Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Jornal Nacional ganhou mais de 1,5 milhão de jovens por dia na pandemia

William Bonner e Renata Vasconcellos na edição de sábado, quando o país ultrapassou a marca de 110 mil mortos pela Covid-19 / Reprodução

Desde que começou a pandemia do novo coronavírus, o Jornal Nacional ganhou mais 1,5 milhão de jovens por dia em relação ao mesmo período de 2019. Agora são 6,9 milhões desse target no JN por dia, ante 5,4 milhões no ano passado. A conta se refere à faixa de telespectadores entre 15 e 29 anos.

Segundo dados da Kantar Ibope observados pela Globo, de 16 de março a 30 de junho, 90% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos procuraram o jornalismo da Globo para se informar sobre a pandemia da Covid-19 e seus desdobramentos.

A Globo constatou que mais jovens de todas as classes sociais passaram a assistir ao JN e a outros telejornais de rede. O público jovem é, sozinho, responsável por 11% de todo o crescimento.

A liderança inédita da GloboNews na TV paga nesse período reforça a percepção do interesse do público em notícias. O canal fechou 2019 em 7º lugar em um ranking bem mais competitivo que a TV aberta.

Para a Globo, em um ano eleitoral marcado por uma pandemia, as pessoas estão mais interessadas em política e economia.

Talvez isso explique também a fragilidade da concorrência em obter o mesmo êxito que a Globo em seus noticiários. Record, SBT e RedeTV! têm pisado em ovos para não ferir o apoio ao presidente Jair Bolsonaro, alvo das maiores críticas negativas na condução da crise sanitária que abala o país.

Para explicar as causas e efeitos desse crescimento e o que restará dele quando alguma rotina fora de casa se restabelecer, o diretor da TV Globo, Amauri Soares, e o diretor-executivo de Jornalismo, Ricardo Villela falaram com exclusividade ao TelePadi.

“O isolamento social reteve pessoas de todos os perfis em casa”, diz Amauri Soares. “A família inteira ficou em casa. Mesmo com mais gente na frente da televisão, apenas a TV Globo ganhou audiência, enquanto as outras emissoras de TV aberta caíram ou mantiveram seus índices em relação ao momento anterior ao isolamento”, continua Soares. “Esse crescimento da TV Globo aconteceu em todas as faixas etárias, mas a presença dos jovens fez diferença porque é um público com rotina normalmente movimentada: escola, trabalho, amigos, namoro.”

Ricardo Villella completa: “Justamente por serem muito ativos, os jovens foram profundamente afetados pelo isolamento social ao terem de ficar em casa. E buscaram avidamente por informação sobre a evolução da pandemia e sobre como se proteger. Informação que chega pelas redes sociais é insuficiente porque não é checada, não é confiável, não é informação, portanto.”

Em consonância com o diagnóstico de Villela, a Globo lançou no domingo uma campanha composta por filmes e peças publicitárias para valorizar o jornalismo e todo o esforço feito pelos profissionais da casa para levar informação ao público durante a pandemia. As ações vêm sendo veiculadas em todos os canais e páginas do grupo, impressas ou online, e nas rádios da Globo.

“Informação de qualidade é o que o jornalismo profissional produz”, prossegue Villela. “E os jovens recorreram então ainda mais ao nosso jornalismo para se atualizar e entender o que estava acontecendo.”

Para Soares, mesmo com a volta do número de televisores ligados aos índices da pré-pandemia, esse crescimento tem grande valor: “Agora, quando o isolamento começa a ser relaxado em todo o país, as famílias vão gradualmente retomar as suas rotinas. Mas fica a conexão, o engajamento que essas pessoas estavam tendo com os conteúdos da TV Globo”.

“Já voltamos a ver trânsito pesado, congestionamento nas ruas. Sinal de que as pessoas estão saindo mais de casa. Portanto, a tendência é de que o número de pessoas vendo TV durante o dia volte aos patamares históricos. Mas o engajamento com os conteúdos da TV Globo fica. As pessoas que estavam vendo a programação de manhã ou no Vale a Pena Ver de Novo, por exemplo, vão buscar uma forma de continuar vendo”, acredita. “Ou adaptando suas rotinas, se puderem, ou usando o on demand, no Globoplay. Para os conteúdos da TV Globo é um ganho muito importante. Trata-se de um público que não estaria em casa normalmente.”

Se o público jovem hoje, com mais telas a sua disposição, é mais difícil de ser atraído pela TV linear do que o jovem do milênio passado, convém considerar que também temos uma população mais velha do que algumas décadas atrás e um jovem com rotina mais agitada e menos tempo em casa.

