Mudança tardia de corte de cabelos da mocinha faz de novela das 9 uma fábula
O que faria uma pessoa foragida que se livrou de um cárcere privado no caixão de um cadáver?
- Mudaria o corte e a cor dos cabelos
- Deixaria a barba crescer ou se livraria dela (no caso de um homem)
- Adotaria óculos ou boné
- Nenhuma das anteriores: andaria por aí com a mesma cara de quem foi vista no cárcere pela última vez.
A 4ª opção é a mais improvável de todas, e no entanto foi justamente a alternativa adotada por Clara (Bianca Bin), a mocinha da novela “O Outro Lado do Paraíso”, por comando do diretor Mauro Mendonça Filho.
Como Clara estava para ficar milionária na história, com a venda das obras de arte que herdou da amiga de quarto do cárcere/hospício, a direção da novela optou por causar uma mudança de grande impacto a partir de sua grande virada, com figurino de rica, acessórios e o devido corte de cabelos.
Mas o recurso dos cabelos era algo que deveria ter acontecido em duas etapas, obrigatoriamente, para que não achássemos que estávamos assistindo a uma fábula. Aliás, até uma fábula seria mais verossímil nesse contexto.
Por que a moça não tosou a juba de cara, de qualquer jeito, para depois aperfeiçoar o corte e ser devidamente coberta pelo banho de lojas? Preguiça? Não parece ter sido este o erro. O incontrolável desejo de promover um impacto maior pela virada do visual é justificável, mas não encontra lógica na trajetória de uma foragida.
Novela ou ficção não precisa ser absolutamente realista, mas carece de lógica. Como digo sempre, as ações de Harry Potter não existem na vida real, mas são todas possíveis, dentro do universo criado por J.K.Rowlling.Em “Império”, de Aguinaldo Silva, Drica Moraes precisou se afastar das gravações por questões de saúde, e de um dia para o outro a personagem reapareceu na pele de Marjorie Estiano, que tinha vivido o mesmo papel na primeira fase, indicando que Drica teria feito uma plástica. Ninguém botou fé, mas o drama da atriz ganhou uma leitura bem-humorada dentro da própria história, causando choque e surpresa nos demais personagens.
Agora, não. Clara sai no caixão e mantém o mesmo rosto pedindo que o público tenha piedade de sua dor, sem trégua ao drama. Fica difícil não achar graça num fator improvável levado tão a sério.