Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Justiça agenda audiência conciliatória para ação de Mauro Cézar contra Sandro Barboza

Mauro Cézar move ação por danos morais contra Sandro Barbosa (à dir.) Fotos: Reprodução

O jornalista esportivo Mauro Cézar move, desde junho de 2020, ação por danos morais contra Sandro Barboza, repórter do grupo Bandeirantes, por uma série de tuítes em que foi identificado pelo apelido de “Manja Rola”. No próximo 8 de março, por determinação da 1ª Vara do Juizado Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, os dois se encontrarão em audiência conciliatória virtual.

Cézar pede R$ 25 mil de indenização ao outro, que arcaria ainda, em caso de derrota, com as custas do processo e honorários dos advogados do autor da ação.

O blog teve acesso aos documentos da ação, aonde foram anexadas cópias dos vários tuítes publicados por Sandro Barboza, que usou o que tratou como a revelação de um apelido do jornalista para angariar s milhares de seguidores em sua conta. O jornalista esportivo apresenta ainda cópias de muitas ofensas recebidas de haters e enumera os prejuízos causados ao seu trabalho e à família, com quem passava férias quando as publicações começaram a causar estrato à sua imagem.

Abaixo, um trecho da ação e os argumentos de Cézar, que conta ter sido até recebido, a partir da divulgação de um apelido que diz nunca ter tido, de caráter homofóbico, ameaças pelo WhatsApp.

