João Moreira Salles inaugura série sobre documentaristas no canal Curta!
Documentarista que assina produções de alta relevância, como “Notícias de uma Guerra Particular”, “Entreatos”, “Santiago” e “No Intenso Agora”, João Moreira Salles inaugura uma série de 13 episódios sobre o trabalho dos documentaristas no Brasil. A estreia é logo mais, nesta quarta, 21, às 23h30, pelo canal Curta!
“Nós, documentaristas” tem direção de Susanna Lira, ela própria inclusa no título e com um episódio dedicado ao seu trabalho, com holofote especial para “Torre das Donzelas”, sobre mulheres torturadas e presas na ditadura. O filme, que conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff em depoimento gravado quando ela ainda estava no Planalto, e algumas de suas contemporâneas de cela no presídio Tiradentes, foi premiado no Festival de Brasília e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Na estreia, hoje, Moreira Salles conta que se formou em Economia por tradição da família, herdeira do Unibanco.
Logo ele seria convidado pelo irmão, o cineasta Walter Moreira Salles, a ajudar em uma tarefa, e mergulharia no universo dos documentaristas.
“As pessoas acham que o documentário serve pra mudar o mundo, eu acho que o documentário serve pra mudar o cinema”, ele diz.
Em “Notícias de Uma Guerra Particular”, conta, a ideia não era formular e apresentar uma conclusão. Era apenas registrar aquele cenário motivado pelo tráfico de drogas no Rio de Janeiro dos anos 90, pelo olhar de um traficante, de um morador e de um policial. O traficante, ponta mais resistente a falar, foi uma conquista alcançada por meio de Kátia Lund, que foi produtora contratada pelo cineasta Spike Lee quando ele esteve no Rio para filmar um videoclipe de Michael Jackson no Morro dona Marta.
Foi Kátia quem levou João a Marcinho VP, que autorizou a filmagem e os depoimentos de “Notícias”.
“Aqui, a gente não está na posição de saber como aquilo funciona”, explica. “Nesse sentido, o ‘Notícias’ é um pouco diferente. É um registro daquele Rio de Janeiro. Retrata essa violência meio anárquica, molecular, que não tem uma estrutura, não tem ideologia, não é um projeto, não quer chegar a lugar nenhum. Ela é basicamente anárquica. Não acho que tenha muita graça como documentário”, diz, modestamente.
Em agosto de 2002, propôs a Lula, então candidato já líder nas pesquisas de intenção de voto, filmar suas viagens pelo país em campanha pela eleição presidencial que depois o colocaria no poder em seu primeiro mandato. “Lula concordou com o projeto”, disse. “Em nenhum momento, Lula pediu para exercer algum controle sobre o filme.”
Embora Lula fosse alçado à presidência, Moreira Salles ressalta que cabia a ele, no papel do documentarista e editor, o poder de retratá-lo. “Quando você se coloca no papel de produzir um retrato de alguém, isso tem uma responsabilidade, você tem a tarefa de transformar uma pessoa num personagem, isso é uma redução da pessoa porque você escolhe o que editar. Tem que ter consciência desse trabalho de transformação. A tarefa do documentarista é lidar com essa responsabilidade, do que se pode ou não fazer com esse personagem, é isso que é um jogo de poder.”
Moreira Salles fala ainda sobre a importância que Eduardo Coutinho tem em sua formação e se comove ao lembrar os últimos trabalhos do amigo.
“Nós, Documentaristas” retrata uma lista de profissionais que se estende a Vladimir Carvalho, Lúcia Murat, Petra Costa, Emílio Domingos e
Cristiano Burlan. A produção é da Modo Operante Produções.
Os episódios vão ao ar todas as quartas, pelo canal Curta!, 23h30, com reprises às quintas (3h30), sextas (11h30) e sábados (21h).