De todo modo, Soares ressalta que “diariamente, um terço de todos os jovens brasileiros assiste à TV Globo”. “No horário nobre na televisão, a TV Globo tem audiência entre jovens 65% maior do que todos os serviços de streaming somados. Os jovens assistem a toda a programação da TV Globo. Especialmente novelas, realitiy shows, futebol e jornalismo.  Durante a pandemia, quando  a informação passou a ser decisiva para o dia-a-dia, os jovens procuraram informação confiável nos telejornais da Globo.”

“O que a pandemia fez foi confirmar com números incontestes algo que a nossa experiência já mostrava”, endossa Villela. “Os jovens consomem bom jornalismo, desde que relevante e sintonizado com seus interesses. Informação sobre a pandemia é do interesse de todos porque afeta a vida de todos, independentemente da idade.”

Quando pergunto se há ensinamentos a assimilar a partir do retorno obtido pela audiência do público nesses meses de exceção, Amauri Soares responde: “A pandemia deixa duas lições. A primeira tem a ver com a retenção das famílias inteiras em casa por tanto tempo. Pais sem sair para trabalhar. Filhos sem sair para ir à escola. Jovens sem ir para a rua. Uma situação absolutamente excepcional. Ver estas famílias retidas em casa por quase cinco meses,numa dinâmica doméstica muito especial, assistindo juntas à programação da TV Globo, foi muito valioso. Tivemos índices recordes de audiência. Vimos estas famílias aumentando o número de horas diárias dedicas a assistir à nossa programação. Sinal de que fomos relevantes para elas, com nosso jornalismo, e de que fomos atraentes, com nossas histórias na dramaturgia, nos realities e nos filmes.

A segunda lição é mais específica sobre os jovens. Diante de um cenário tão desafiador e em que ter notícia era tão importante, os jovens mostraram que confiam em jornalismo profissional, em notícia apurada e de fonte segura. Os jovens mostraram saber a diferença entre jornalismo profissional e conteúdo de redes sociais.”

O quadro da TV paga na pandemia também foi redesenhado pela ausência de competições esportivas, derrubando o SporTV, líder do ranking em 2019, e pela troca dos canais infantis, sempre no topo dos mais vistos, por conteúdos que contemplassem toda a família -nesse momento, nada mais uníssono do que o interesse por notícias que norteassem as pessoas a respeito do vírus que causara esse confinamento.

A GloboNews não menosprezou a concorrência e já se preparava, antes mesmo da quarentena, cujo início coincidiu com a estreia da CNN Brasil, com novidades e mais horas ao vivo. Mas foi o conteúdo do noticiário que se impôs com força e ambos os canais têm se fartado com a cobertura de tantos acontecimentos sanitários e uma crise política acelerada pela saída de três ministros de pastas essenciais do governo nesse mesmo período. Para um canal que começou há cinco meses, a CNN Brasil tem apresentado audiência e repercussão relevantes, embora sua posição ainda esteja distante da GloboNews.

“O aumento de audiência do jornalismo da TV Globo e a liderança conquistada pela GloboNews na TV por assinatura já em março e mantida por vários meses, mesmo com a chegada de novos concorrentes, são a prova da força do jornalismo que a Globo faz”, diz Villela, ressaltando um dado importante para o hábito da TV aberta: o público sabe que encontrará na emissora a cobertura de algo relevante no momento em que acontece, estratégia que o SBT segue à risca na contramão. Não é à toa que a TV de Silvio Santos tem sido a que acumula mais perdas durante a pandemia.

“O jornalismo da Globo não se limita ao espaço reservado a ele na grade básica de programação. O público sabe que se algo relevante acontece, a programação abre imediatamente espaço para que o jornalismo entre. Seja em breves plantões, com a vinheta famosa, interrompendo o programa do momento, seja suspendendo a grade por longos períodos para que o jornalismo cumpra seu dever em caso de notícias em desenvolvimento. É o que acontece em episódios trágicos como a queda da barragem de Brumadinho ou quando é necessário prestar serviço, como em grandes temporais que paralisam as cidades”, completa o diretor de jornalismo.

Esse tipo de postura é algo que se cultiva no hábito do público ao longo de anos e prepara o espectador para buscar informação onde a produção jornalística parece mais ágil. “Para o jovem, que já cresceu com um sentido de urgência mais aguçado pelo desenvolvimento da internet, isso é ainda mais importante. É o que ele quer na hora em que quer”, conclui Villela.

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Cristina Padiglione

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