“[…]  salienta-se que tanto o autor como o réu são jornalistas e, portanto, estão sujeitos às críticas e opiniões diversas de outras pessoas, em razão do direito da liberdade de expressão e de pensamento.
No entanto, não seria tolerável extrapolar tal direito de crítica por meio de ofensa grave e gratuita, de baixo calão, o que, inclusive, acabaria por colidir com a garantia constitucional da proteção à honra, à imagem, como expressão da dignidade da pessoa humana. Ressalta-se, também, que os demandantes sequer se conhecem pessoalmente e nem mesmo possuem qualquer tipo de contato ou relacionamento.
O ilícito perpetrado pelo réu teve início no dia 16 de janeiro de 2020, quando publicou série de tuítes, primeiro relatando que o autor o teria bloqueado no Twitter e, após, dizendo que a partir daí ganhou seguidores, chegando a publicar prints de pessoas tratando do assunto a partir da postagem inicial dele.
No mesmo dia, publicou tuíte dizendo que revelaria suposto “apelido do comentarista Mauro Cezar” entre palmeirenses (jornalistas e conselheiros) caso chegasse a 8 mil seguidores no Twitter (hoje, depois
da publicação do apelido atribuído pelo réu ao autor, se aproxima dos 11 mil seguidores).
Fez algum suspense nos tuítes seguintes e em dado momento tuitou que faltavam 940 seguidores para que o apelido fosse revelado. Depois escreveu que faltavam 39 seguidores para relevar o apelido atribuído pelo réu ao autor, a essa altura a conta dele era acessada por mais pessoas em função do
compartilhamento desses tuítes.
E, o objetivo anunciado, ganhar seguidores, estava sendo alcançado. Perfis como o de “Alan Mansur” chegavam a ironizar e pedir aos demais que seguissem Sandro Barboza, para que ele atingisse os 8 mil seguidores e revelasse o suposto apelido.
Enfim, Sandro Barboza escreveu e publicou “#Manjarola” num tuíte. E, segundos depois escreveu no Twitter: “MANJA ROLA”.
Instantaneamente, milhares de perfis começaram a repetir a expressão chula e grave atribuída pelo réu ao autor, endereçando-a à conta do autor no Twitter: @maurocezar.
De férias, viajando com a família, o autor foi surpreendido ao acessar o Twitter e ver que incontáveis mensagens a ele chegavam com ironias e ofensas, sempre com referências à expressão atribuída pelo réu ao autor: “MANJA ROLA”.
Em seguida, o perfil (falso) de Paco Belmonte escreveu:
“Informação: O apelido do @maurocezar entre os setoristas do Palmeiras é “Manja Rola”. Fonte: @osandrobarboza”
Logo depois, Sandro Barboza retuitou a mensagem de Paco Belmonte com a frase “Eu não falei isso!”
Ao fazê-lo, obviamente amplificou ainda mais a ofensa, a repetiu, agindo de maneira dissimulada, já que, embora não tenha publicado o nome Mauro Cezar ou a conta do Twitter @maurocezar junto à expressão chula e grave por ele utilizada, o fez em sequência que caracterizou, obviamente, ser aquele o suposto
apelido que há horas prometia “revelar”.
Indignado com tamanha humilhação, uma autêntica ação difamatória pública, o autor apresentou o caso aos seus colegas na Rádio Bandeirantes, onde trabalha como comentarista esportivo. O réu é repórter da TV Bandeirantes, ou seja, ambos trabalham no mesmo grupo de comunicação.
Após, possivelmente ser advertido pelo grupo Bandeirantes, o réu voltou ao Twitter, admitindo que escrevera aquilo para o autor, apesar do retuíte para Paco Belmonte alegando não ter escrito aquilo: “Quero deixar claro que não tenha nada contra o Mauro Cezar. Sei que ele não gostou de uma brincadeira. Se ele se sentiu ofendido, peço desculpas”.
Logo em seguida, o autor tuitou: “Milton Neves é conhecido como Cabeção. Mauro Beting é o peruca. Eles não se ofendem. Mas tem gente que se ofende. Portanto, da minha parte ao Mauro Cezar, eu peço desculpa se ele se sentiu ofendido”.
Esse tuíte subsequente ao suposto pedido de desculpas é uma evidência de que, na realidade, o réu não queria se retratar.
Ele tentou aumentar a amplitude da ofensa na rede social, ao jogar a responsabilidade da repercussão para o autor, como se fosse aceitável tal “brincadeira”.
Ora, se os demais integrantes da mídia esportiva têm mesmo tais apelidos citados pelo réu, fica claro que nenhum deles possui o caráter homofóbico, preconceituoso e agressivo da expressão “Manja Rola”.
Além disso, o autor jamais foi assim chamado por alguém.
O ato irresponsável e reprovável do réu acabou por dar início a uma avalanche de ofensas com utilização desse termo e da hashtag “#ManjaRola”, pelo réu criada e atribuída ao autor, tanto que pouco depois, ela era a primeira nos Trend Topics, ou seja, o assunto mais comentado no Twitter em todo o Brasil!
Logo após, Paco Belmonte (falso perfil) postou no Twitter: “Alô Band TV esperamos que o meu amigo @osandrobarboza não seja prejudicado pela verdade que ele falou hoje do pior jornalista do Brasil, @maurocezar (o #ManjaRola) Ajudem a subir #FicaSandro”.
Tudo parece indicar que, talvez, a possível e aparente ação conjunta do perfil Paco Belmonte com o de Sandro Barboza em seguidas tuitadas caracterize uma conhecida estratégia utilizada por “haters” e afins em redes sociais: a repetição de uma mensagem ofensiva em diferentes formas e contextos para estimular
outros a compartilhar, ampliando o alcance, numa autêntica ação orquestrada para subir uma #(hashtag). Dessa maneira, o alvo de tal campanha é exposto a mais e mais internautas, disseminando o ódio, xingamentos e ameaças.
Não demorou e o autor começou a receber mensagens chamando-o de “Manja Rola” pelo WhatsApp. Seu número de celular havia “vazado” há algum tempo, como foi divulgado em matérias publicadas na imprensa (casos que estão sendo apurados pelo Ministério Público e pela DRADE – Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva, com 14 pessoas sendo intimadas e abertura de inquérito devido a insultos, ações orquestradas contra o autor pela internet e ameaças físicas).[…]

 

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Cristina Padiglione

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