Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Mais de 75% dos filmes nacionais de 2016 foram dirigidos por homens, aponta estudo da Ancine

Anna Muylaert, diretora de 'Mãe só há uma', filme que compõe a parcela feminina, em minoria, no do cinema nacional em 2016

Dos 142 filmes brasileiros lançados comercialmente em 2016, 75.4% foram dirigidos por homens brancos.

A informação vem de um estudo da Ancine (Agência Nacional de Cinema), que mostra ainda que mulheres brancas dirigiram 19,7% dos filmes. Apenas 2,1% dos títulos tiveram homens negros na direção. Já a participação de mulheres negras em créditos de direção e autoria é zero, nula, nenhuma: não houve, entre 142 filmes, nenhum dirigido ou escrito por uma mulher negra.

O levantamento feito pela Ancine, “Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016”, dá seguimento à análise de dados sobre a participação feminina que a Superintendência de Análise de Mercado vem produzindo desde 2014. A publicação promete ser anual e o balanço de 2017 tem previsão para ser divulgado em junho deste ano, no Observatório do Cinema e Audiovisual (OCA).

 

Não é só nos créditos de direção que os homens brancos são maioria esmagadora. Eles estão nas principais funções de liderança no cinema, o que evidencia que as histórias exibidas nas telas do país, produzidas por brasileiros, têm sido contadas majoritariamente do ponto de vista masculino: 68% deles assinam o roteiro dos filmes de ficção, 63,6% dos documentários, e 100% das animações brasileiras de 2016 (na verdade, uma única em 2016, como mostra o estudo acima, que foi justamente “O Menino e o Mundo”, indicada ao Oscar).  Os homens dominam também as funções de direção de fotografia (85%) e direção de arte (59%).

Na frente das câmeras, o estudo só evidencia o que já é possível notar “a olho nu”: embora a população negra brasileira seja maioria (50,7%, segundo dados do IBGE de 2016), eles só estão representados em 13,4% das produções nacionais de ficção (97 filmes) para o cinema em 2016.

As mulheres só são maioria na função de produção executiva (curiosamente, é quem manda no caixa), com 36,9% (fatia de brancas, bem entendido), ante 26,2% de homens (igualmente brancos).  As equipes mistas, com homens e mulheres brancas, somam 26,2%. Os homens negros assumem 2,1% da função de produção. Sozinhas, as mulheres negras não assinam nenhuma produção. Apenas 1% de mulheres brancas e negras respondem à função em equipes mistas.

O universo da pesquisa teve como base os dados do SADIS – Sistema de Acompanhamento da Distribuição em Salas de Exibição. Cada filme teve as funções de Direção, Roteiro, Produção Executiva e Elenco classificadas quanto à identidade de gênero e raça/cor.  Já as funções de Direção de Fotografia e Direção de Arte tiveram classificação quanto à identidade de gênero. No total, foram analisadas 1.326 pessoas envolvidas no cinema brasileiro de 2016.

A Ancine promete estudar meios de incentivo para equilibrar essa gangorra com proporções menos discrepantes. No caso da diferença entre gêneros, um movimento importante no mercado publicitário já está em andamento, e não só no Brasil, para incentivar a presença da mulher no set.

 

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Cristina Padiglione

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