Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Na nova temporada, ‘Sob Pressão’ reforça arte de fazer pensar sob fortes emoções

Imagem do primeirao episódio da 4ª temporada. Foto: Reprodução

A televisão sempre esteve mais interessada em emocionar do que em informar o telespectador. Feito raro é alcançar as duas premissas de forma orgânica, a ponto de a plateia assimilar a mensagem enquanto chora ou ri. Já sabemos que “Sob Pressão” atinge esse ponto com grande competência, mas cabe dizer que isso não se perde –ao contrário, só se reforça– na chegada do título à sua quarta temporada –sem contar os dois excepcionais episódios do “Plantão Covid”, exibidos no ano passado.

Tive acesso ao episódio que a Globo leva ao ar logo mais e atesto que saltei da cadeira, chorei e apertei as mãos ao longo do capítulo de estreia, que me comoveu com personagens que sofrem de doença mental, de fome e de intolerância.

Ninguém diria que isso é uma surpresa, mas, sim, como lembra Vera (Drica Moraes), “ainda tem gente que diz que não tem fome no Brasil” –uma provocação a quem disse isso recentemente, mesmo sentando na cadeira do sujeito que deveria zelar pela alimentação do povo.

De mais a mais, os assuntos ganham força e fazem jus a diálogos precisos, com a vantagem de exibir o ponto de vista dos dois ou mais lados de uma questão, o que o noticiário dificilmente pode fazer. Para um médico, toda vida merece ser salva. Para quem quase morreu nas mãos de um agressor, a vítima deve ter prioridade no salvamento.

Um sujeito que tem um surto no meio da rua e esfaqueia alguém pode ser visto como bandido, mas também pelo olhar de quem sofre de doença mental e nunca recebeu atenção por isso. “Doença mental não sangra: vai ser sempre a última na fila de emergência”, lembra o nosso herói, doutor Evandro (Júlio Andrade). “A gente só se lembra quando dá merda”, conclui Mauro (David Júnior).

Evandro e Carolina (Marjorie Estiano) chegam à nova safra de episódios aparentemente mais seguros de si, mas, pelo que já vimos nas chamadas, a inquietude não demora a assaltar de novo o protagonista, com uma suspeita de paternidade que ele desconhecia.

A ausência paterna, aliás, é outro ponto focalizado neste primeiro episódio –do menino de 13 anos que se vê obrigado a cuidar da mãe, sem ter quem olhe por ele, à grávida que teme ficar viúva antes do parto.

A concepção visual continua pautada pelo realismo na sua plenitude, como se a gente se esquecesse por completo que tudo visto na tela é trabalhado sob encomenda: cenário, atores, script, iluminação, ângulos de câmera e figurino. A sensação de realidade faz crer que aquelas pessoas poderiam estar falando aquilo bem ao seu lado, todas materializadas para além da tela.

Só quando sobem os créditos e a produção insere na tela cartelas de advertência sobre saúde é que a gente se lembra que está diante de um enredo ficcional. Só aí a organicidade cede espaço para avisos em direção ao papo reto sobre fome e, embora a Covid não seja o tema central da vez, sobre a importância da vacinação contra o novo coronavírus.

Para a alegria de quem se permite ser informado enquanto é assaltado pelo choro engasgado, “Sob Pressão” segue honrando a condição de um filme essencial. E fica a esperança de que os negacionistas sejam apanhados de calças curtas pela emoção.

 

A série estreia nesta quinta (12) na Globo, às 22h30, ficando depois disponível no GloboPlay.

Coprodução da Globo e Conspiração, a série é escrita por Lucas Paraizo com Márcio Alemão, André Sirangelo, Pedro Riguetti e Flavio Araujo, direção artística de Andrucha Waddington e direção de Andrucha, Mini Kerti, Rebeca Diniz, Julio Andrade e Pedro Waddington. Com produção de Isabela Bellenzani (TV Globo) e Mariana Vianna (Conspiração), e direção de gênero de José Luiz Villamarim, “Sob Pressão” vai ao ar após ‘Império’.

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Cristina Padiglione

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