Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘A-hai!’ Silvio Santos celebra 60 anos como apresentador

Silvio Santos, há 60 anos dominando o auditório

Completam-se exatamente hoje, 7 de fevereiro de 2018, seis décadas desde que Senor Abravanel foi visto no palco, diante de câmeras de TV, pela primeira vez. Faz, portanto, 60 anos que a gente acompanha a trajetória de um camelô que se tornou animador de auditório e proprietário de TV.

Locador de horário na TV Paulista, canal 5 de São Paulo, das Organizações Vitor Costa, depois adquirida por Roberto Marinho, Silvio foi o primeiro produtor independente a se dar bem no Brasil.

Em 7 de fevereiro de 1958, lá estava o Silvio estreando como apresentador na Rua das Palmeiras, em São Paulo, no comando do programa “Hit Parade”, uma espécie de Top 10 das músicas da semana.

Ainda na TV Paulista, Canal 5 de São Paulo, Silvio apresentou as atrações “Quando os Maestros se Encontram”, “Bolada Fik-Forte” e “O Grande Espetáculo” (ao lado da atriz Cacilda Lanuza).

Em 1960, ele alugou o horário nobre das sextas, a partir de 3 de junho, para o programa “Vamos Brincar de Forca”, baseado na gincana “Jogo da Forca”, com a participação dos clientes do Baú da Felicidade, também sob o seu comando há 60 anos.

Em 1961, a atração foi substituída pelo programa de perguntas e respostas “Ganhando e Apostando”, passando da noite de sexta para a de quinta-feira, que em 1962 daria lugar à primeira versão do “Pra Ganhar é Só Rodar”, com o hipnótico pião que selecionava prêmios.

Foi só em 1963 que o homem passou a ocupar a programação dos domingos, onde reina até hoje. Com direção de Luciano Callegari, o “Programa Silvio Santos” estreou em 2 de junho de 63, ainda na TV Paulista, com três subprogramas: “Cuidado com a Buzina” (primeiro show de calouros pilotado por Silvio), “Roda Pião” (o famoso pião da fortuna que distribuía prêmios aos clientes do Baú) e “Justiça dos Homens” (dramatização de casos reais enviados pelos telespectadores, acredite, por meio de cartas).

Silvio continuou onde estava quando o canal foi associado à Globo, e lá ficou até 1976, sempre como locatário de horário e desde sempre liderando a audiência aos domingos.

No mesmo ano, Silvio inaugurou sua primeira emissora, a TVS, pelo canal 11 do Rio de Janeiro, onde o “Programa Silvio Santos” passou a ser exibido, ainda com oito horas de duração e gravado em São Paulo, àquela altura, no Teatro Manoel de Nóbrega. Pouco tempo depois, as gravações foram parar no lendário Teatro Silvio Santos, na Avenida General Ataliba Leonel, no Carandiru, que tive o prazer de frequentar em dias de programa da Hebe Camargo, também habitué do local.

Em 19 de agosto de 1981, o patrão assinou em Brasília a concessão dos canais para a estreia nacional do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).

E, claro, não estaríamos aqui lembrando que Silvio é apresentador há 60 anos, se sua atuação na TV ainda não fosse de absoluta relevância. Sem ideias mirabolantes ou cenários pirotécnicos, ele continua rodando pião, rindo mesmo quando a cena é de chorar e causando repercussão, inclusive como atração extra nas redes sociais, sempre a partir das 8 da noite do domingo.

“Agora é hora, de alegria, vamos sorrir e cantar”, já canta o homem desde 1965, endossando um hit que foi até alvo de cobrança judicial (Arquimedes Messias alegava não ter sido reconhecido nem pago pela letra, que se tornou um hino do auditório do Silvio).

 

(*) Um parêntese meu: Moradora do Tucuruvi e frequentadora de Santana, onde estudava e namorava, eu tinha o Teatro Silvio Santos sempre na minha rota, inclusive frequentando o salão de cabeleireiros quase em frente ao teatro, onde o nobre Roque, assessor de palco do Silvio, acertava suas mechas. É de lá que trazemos até hoje, mamãe e eu, o profissional que mais fez nossas cabeças até aqui: filho e sobrinho dos sócios do salão, Douglas corta os meus cabelos desde que eu tinha 12 anos – e ele, autoditada, idem.

Tudo isso para dizer que mesmo antes de me debruçar sobre a tarefa de noticiar e avaliar o conteúdo televisivo, eu já estava, de alguma forma, envolvida no mundo real com seus personagens e vizinhança.

Quando o salão se mudou para a Rua Dr. Zuquim, em Santana, seguimos atrás, eu e mamys Guiomar. E foi lá, um dia, que ao me lamentar pela falta de emprego, aos 19 anos, fui ouvida por outra cliente, vizinha do Teatro Silvio Santos, que contou que sua irmã, Fátima, era secretária do Ferreira Netto, então famoso jornalista de TV, e talvez tivesse algo para mim. Fui atrás e deu no que deu: comecei trabalhando no ‘Programa Ferreira Netto’, pela TV Record, no último ano da gestão Machado de Carvalho em sociedade com Silvio Santos, portanto antes da venda para o Edir Macedo.

Já em 1990, passei a me dedicar ao noticiário de TV, pelas mãos do amado Flávio Ricco, que chefiava o escritório do Ferreira, inclusive produzindo a coluna de TV, então publicada pela “Folha da Tarde” (jornal que viria a se transformar no “Agora São Paulo”) e mais de 30 jornais por todo o país. Atualmente colunista do UOL, meu mestre é o profissional que mais acumula furos sobre o noticiário de TV no País.

Durante os três anos e meio que estive sob as suas asas, aprendi mais que em qualquer faculdade, e jamais vi alguém deixar de atender a um telefonema seu – ao contrário, era ele quem recebia as ligações, inclusive de profissionais que raramente falavam com jornalistas, como Cassiano Gabus Mendes e Ivani Ribeiro (que tinha o hábito de atender aos meus telefonemas alegando que era a empregada da casa, e nunca ela).

Bons tempos nos conduzem nessa trilha do Silvio que, permitam-me sapatear no clichê, confunde-se com a história da própria TV no Brasil.

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Cristina Padiglione

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