Início do fim de ‘Game of Thrones’ nos joga de volta ao começo de tudo
Ok , se você não assistiu ao primeiro episódio desta temporada final de “Game of Thrones’, nem continue a ler.
Vamos falar do desfecho deste princípio do fim, quando Jaime Lannister (Nikolaj Coster Waldau) dá de cara com Bran Stark (Isaac Hempstead Wright), um segundo antes do fechar das cortinas deste primeiro episódio. Aliás, Bran, dono de uma vidência que tudo vê e tudo sabe, parece estar apenas esperando pela chegada do homem que o deixou tetraplégico, anos atrás, restringindo seus movimentos, o que afetou diretamente suas chances de sobrevivência naquela selva de gelo.
À parte os diálogos dignos de novela (o que era Jon Snow dizendo a Daenerys que ela supostamente estaria com frio, mal acostumada à baixa temperatura do Norte, e ela a lhe responder algo como “então vem me aquecer”?), o primeiro dos últimos seis episódios honrou uma narrativa bem construída, avançando nas noções do papel que cabe a cada um, a começar pelo fato de Jon Snow finalmente saber que carrega o sangue dos Targaryen e é o legítimo dono da coroa.
Voltando à cena final, Jaime Lannister foi quem empurrou o então fofíssimo Bran de um penhasco, no fechamento do primeiro de todos os episódios, quando este, escalando a construção da propriedade dos Stark, deu de cara com um buraco que servia de janela para os aposentos de Jaime, flagrando justamente o momento em que ele transava com sua irmã, Cersei (Lena Headey). Em um segundo de impasse sobre o que o casal incestuoso deveria fazer, ele bota a mão no peito do garoto e o empurra penhasco abaixo, emendando: “O que não se faz por amor?”
Esse é um daqueles momentos em que o espectador escancara o maxilar no modo boquiaberto e pula da poltrona.
É a primeira de todas as cenas que nos causaria crise de ansiedade entre uma semana e outra de cada temporada e, depois, uma crise de abstinência que logo há de se abater sobre milhões de pessoas, entre uma temporada e outra.
Convém lembrar como comove a dor enfrentada por Bran e toda a família em torno da recuperação (ou não) do garoto, nos dias a seguir, sem saber se ele sobreviverá e como sobreviverá.
Convém lembrar como o espectador odeia Jaime desde o primeiro instante, mas, por outra genialidade do roteiro, vai se esquecendo daquela brutalidade e arrogância exibida por ele nos primeiros episódios depois que sua mão direita é decepada. Não que a gente fique com peninha dele, longe disso. Ele mesmo vai mudando profundamente, por ossos literalmente encontrados no meio do caminho, daquela primeira temporada até agora, e vai se transformando num sujeito possível, capaz de ganhar a confiança da plateia, porque se mostra dono de uma compaixão inexistente na irmã.
Cersei, diga-se, está mais do que nunca trabalhada na sensualidade do mal.
Agora, passados todos os perrengues que vimos Bran enfrentar, inclusive sendo ungido à condição do corvo de três olhos que tudo pode ver e prever, do passado ao futuro, com um pé no reino dos mortos, este é o momento de lembrar o quão Jaime é responsável pela condição quase zumbi de Bran nessa altura dos acontecimentos.
É comovente imaginar que por mais que os dois anos de distância nos afaste da última temporada, sob o risco de termos esquecido vários nós atados da história, a imagem de Jaime fitando Bran na cadeira de rodas, ao final deste primeiro episódio da temporada final seja tão emblemática, quase um fio costurado ao princípio de tudo.
Convém notar ainda o protagonismo que Bran exerceu neste episódio inaugural da temporada final, após o mais longo hiato promovido pela série da HBO. Ao avisar Jon e Daenerys (Emilia Clarke) que não há tempo a perder contra o Rei da Noite e pressionar Sam (John Bradley) para que ele revele a Snow quem ele realmente é, fazendo seu olhar cruzar o caminho de cada entrave da história, até o ressurgimento de Jaime, na cena final, podemos apostar que está em Bran a chave para o caminho que nos conduzirá ao fim da saga, como esteve nele o foco da abertura da série baseada nos livros de George R.R. Martin.
Que venha o inverno!