento Papo de Mãe” cumpre com louvor, às 11h45, entre a programação infantil e o jornal, e às 17h45, encerrando a grade infantil.

Apesar do menino que se aborrece com a interrupção do seu cardápio para ouvir assuntos que são mais do interesse de seus pais do que dele, há muitas crianças acompanhando o programa com a mãe e o pai. “A gente entra logo depois do desenho e tem muita criança que escreve pra gente dizendo que adora o programa”, atesta Mariana. “Teve um menino, tão bonitinho, que escreveu pra gente dizendo que assiste ao programa “para aprender a ser um bom pai”. Own…!

“Na hora que o programa termina, principalmente à tarde, a gente recebe muitas mensagens no Facebook. A gente fala de afetos. Falar de filhos é uma emoção maior, então, a gente cria um vínculo com o telespectador. Ontem, tivemos um programa sobre síndrome do pânico, e recebi essa mensagem: ‘Você nem imagina o quanto esse programa me ajudou'”.

Mãe solo (termo agora adotado para designar “mãe solteira”), casal de mulheres com filhos, pagamento de pensão alimentícia, suicídio, síndrome do pânico, depressão, não há assunto vetado na pauta, asseguram Mariana e Roberta. “Abordando com respeito, a gente pode falar de qualquer tema”, diz Roberta.  Mas 15 minutos, embora seja uma eternidade em TV, parece breve demais para uma conversa profunda. Diretora de Programação da TV Cultura, Marisa Guimarães defende: “é pra ficar com gosto de ‘quero mais’, mas”, admite ela, “existe uma vontade de ir além de 15 minutos, existe essa ideia para o próximo ano.”

O “Momento Papo de Mãe” atinge principalmente o público da classe C (62%). Em seguida, vêm os telespectadores das classes AB (22%) e DE (16%). A audiência adulta, na faixa de 35 a 49 anos, representa a maior fatia, com 22%. No último ano, foram ao ar mais de 250 edições do “Momento Papo de Mãe”.

Só na Cultura, o programa recebeu cerca de 120 especialistas e 150 familiares, e foram debatidos pelo menos duas centenas de temas, incluindo, alimentação, esporte, saúde, educação, puberdade, namoro na adolescência, vestibular e novos modelos familiares.

 

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Cristina Padiglione

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