‘O Começo da Vida 2’: Qual é o ‘Lá fora’ que queremos?
Por Estela Renner e Marcos Nisti
“Hey Senhor, o que você quer dizer com ‘Que mundo maravilhoso’? E todas aquelas guerras em todo o lugar? Você chama isso de maravilhoso? E quanto à fome e à poluição? Isso não é tão maravilhoso também”. Palavras da introdução falada de “What A Wonderful World”, na voz do lendário Louis Armstrong, às quais ele mesmo responde: “Me parece, não é o mundo que é tão ruim. Mas o que estamos fazendo para ele. E tudo que estou dizendo é: veja que mundo maravilhoso seria se apenas lhe dermos uma chance.” Como produtores de conteúdo, trabalhamos com o imaginário, com a criação de novos cenários, e acreditamos que é preciso ser responsável com a imagética do futuro onde queremos chegar, potencialmente maravilhoso.
No filme “O Começo da Vida” (2016), o Nobel da Economia James Heckman fala sobre o amor como parte fundamental da economia. Segundo ele, a estimativa de retorno de investimento na primeira infância é de sete dólares para cada dólar aplicado. O longa foi adotado pelo UNICEF para uma campanha de sensibilização sobre a importância da primeira infância no mundo todo. Aqui, foi o documentário mais visto nos cinemas no ano do seu lançamento.
O segundo longa-metragem da franquia, “O Começo da Vida 2: Lá Fora”, dirigido por Renata Terra, chega no momento em que vivemos um dos maiores desafios da história contemporânea. A pandemia do novo coronavírus nos colocou sob uma perspectiva diferente, onde a necessidade de mudanças ficou ainda mais evidente. De acordo com uma pesquisa divulgada em 2020 pela GlobeScan, mais de 60% dos jovens desejam mudanças estruturais na economia para combater as desigualdades e as mudanças climáticas, e não um retorno ao “normal”. Na América Latina, esse número sobe para 77%. Nesse momento em que a rua ainda representa um risco para a vida, e voltar a se abraçar com segurança é um desejo que une grande parte da humanidade, a provocação é bem-vinda e necessária: como é o lá fora que queremos? Qual é o nosso papel individual e coletivo nessa mudança?
Muitas crianças passam 90% de seu tempo em ambientes fechados. Adoraríamos poder dizer que são dados da quarentena somente, mas não é o que o The National Human Activity Pattern Survey (NHAPS) revela. A velocidade das transformações urbanas insiste em nos separar do mundo lá fora, com a crescente verticalização, uma arquitetura hostil cada vez mais presente, o descaso com a zeladoria em especial nas periferias e o completo abandono de áreas verdes e comunitárias. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cada cidade deve ter, no mínimo, 12m2 de área verde por habitante. Em São Paulo, uma das cidades mais populosas do mundo, cada pessoa tem acesso a apenas 2,4 m2 de natureza.
O resultado não poderia ser outro: nossas crianças estão com doenças crônicas, sedentárias, estressadas, se tornando adolescentes deprimidos e ansiosos, evidenciando a desconexão com o que elas de fato são: natureza. Somos natureza. Nossa sobrevivência depende da interdependência entre todos os seres e com o meio. Vivemos por centenas de milhares de anos, como espécie, integrados com ambientes naturais, inclusive bastante selvagens. No filme, aprendemos com a Dra. Jane Goodall, porta-voz internacional do projeto, que ainda temos tempo de transformar essa realidade para melhor. Ao lado de programas como o das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Bernard Van Leer Foundation, Fundación FEMSA, Criança e Natureza, Children & Nature Network e United Way, e mais de 130 organizações, buscamos gerar um movimento de reconexão com o mundo natural. Vamos?
(*) Estela Renner e Marcos Nisti são profissionais de direção e roteiro da Maria Farinha Filmes, produtora de títulos como “Muito Além do Peso”, “Tarja Branca”, “Criança: a Alma do Negócio”, além de “O Começo da Vida” e “O Começo da Vida 2 – Lá Fora”, e da série “Aruanas”, exibida pela Globo.
A dupla assina este artigo especialmente para o TelePadi.
Serviço:
“O Começo da Vida”
“O Começo da Vida 2 – Lá Fora”
Filme disponível por território:
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