Indicação de ‘Irmão do Jorel’ ao Emmy Kids reforça fôlego da animação brasileira
Em sua terceira temporada no Cartoon Network e a caminho da quarta safra, o “Irmão do Jorel”, ótima animação brasileira da Copa Studios, recebeu uma indicação ao Emmy Kids na categoria animação.
Contemplado no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro como animação e com indicações recorrentes em outras premiações nacionais, o “Irmão do Jorel” foge da casinha envernizada que por hábito se oferece à criançada. Tem um pai idealista, jornalista, com algumas ideias subversivas, e uma avó que vive com pirulito verde na boca – originalmente, quando a animação era um punhado de tirinhas de seu criador, Juliano Enrico, Vovó Gigi vivia, na verdade, com um cigarro nos lábios.
O irmão do Jorel é o cara menos popular que o Jorel, coitado, que nem nome tem e é conhecido pelo parentesco com o mais velho. É arejado, dribla o politicamente correto e joga a bola para o telespectador pensar.
Animação brasileira era área de matagal há coisa de 20 anos. Mal e mal havia uma Turma da Mônica tentando fazer alguma coisa e produções muito modestas. Seria impensável que esse segmento crescesse na contramão do movimento infantil nas televisões abertas, berço do gênero televisivo no Brasil. Programa infantil por aqui sempre foi, quando foi, live-action, tipo Vila Sésamo, Sítio do Picapau Amarelo e Castelo Rá-Tim-Bum.
Enquanto as TVs reduziam suas produções para uma apresentadora bonitinha que anunciava animações vindas de fora, compradas por aqui a preço de banana porque eram distribuídas em larga escala para o mundo todo, os então recém-criados canais pagos infantis passavam a cobiçar animações e live-actions made in Brazil, mas cadê grana para tanto?
Um filme como “O Menino e o Mundo” só apareceu entre finalistas ao Oscar de animação graças a programas de fomento do audiovisual, e o fator motriz do “Irmão do Jorel” não é outro senão as verbas de incentivo promovidas por artigos como o 39, que permite aos canais estrangeiros trocar o pagamento de impostos por investimento em produções locais, entre outros recursos que fazem a roda do audiovisual girar.
É bom que se associe o orgulho pela indicação do Jorel com o momento de esvaziamento sofrido atualmente pela Ancine, por problemas internos, vá lá, mas também pelo descaso do governo em relação ao tema, sem qualquer urgência de solucionar os entraves atuais.
Se a animação brasileira ocupa algum espaço internacional, hoje, é graças a uma competente administração de verbas criadas e aplicadas no setor do audiovisual.
Precursor desse caminho, o Peixonauta, produzido pela TV Pinguim, começou com linhas de crédito do BNDES, anteriores à lei da TV paga e dos recursos criados para o cumprimento de cotas nacionais na TV paga.
Hoje, o Peixonauta está em mais de 70 países. O Show da Luna, da mesma TV Pinguim e distribuição pelo Discovery Kids, chega a mais de 90 nações. Ambos os títulos difundem cuidados com meio ambiente e ciência, dois terrenos nos quais o atual governo tem sido cobrado por organismos internacionais. Ou seja, a animação tem sido nossa última chance de aparecer bem na fita lá fora, mas, a julgar pelo retrocesso nas políticas públicas do audiovisual, daqui a pouco, nem isso nos restará como cartão postal.
Outros indicados
O The Voice Kids e a última temporada de “Malhação” (“Vidas Brasileiras”, com Camila Morgado e Carmo Dalla Vecchia) também são finalistas ao Emmy Internacional destinado a produções infanto-juvenis, o Emmy Kids. Há ainda um quinto finalista, na categoria factual: o documentário “Nosso Sangue, Nosso Corpo“, sobre menstruação, que eu imaginava ser, na verdade, um branded content, conteúdo criado sob medida para determinado anunciante, no caso, a Sempre Livre.
Os indicados foram anunciados nesta segunda-feira (14) na Mipcom, em Cannes, na França, a mais importante feira mundial no calendário anual de eventos voltados à televisão.