Nova novela das 7 envolve plateia na primeira chamada
“Rocky Story”, a nova novela das 7 da Globo, é uma grata surpresa.
Tem o tom direto e reto que a emissora tem buscado em seus folhetins, sempre mastigadinhos para a compreensão imediata do público, antes que ele troque de canal, mas não necessariamente enfia sorvete na testa do espectador.
Nesta quarta-feira, primeiro dia de trama nova, um capítulo ágil já apresentou a mocinha (Nathalia Dill), vítima de um golpe baixo do namorado, mas nem por isso sonsa, que se envolve por acidente com o roqueiro em crise (Vladimir Brichta) com a mulher (Alinne Moraes) e com a música, em duelo com o novo ídolo da juventude (Rafael Vitti). O mais velho tem certeza que o outro lhe furtou uma música, conflito razoavelmente comum nos bastidores fonográficos da vida real, e capaz de mobilizar a atenção de fãs. Só não pareceu verossímil que o lesado, no intervalo de seu próprio show, ouça sua música sendo cantada pelo outro, graças a uma transmissão ao vivo vista na tela de um tablet, pegue então o carro, dirija pelas engarrafadas ruas do Rio e chegue ao backstage do palco adversário ainda durante a canção que promove a discórdia. Quantos minutos tem a canção?
Noves fora, não houve tempo para lágrimas e mimimi. A heroína não hesita em cortar os cabelos e cobrir o loiro com tintura escura, para fugir da polícia e do ex, nem em se atracar com o primeiro sujeito que lhe aparece como tábua de salvação. Sorte dela que era o Vladimir Brichta, e que bom, para ele, que essa figura venha estampada em formato de Nathalia Dill.
A música embala a edição de modo quase orgânico, sem que a barra seja forçada. O ídolo teen se apresenta como os ególatras aclamados por multidões, com sutil toque de ingenuidade, gente que perde noção da escala de valores. A presença em cena de João Vicente, imagem do Porta dos Fundos, maior portal de internet do Brasil, é um potencial chamariz para atrair o público adolescente, aquele que vem abandonando a TV. Outro acerto.
As personagens prezam pelo caráter crível. Herson Capri, o coroa bonitão, cai bem como magnata boa praça do meio fonográfico, vovô que curte rock’n roll, aconselha o genro e leva neta à escola.
Não se pode deixar de reparar no tom lisérgico traçado pela abertura, pop, moderna, com apelo jovem de bom gosto, com a voz de Pitty em nova leitura de “Dê um Rolê”, hit dos Novos Baianos. Temos aí um folhetim que defende a música na linha de frente, mirando uma moçada que não se rende àquelas receitas feitas de lugares comuns adotadas em produções da TV hispânica à nossa volta, como “Rebelde” ou, para ficar numa faixa etária inferior, “Chiquititas” e afins.
Maria Helena Nascimento, a autora, estreia aí como titular, com a direção precisa de Dennis Carvalho e Maria de Médicis. Que o ritmo se mantenha e os romances se imponham, com boa música, amém.