Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Netflix põe no ar o concerto que rendeu ‘AmarElo’ no Municipal

Emicida no Theatro Municipal de São Paulo para o concerto AmarElo/Divulgação

Oito meses depois de lançar o documentário “AmarElo: É Tudo Pra Ontem”, de Emicida, que equivale a  boas aulas de História, a Netflix põe no ar o concerto completo no Theatro Municipal de São Paulo em torno do qual o filme anterior foi feito.

No doc que já estava no ar e segue disponível na plataforma, o show é visto por meio de alguns recortes que sublinham o triunfo da proposta do filme: levar àquele cenário, essencialmente erguido por operários pretos, gente que nunca se sentiu convidada a adentrar um dos principais patrimônios de sua cidade. Agora, o show completo está disponível: “Emicida: AmarElo Ao Vivo”.

O documentário foi aclamado como uma das mais relevantes produções do ano passado, mas teve quem tentasse jogar água na premissa do músico, alegando que a maioria da plateia do Municipal na ocasião era branca mesmo. Bobagem. A proposta de Emicida nunca foi vetar a entrada de brancos, apenas que queria levar também os pretos ao suntuoso cenário. E cumpre a promessa ao nos mostrar uma plateia mais colorida do que jamais foi visto no Municipal.

“AmarElo”, concerto e doc, não tem a pretensão de segregar, muito pelo contrário, apenas busca reduzir o desequilíbrio entre pretos e brancos em suas vantagens e desvantagens, e, especialmente no imaginário de seus sonhos, como é explicitado no documentário. Como disse Emicida no documentário, é preciso reforçar os pretos que aquele palco também lhes pertence, assim como suas frisas e camarotes.

Pertencimento, é isso que está em jogo.

O concerto agora disponível para 190 países soma quase 1h40 de duração, com realização da Laboratório Fantasma, empresa do cantor, com direção do próprio Emicida e de Fred Ouro Preto, e produção de Evandro Fióti.

Em texto para o blog da plataforma, Emicida fala sobre documentário e show, o conjunto da obra de “AmarElo” e a exposição de seus versos e pensamentos em uma vitrine de tamanho alcance nesses dias de tão prolongado recesso presencial imposto pela pandemia.

Diz ele:

“Em outros tempos, em dias que nem vão muito longe, nossas turnês passavam por lugares específicos, casas de shows em algumas cidades do mundo, e as pessoas deslocavam-se de suas próprias casas para poder prestigiar os nossos concertos. A nossa forma de oferecer um imenso abraço coletivo sempre foi através da partilha do que fazemos de melhor, que é o nosso som.

Mas, de repente, o mundo estava de cabeça para baixo e, no lugar de nossos encontros, ficou uma saudade imensa. Enquanto inventávamos novas formas de sobreviver nesse novo contexto, nos perguntávamos a respeito de quais janelas iríamos trocar olhares com os nossos fãs, as pessoas que nos trouxeram até aqui desde o início e que, nesse momento, precisam desse nosso abraço mais do que nunca.

Nesse sentido, “AmarElo – É Tudo Pra Ontem” foi mais do que um filme para nós na Laboratório Fantasma. Foi como se arrancássemos nosso coração do peito e oferecêssemos a cada fã que precisava sentir aquele batimento em um passado recente, que, infelizmente, insiste em não passar. Era nosso presente para o mundo, e a Netflix foi a melhor janela por onde aquele raio de sol poderia entrar.

Sem nenhuma conversa fiada, mesmo em tempos “normais”, não são todas as cidades que têm condições de receber um espetáculo daquela magnitude, mas, graças à parceria com o pessoal do “Tudum”, de repente, meus amigos e eu estávamos na sala da sua casa, cantando e contando uma história que é de todos nós.

Bem, esse passado que insiste em não passar ainda nos mantém cuidadosos numa rotina de distanciamento, máscaras, higienização constante e cuidado, mas é impossível não comemorar a oportunidade de, neste momento, retornar à sala da casa de todo mundo (e no mundo todo) com a turnê que a Covid-19 nos roubou.

Já podemos ver uma luz no fim do túnel, as vacinas hão de chegar para todos, mas a precaução ainda se faz necessária e esse segundo abraço também. Um abraço que diz que foi difícil, um abraço que lembra que ninguém está sozinho, um abraço onde você sente o nosso coração bater junto com o seu novamente e é como dizem: “enquanto há vida, haverá esperança”. Que possamos com essa nova “invasão” oferecer um pouco da luz da esperança que acende nossos olhos todas as manhãs. A turnê “AmarElo” está chegando na sua cidade, mas, dessa vez, não na casa de shows, nada disso, nosso encontro vai ser na sua casa. Oferecendo ao mundo histórias de um Brasil teimoso, de vida e de sonhos, que é grande demais pra ser engolido por qualquer momento de tristeza.

Continuemos teimosos e vivos!
Emicida.”

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Cristina Padiglione

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