Nova série com Maria Bopp, ‘As Seguidoras’ desnuda o glamour das redes sociais
Por trás do maravilhoso mundo do Instagram, onde uma gente desfila em castelos, praias paradisíacas, barcos milionários e se farta em mesas de finas iguarias, um exército de influenciadores briga pelo pão nosso de cada dia, enquanto um batalhão de seguidores se frustra a cada segundo com a obsessão de assistir a uma vida que não lhe pertence.
Profundo conhecedor desse cenário frívolo (mais como espectador do que ator em cena, que fique claro), João Vicente de Castro comprou fácil a ideia de “As Seguidoras”, enredo que lhe foi apresentado por Manuela Cantuária e será visto em série de seis episódios no Paramount+, serviço de streaming da Viacom, com selo de produção do Porta dos Fundos. Calma, ainda não temos data de lançamento. A coisa toda ainda está em produção.
Maria Bopp, atriz que a gente ama ver como a “blogueirinha do fim do mundo”, está na linha de frente dessa história. Ela é Liv, influenciadora digital capaz de levar sua obsessão por ganhar seguidores às últimas consequências, o que a transforma em uma serial killer acima de qualquer suspeita.
Mas como ela está longe de ser a única louca que trafega por esse insano mundo das redes sociais, há outra figura na sua cola, no caso, a podcaster de true-crimes Antonia, papel de Gabza. Ananda (Raissa Chaddad), outra influenciadora digital, tem quatro vezes mais seguidores que Liv, com quem rivaliza, embora as duas vendam a imagem de uma amizade tão irreal quanto o mundo que elas propagam em seus feeds.
“Nunca assinei nada como produtor, mas essa é uma experiência em consequência de um movimento que a gente tem se aprofundando há algum tempo”, explica-me João Vicente. “O Porta vem aglutinando ideias boas de outras cabeças. Como você sabe, somos cinco sócios, homens brancos, e a produção de conteúdo hoje em dia pede que a gente se diversifique, que fale através de mais bocas e que a gente fale a outras pessoas e não se prenda a esse universo micro que a gente vive.”
Manuela Cantuária portanto chega ao Porta não só por ser uma grande escritora e “uma roteirista sensacional”, explica o produtor, “mas também nesse conceito de trazer mulher, preto, nordestino, gêneros diferentes, raças diferentes, para que a gente possa ter uma voz mais diversa”.
“Manu sempre teve esse trablaho muito consistente, uma vontade de trazer o universo feminino pro protagonismo, e tem varias séries que falam sobre isso.” Uma delas é justamente “As Seguidoras”. “E aí eu falei: ‘quero fazer’.”
Alvo de 1,2 milhão de seguidores no Instagram, uma plateia modesta perto da audiência que ajuda a gerar nos vídeos do Porta dos Fundos no YouTube, João Vicente é figura discreta para as proporções dessa rede social. O Instagram é certamente o meio mais próximo do que já foi um dia, e não faz muito tempo, o mundo de Caras e seus castelos.
Mas se antes as revistas de celebridades que vendiam glamour despertavam o movimento de evasão de privacidade de um seleto grupo de artistas, hoje esse time de gente disposta a se expor é infinitamente maior, até porque a vitrine, agora, pertence a eles, e não mais a uma editora, o que reverte cliques em dinheiro no próprio caixa, por meio da publicidade que desfila em seus posts.
Isso acabou gerando um outro ofício, justamente o das personagens de “As Seguidoras”, intitulado “digital influencer”, in english mesmo, pra ficar mais “chique” –ou cafona, a depender do ponto de vista. Em qualquer que seja o caso, o faturamento trazido pelos milhões de seguidores é certo, e é disso que estamos falando.
“Não vai juízo de valor nisso, o trabalho é ser quem é, uma pessoa que ficou famosa por compartilhar um universo que para alguns é atraente, e a pessoa começa a ficar famosa, a ganhar presentes e a compartilhar mais. Quando a gente fala de antigamente [haver um grupo de artistas que se expunha em revistas], falávamos de um ator, um cantor. Hoje isso virou uma profissão, o influencer”, observa João Vicente.
E há dois lados antagônicos nesse universo, em meio a tantas mazelas que se acumulam no Brasil atual: “Ao mesmo tempo que eu acho um pouco nocivo as pessoas que estão sofrendo e numa situação triste, hoje em dia, no Brasil, ao mesmo tempo existe um comportamento de essas pessoas viverem através dos olhos dessas outras pessoas [influenciadoras], que viajam, que vão na classe executiva, que ganham presentes. Tem um cinderelismo moderno que as pessoas vivem atrás dessa ficção que é criada. É uma nova ficção, você fica assistindo a uma pessoa, acompanhando uma existência, acreditando no castelo que a pessoas vive, nas coisas que a pessoa come.”
E continua: “Ao mesmo tempo que tem um alívio projetacional, tem também uma frustração tamanha, vendo aquele corpo que você não pode ter, vendo aqueles carros que você não pode comprar. É uma faca de dois gumes. Se a gente for encomendar um perfil e uma pesquisa de tendências psicanalíticas, vai encontrar danos muito grandes nessa geração que vive de consumir o que não é seu.”
“As Seguidoras” reserva espaço para um certo drama criado pelos crimes da protagonista, costurado ao humor crítico e ácido que cabe nesse universo. Segundo o produtor, podemos esperar sangue, sim. E por que não? Há requintes de terror, mas dosados com “certo charme”, promete: nada que beire uma tensão de “Sexta-Feira 13”.