Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Bom Sucesso’ perfura o muro da polarização

Antonio Fagundes e Grazi Massafera protagonizam "Bom Sucesso". Foto: João Cotta/Divulgação

A partir de uma equivocada troca de resultados de exames em que um dos pacientes tem diagnóstico que lhe atribui apenas seis meses de vida, duas figuras de universos totalmente distintos vão sair de suas bolhas, como se diz sobre a atual segmentação da sociedade brasileira, e se permitir conhecer melhor. Entre o espanto de um em relação ao mundinho do outro, os dois vão se descobrir “irmãos de alma”, como diz o diretor Luis Henrique Rios.

Esse é o ponto de partida de “Bom Sucesso”, novela que estreia nesta segunda, 29, na faixa das 19h35 da Globo, com autoria da dupla Rosane Svartman e Paulo Halm, os mesmos de “Totalmente Demais”, sucesso do mesmo horário há três anos.

Alberto (Antonio Fagundes), o paciente terminal que foi poupado de conhecer seu drama logo de cara, é dono de uma editora de livros que reflete esse mercado na vida real: um segmento em crise. Paloma (Grazi Massafera), que por alguns dias conviveu com a falsa ideia de que deixará três filhos órfãos de mãe, é costureira, faz faxina e todo tipo de serviço que lhe garanta uns trocados para abastecer a mesa das crianças.

Em uma situação normal, é bem pouco provável que Paloma tivesse qualquer disposição de conhecer Alberto e vice-versa.

Fagundes: “Sem opinião contrária você vira um imbecil”

Rios ressalta que a novela vai propor “sutilmente” que as pessoas pensem sobre tolerância, inclusão e nadem contra a polarização, mas avisa que não se trata de um produto “panfletário”.

“A gente precisa parar com essa besteira e começar a olhar para o outro”, diz Fagundes, que continua: “O outro é tão importante quanto você. Sem o outro você não existe, sem o outro, você não muda, sem o outro você não cresce, sem opinião contrária você vira um imbecil. Se você só vai se relacionar com quem pensa igual a você, você vira um imbecil, até porque você não tem nem a certeza de o que você está pensando é bom, você precisa ter uma crítica, precisa ter um confronto, precisa ter uma opinião divergente da sua pra pode crescer. E à medida que você cresce com a opinião do outro, o outro cresce com a sua.” “Essa é uma das propostas da novela”, conclui o ator, protagonista da trama, ao lado de Grazi Massafera.

“Essa é uma história sobre a possibilidade de encontro de mundos”, endossa Luís Henrique Rios, o diretor, que também assinou “Totalmente Demais” com os mesmos autores. “De um lado você tem uma personagem que é uma mãe popular, que se vê de frente com um embate que vai aparecer para todos nós, a morte, mas ela recebe uma data, e ela pira. Num lugar onde a necessidade impera, o tempo não tem reflexão.  Suas necessidades passam a ser muito subjetivas. E quando ela descobre quem passa por aquilo de fato, ela descobre um mundo que não é o dela”, diz o diretor.

Rios lembra que “a humanidade não tem distinção”. “Não há lugar de distinção, considerando que somos humanos e sentimos as mesmas coisas, nós construímos várias barreiras, vários arcabouços, mas quando se tira a roupa e se olha no espelho, no finzinho da vida, não tem diferença pra ninguém, é tudo igual. Esse lugar dessa troca desses dois mundos vai fazer com que esses dois mundos se aproximem muito. Um inspirará o outro.”

Inclusão racial

Para além da questão das bolhas de cada um, há uma proposta de inclusão que desfila com o propósito de inserção de negros e de uma miscigenação mais próxima da vida real do que costuma acontecer na maioria das novelas. A primogênita de Paloma é mulata, filha dela com um pai negro, diferente dos irmãos, mais claros, como a mãe. A equipe de direção também reflete isso, com a presença de negros, ainda raros nos staffs de comando da TV e do mundo artístico em geral.

“É uma discussão de inclusão. A gente precisa incluir todo mundo na conversa. Precisa entender as identidades, mas precisa colocar todas as identidades em um lugar de mais democracia, de mais  tolerância, de mais diálogo, de mais aceitação. Se cada um se afirmar em negar o outro, não sobrarão muitos no mundo a viver, afirma Rios.

fala ‘com’, ninguém é dono de uma verdade, todo mundo vai ter que conversar. Tem que ter mais aceitação, os conflitos vão gerar diálogos de reflexaõ, a gente não tá fazendo nenhum panfleto, mas acho que isso é uma história.

 

O elenco conta ainda com Armando Babaioff, Fabíula Nascimento, Rômulo Estrela, Rafael Infante, David Júnior, Ingrid Guimarães, Sharon Menezzes, Lúcio Mauro Filho e Anderson Müller, entre outros.

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Cristina Padiglione

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