Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Jornalista que botou a Lava-Jato em xeque, Glenn Greenwald estará no centro do Roda Viva

O jornalista Glenn Greenwald, sócio e fundador do site The Intercept Brasil"/Reprodução

Jornalista que vem tirando o sossego da República, do ministro da Justiça, Sergio Moro, e dos agentes envolvidos na Operação Lava-Jato com a divulgação de conversas entre procuradores, juízes e afins, Glenn Greenwald ocupará o centro do Roda Viva, na TV Cultura, na segunda-feira (2/9).

O sócio e cofundador do site The Intercept Brasil comparece ao programa com transmissão ao vivo, sob o comando de Daniela Lima, editora do Painel, da Folha, em entrevista a uma bancada de jornalistas ainda em fase de definição.

A chamada já está pronta:

Advogado constitucionalista, Greenwald é autor de quatro livros entre os mais vendidos do New York Times na seção de política e direito. Seu livro mais recente, No Place to Hide (Sem Lugar Para Se Esconder), descreve o estado de vigilância implementado pelo governo americano e seus aprendizados durante as reportagens sobre os documentos vazados por Edward Snowden.

Antes de fundar o Intercept, Glenn escrevia para o jornal britânico The Guardian e para o portal Salon. Foi o primeiro ganhador, ao lado de Amy Goodman, do Prêmio de Jornalismo Independente Park Center I.F. Stone em 2008 e recebeu o Prêmio Online Journalism de 2010 por sua investigação sobre as condições degradantes na detenção de Chelsea Manning.

Reportagens sobre a NSA (Agência de Segurança Nacional – EUA) lhe renderam o Prêmio George Polk de Reportagens sobre Segurança Nacional, o Prêmio de Jornalismo Investigativo e de Jornalismo Fiscalizador da Gannett Foundation, o Prêmio Esso de Excelência em Reportagens Investigativas no Brasil (foi o primeiro estrangeiro premiado) e o Prêmio de Pioneirismo da Electronic Frontier Foundation.

Ao lado de Laura Poitras, a revista Foreign Policy o indicou como um dos 100 principais pensadores globais de 2013. As reportagens sobre a NSA para o jornal The Guardian receberam o Prêmio Pulitzer de 2014 na categoria Serviço Público.

Roda gira com temperatura

Sob nova administração desde o início de agosto, quando mudou de cenário e de âncora, o Roda Viva passou a ser chefiado por um novo diretor de jornalismo, Leão Serva, e até aqui vem demonstrando grande acerto na temperatura ditada pela escolha de seus entrevistados.

A nova gestão do Roda Viva é resultado da troca de nomes na presidência da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da emissora (saiu Marcos Mendonça, indicado no governo Alckmin, e entrou José Roberto Maluf, endossado pelo governo João Doria). É do palácio do governo, afinal, que sai 60% da verba que sustenta a Cultura.

É preciso dizer que toda essa fileira de dominós tem reflexo na ponta final do Roda Viva, que é a cadeira do centro da arena-cenário, aquela reservada ao convidado de cada semana. Até aqui, a atual administração, do Morumbi à Água Branca, bairro onde fica a sede da emissora, tem dado boas demonstrações de independência ao jornalismo da casa, com extensão ao programa de entrevistas mais tradicional da TV brasileira, no ar há 33 anos.

Oxalá assim siga.

Nessa etapa, já foram entrevistados:

  1. O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, na semana em que o presidente Jair Bolsonaro mencionou o desaparecimento do pai dele, durante o regime militar.
  2. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em semana de votação de reforma da Previdência.
  3. O deputado federal Alexandre Frota, poucos dias depois de ser expulso do PSL, partido de Bolsonaro.
  4. O ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, em dias de repercussão mundial sobre as queimadas na Amazônia.

 

Ao acertar na escolha dos convidados em sintonia com a relevância de cada um no noticiário da semana, o Roda Viva assegura também a boa repercussão que sempre marcou o programa, arrefecida após as eleições, ou desde a virada de ano.

A entrevista com Frota bateu recorde do ano no canal do programa no YouTube, com 464 mil visualizações em uma semana.

Já a edição com Salles foi parar no New York Times, que expôs a contradição entre Bolsonaro e seu ministro: àquela altura do programa, o presidente dizia que o Brasil não ia aceitar a ajuda de US$ 20 milhões oferecida pelo G7 para a Amazônia, enquanto Salles, no estúdio, afirmava o contrário. Vinte e quatro horas depois, viu-se que a resposta do ministro prevaleceu, já que o presidente brasileiro recuou no tom de agressão à França e na exigência por um pedido de desculpas de Macron, presidente francês, que havia chamado Bolsonaro de “mentiroso”.

Com essa sucessão de acontecimentos, seria um desperdício se um programa como o Roda Viva não estivesse comendo com garfo, faca e guardanapo ao alcance das mãos.

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Cristina Padiglione

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