Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Mensagem de fim de ano: ninguém mais é intocável

Kevin Spacey, tirado de cena após denúncias de assédio

A despeito das ótimas produções que a televisão realizou este ano, o que marca o calendário não é exatamente a qualidade das grandes séries, da boa novela ou dos talent shows.

2017 passa para a história como o ano em que se mostrou possível ver grandes astros sumirem de cena após denúncias de assédio ou racismo, de Kevin Spacey a José Mayer, chegando a William Waack – que não é exatamente astro, mas jornalista de repertório altamente respeitado.

A desastrosa participação de Dudu Camago no Programa Silvio Santos, com Maísa

O quase nunca contestado Silvio Santos teve de ouvir poucas e boas de uma guria de 15 anos, funcionária sua: diante do bajulador Dudu Camargo, Maísa Silva foi tratada pelo patrão como alguém que está aí à espera de marido e reagiu com a autoconfiança que se espera das novas gerações femininas. Foi reprovada por Sônia Abrão, que considerou a mocinha “arrogante”, mas apoiada por Fernanda Lima, que também foi alvo das polêmicas frases de Senor Abravanel.  “Com essas pernas finas e essa cara de gripe, ela não teria nem amor nem sexo”, disse o animador sobre a senhora Rodrigo Hilbert.

A apresentadora rebateu, com texto publicado em suas redes sociais:

Victor, ejetado do ‘The Voice Kids’ após ser acusado de agredir sua mulher., Poliana

2017 termina ainda com Victor & Léo ejetados da cadeira do júri do “The voice Kids”, em razão de uma denúncia de Poliana Chaves, mulher de Victor que, grávida, o acusou de agressão. Embora ela tenha retirado a queixa a seguir, as investigações e câmeras próximas à cena da discórdia flagraram provável razão dela.

José Mayer em ‘Senhora do Destino’, reprisada este ano no ‘Vale a Pena ver de Novo’

No quesito assédio, José Mayer apenas foi confinado à própria casa, tendo contrato devidamente em dia com a Globo. Foi privado de novos trabalhos na emissora, mas passou o ano todo no ar, em três horários diários, pelas reprises do canal Viva (“Fera Radical” e “Tieta”) e da Globo (“Senhora do Destino”). Acusado pela figurinista Su Tonani de assediá-la e forçar intimidades como tocar em sua genitália na frente de colegas de equipe da novela “A Lei do Amor”, Mayer se desculpou com uma carta em que atribui seu comportamento à criação machista de sua geração.

Embora a atriz Letícia Sabatella tenha expressado um breve comentário (“O Zé não toma jeito”), insinuando que o ator já é reincidente nessa questão, verdade seja dita, não apareceu uma fila de atrizes endossando a queixa de Su (que acabou por não registrar queixa oficialmente na delegacia), como aconteceu no caso de Kevin Spacey. O protagonista de “House Of Cards” (Netflix), vencedor do Oscar, foi acusado pelo ator Anthony Rapp de tê-lo assediado em uma festa na sua casa, quando a vítima tinha apenas 14 anos. A Netflix imediatamente se mostrou chocada, mas a série de denúncias a seguir, todas nessa linha, deixam claro que o comportamento do ator já não era um segredo nos bastidores, reforçando que a ação da companhia foi meramente uma consequência de o fato vir a público.

Ao se desculpar por estar bêbado na primeira acusação, Spacey já aproveitou para zerar a bolsa de especulações e deixar claro que é gay.

E a última temporada de Mr. Underwood, que já estava em gravação, foi interrompida, para depois endossar o poder da primeira-dama, Claire Underwood (Robin Wright) e tirar Spacey de cena.

Por fim, temos o caso de Waack, visto em um vídeo do ano passado, mas só agora vazado na web, atribuindo a “coisa de preto” um barulho de buzinas que atrapalhava um link durante a cobertura das eleições americanas. Após quase dois meses de suspensão do “Jornal da Globo”, Waack formalizou sua saída da Globo em comum acordo com a emissora.

 

Exceção feita a Silvio Santos, que é o dono da bola no jogo, todos se desculparam e recolheram a alguma reclusão.

Mas todos os episódios de TV viraram grãozinhos perto do caso do produtor Harvey Weinstein, acusado por mais de 40 mulheres de tentar trocar favores sexuais por grandes oportunidades no cinema. Na lista, algumas das maiores grifes de Hollywood, como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Mira Sorvino, ex-namorada do cineasta Quentin Tarantino. De novo, cabe perguntar: com evidências tão fortes, esse comportamento nunca foi conhecido pela indústria do cinema? Sim, a questão era: quem tem coragem de denunciar.

Agora, diante dos primeiros resultados obtidos por acusações do gênero, é bem possível crer que o lado fraco da corda a arrebentar já não é o da vítima, por mais gabaritado que seja o acusado. E aí está um quadro de boas perspectivas para 2018.

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Cristina Padiglione

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