Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo
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No ‘Lady Night’, Caetano beija muito na boca de Tatá e condena ditadura

Caetano beija Tatá no 'Lady Night' de hoje / Reprodução

Apontada pelos invejosos como uma Hebe Camargo abusada e pelos aliados (felizmente em número maior) como nova musa dos talk shows, Tatá Werneck tem celebrado boa parte de seus convidados no “Lady Night” com selinhos, uma bitoquinha ligeira de lábios.

Mas a brincadeira não funcionou (ou funcionou para além da conta) com Caetano Veloso, que resolveu lhe tascar um beijo de fato, nada diminuto, de tirar o fôlego.

O baiano é o convidado do dia na abertura desta terceira semana da terceira temporada do programa do Multishow.

Sempre surpreendente, o músico, 76 anos feitos, também se dispôs a fazer flexões no palco, ao justificar que se exercita para recuperar massa muscular.

Flexões no palco, o que ele nunca fez na TV: “Chupa, Bial”, diz a apresentadora

Para quem tem em conta que ali está um maluco beleza que teve ao seu alcance todas as drogas nos anos 1960 e 70, Caetano avisa que nunca tomou ácido.

“Bebi muita cerveja e cachaça, depois deixei a cachaça e fiquei só na cerveja. Mas nunca me liguei às outras drogas. Eu nunca tomei ácido, tomei Ayahuasca (também conhecida como hoasca, daime, iagê, santo-daime e vegetal, uma bebida enteógena). Uma vez, no apartamento, Gil trouxe, animadão, e eu tomei. Realmente eu vi muitas coisas”, disse ele, arrancando gargalhadas de Tatá e da plateia. “Vi corpos de pessoas indianas, homens e mulheres, todos nus, que dançavam formando mandalas, e essas mandalas iam desenhando um rosto, que era o rosto do centro de tudo, um deus, fiquei horas sofrendo por estar maluco e muito consciente de que estava maluco.”

Modesto, fala que não se leva a sério nos resultados alcançados como músico. “Sou muito insatisfeito, não tenho muito talento pra música”, fala, para espanto da plateia.

NA DITADURA

Nas boas conversas mantidas por Tatá Werneck ao longo dessas duas temporadas e meia, certamente nenhum depoimento terá sido mais longo, sem interrupção do que o momento em que Caetano lembra como era a ditadura militar e os riscos que hoje ameaçam o respeito às liberdades no mundo todo, inclusive no Brasil. É bom citar que isso foi gravado antes das últimas eleições brasileiras.

“Essas ilusões a respeito da ordem, da segurança, durante a ditadura, são ilusórias. Durante a ditadura, eu fui preso, fiquei dois meses na cadeia, sendo que uma semana fiquei numa solitária, deitado no chão, com uma porta de ferro, sem que ninguém me dissesse por quê. Não fui interrogado, que havia também desorganização e desrespeito pela pessoa humana, e eu não sofri tortura. Conheço pessoas que sofreram, algumas morreram, foram assassinadas. Tem gente que fica elogiando, achando que era bom, não era bom. Isso eu não admito. O respeito a cada pessoa é um direito que quando se conquista não se deve abrir mais mão, de jeito nenhum, sob nenhum pretexto. Isso tem acontecido no mundo inteiro e está acontecendo no Brasil. É uma neurose. É bom que se ponha pra fora. A gente tem que aguentar o que precisa ser posto pra fora, mas também tem que ter a maturidade de acompanhar. Nós somos um país gigante, de tamanho continental, no hemisfério sul, altamente miscigenado, com a maior quantidade de negros que qualquer país do mundo fora da África, e nós falamos português, não é nem espanhol, e ainda horrivelmente desigual. A distribuição de renda no Brasil é uma tragédia! É a doença da desigualdade. Vem da escravidão, e precisa vir a segunda abolição.”

Esta semana, a lista de entrevistas se estende com Elba Ramalho e Roberta Miranda (terça), Miguel Falabella (quarta), Carlos Alberto de Nóbrega (quinta) e banda Rouge, na sexta.

SOB DEMANDA

Logo após a exibição na TV, o programa estará disponível para assinantes no Multishow Play. A repercussão do “Lady Night” tem engordado com louvor os acessos do programa na plataforma sob demanda do canal. No caso do “Lady Night”, esse comportamento quase se equipara à audiência da TV linear, o que indica que a Globosat percebeu em tempo a necessidade de disponibilizar a programação nessa versão de streaming, sem que isso signifique jamais canibalizar a audiência do canal – ao contrário: o que vale é mensurar o alcance do programa, não importa por qual tela ou transmissão.

 

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Cristina Padiglione

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