Nazaré reencarna nas cenas de Renata Sorrah com Adriana Esteves em ‘2º Sol’
Dar de cara com Adriana Esteves contracenando com Renata Sorrah em “Segundo Sol” é cutucar a memória afetiva noveleira. Não há como ver as duas atrizes juntas e não pensar em Nazaré, a deliciosa vilã eternizada por Renata em “Senhora do Destino” (2004), com remissão a outra megera louvável, a própria Carminha construída por Adriana pelas mãos do autor da vez, João Emanuel Carneiro, em “Avenida Brasil” (2012).
Adriana viveu Nazaré jovem, na primeira fase de “Senhora do Destino”, contracenando com Tarcisinho e Tônia Carrero. Foi na pele de Adriana que a personagem forjou uma gravidez e roubou um bebê, a pequena Lindalva, rebatizada como Isabel, no enredo de Aguinaldo Silva.
Oito anos depois, ao nos apresentar a vilã de “Avenida Brasil”, Adriana podia dizer que Carminha, arrebatadora para o sucesso da novela, era formada na escola de maldades de Nazaré Tedesco.
Até encarnar Nazaré jovem, Adriana havia sido má-muito-má apenas em uma outra ocasião, com honras, quando deu a Sandrinha, sua personagem em “Torre de Babel” (1998/99), a chance de explodir o shopping que servia de eixo à trama de Silvio de Abreu.
Renata e Adriana também já haviam contracenado em “Pedra Sobre Pedra” (1992), outro enredo de Aguinaldo Silva, mas Pilar e Marina Batista eram mulheres bacanas, muito longe da canalhice de Nazaré e Carminha.
Agora como Dulce, mãe de Laureta, Renata interpreta uma mulher abobalhada, sequela de uma depressão profunda de anos atrás, quando o então marido (Nestor/Francisco Cuoco) a trocou por Naná (Arlete Salles). Vê-la ao lado da pérfida herdeira é acionar a lembrança das maldades de Nazaré e Carminha, como se as duas fossem fruto da mesma árvore.
Pelo Twitter, o autor Aguinaldo Silva, que por longo tempo cultivou a ideia de trazer Nazaré de volta em sua próxima novela, “O Sétimo Guardião”, agradeceu ao autor de “Segundo Sol” a chance de ver as duas Nazarés juntas.
E não há incongruência alguma no fato de os vilões habitarem nossa memória com mais força que os mocinhos. A maldade, como dizia Nelson Rodrigues sobre a obra de Dostoievski, exorciza o mal que habita um pouco de todos nós. “Quando Raskolnikov mata, ele mata por todos nós, ele exorciza no espectador a vontade de matar”, dizia o dramaturgo brasileiro, até como referência às suas tragédias.
Assim, que a maldade nos acompanhe, de preferência, na ficção.